Caminho sem volta

Os últimos acontecimentos do mercado demonstram que retroceder não é uma alternativa para o setor da cannabis. Mas quais serão os próximos passos? É a reflexão que Maria Ribeiro da Luz traz em artigo.

Publicada em 02/06/2022

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Por Maria Ribeiro da Luz

No início do mês de maio aconteceu a primeira edição da Medical Cannabis Fair, um evento dedicado à indústria da cannabis no Brasil. A feira foi organizada com maestria pelo portal de notícias Sechat, e foi incorporada pela Medical Fair Brasil, evento internacional dedicado à área da saúde.

Contando com mais de 11 mil visitantes, o evento presencial  foi um grande sucesso, para a felicidade dos integrantes e entusiastas dessa indústria, que ansiavam por um reencontro ou mesmo uma apresentação presencial, depois de tanta troca on-line, fruto de um longo período de isolamento. Além dos 34 expositores que variavam entre marcas de produtos à base de cannabis e serviços para o setor, o público visitante foi bem diversificado. Entre curiosos, ativistas e aspirantes, lá estavam a maioria dos personagens que edificam e trabalham duro para essa indústria se consolidar no país.

Além do espaço da feira, que esteve lotado em permanência durante os 4 dias de evento, houve também um congresso dividido em dois blocos: Saúde e Negócios. Os palestrantes convidados foram escolhidos à dedo e foram responsáveis por uma troca de alto nível em ambos os blocos. Médicos com diversas especialidades, representantes de associações, empresários brasileiros e internacionais encabeçaram debates dos mais variados temas sempre com foco nessa indústria, que cresce cada dia um pouco mais no nosso país,  enquanto já se apresenta consolidada em países vizinhos como o Uruguai.

Acesso para poucos 

Apesar de já existir uma regulamentação que contempla apenas os fins medicinais, o acesso à cannabis permanece restrito, e ainda não atende às potenciais necessidades e demandas da população do Brasil, com 212 milhões de habitantes, estando disponível apenas para uma pequena parcela dos brasileiros que têm o privilégio de se beneficiar das incontáveis propriedades terapêuticas da planta. Na realidade do nosso país hoje, existem três maneiras possíveis de seguir um tratamento com cannabis: via importação, por meio de associações ou adquirindo um dos produtos hoje disponíveis nas farmácias, caso seu poder aquisitivo permita.

Potencial baseado em dados 

Cabe ressaltar que aqui estamos tratando estritamente do uso medicinal dessa planta, sem mencionar o potencial gigantesco que representa o cânhamo industrial e a cannabis destinada ao uso adulto. Segundo o relatório "Impacto Econômico da Cannabis" elaborado pela Kaya mind, na projeção de um cenário de legalização no Brasil, contemplando uso medicinal, industrial e adulto, a estimativa é que as vendas desses três tipos de produtos totalizariam R$ 26 bilhões após o 4º ano de uma hipotética  regulamentação, sendo R$ 8 bilhões de impostos, com mais de 33 toneladas de óleo consumidas, e milhares de empregos criados. Este cenário parece uma utopia, mas já é realidade em países vizinhos como Colômbia e Uruguai, pioneiro na legalização. 

Caminho sem volta 

Independente de como vai se configurar esse cenário, o que o país precisa é de uma regulamentação que permita o acesso justo e inclusivo para que a população brasileira possa se beneficiar das incontáveis propriedades terapêuticas da planta. Se porventura algum leitor desta coluna ainda não esteja convencido: as flexibilizações regulatórias têm acontecido globalmente, demonstrando que a consolidação da indústria da cannabis no Brasil não se trata mais de uma questão de "SE", e sim uma questão de "QUANDO". Esse mercado já existe no país, mas ainda está engatinhando por aqui…A notícia boa? Em breve essa indústria andará a passos largos, pois é um caminho sem volta e ela veio para ficar.

As opiniões veiculadas nesse artigo são pessoais e não correspondem, necessariamente, à posição do Sechat.

Sobre a autora:

Maria Ribeiro da Luz é fundadora da Anandamidia, uma empresa especializada em mídias diversas para cannabis, que opera entre Brasil e Canadá. Maria está imersa no universo da cannabis no Canadá, e em suas colunas, aborda ciência, história e inovações do mercado norte americano, com o intuito de fortalecer a causa no Brasil.