Cannabis medicinal, também uma questão de comunicação

Como o debate sobre os usos da cannabis podem ser ampliados no Brasil?

Publicada em 01/08/2022

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Por Patrícia Vilela Marino

Uma pesquisa realizada no mês de julho de 2022 pelo PoderData nos dá uma triste notícia sobre a percepção da sociedade em relação à cannabis: aumentou o número de brasileiros que rejeitam a sua liberação para fins medicinais e terapêuticos no Brasil. Em janeiro, este número era de 26% e agora é de 37%. Recentemente no Provoca – programa do jornalista Marcelo Tas – a doutora Carolina Nocetti, coordenadora Internacional da American Academy of Cannabinoid Medicine, dizia: "cannabis é um desafio de comunicação". 

Por um lado, é claro que este aumento da rejeição é reflexo, também, da maior visibilidade do assunto. Já há produtos à base de canabidiol e outros derivados da cannabis vendidos em farmácias e lojas de cosméticos no país; há mais debates sobre a cannabis na imprensa brasileira e cada vez mais cientistas, ativistas e outros setores interessados do mercado estão aderindo à conversa.

A pesquisa mostra que esta rejeição diminui conforme o grupo seja mais escolarizado, mas, para além deste dado, em linhas gerais não passa de 60% da população os que apoiam a legalização da cannabis medicinal, seja entre mulheres ou homens; mais jovens ou mais idosos; de pouca ou muita renda, de todas as regiões do país. 

Casos como o do estado do Colorado, nos Estados Unidos, que foi um dos primeiros a descriminalizar o uso medicinal da cannabis, também são um exemplo da importância da comunicação para esclarecimento da população. Como também lembrou a Dra. Carolina na conversa com Marcelo Tas, foram os cartazes de efeito, com mensagens simples e assertivas espalhados pelas ruas de cidades do Colorado que ajudaram na conscientização da população em relação à liberação da planta. 

Pois bem: para além de decisões judiciais como a do mês de junho – em que pela primeira vez uma instância superior de Justiça autorizou o cultivo da cannabis medicinal para três pessoas – é preciso que também trabalhemos no debate público e no esclarecimento da população, no sentido mais amplo possível, em relação aos benefícios deste tratamento.

Nós já temos, como lembra o cientista Stevens Rehen, uma das maiores produções científicas do mundo sobre cannabis. Temos discutido também na Assembleia Legislativa de São Paulo, onde está acontecendo uma série de audiências públicas da Frente Parlamentar em Defesa da Cannabis Medicinal e Cânhamo industrial, lideradas pelo Deputado Sergio Victor (Partido Novo) e outros deputados e deputadas.

Mas a chegada do assunto ao legislativo e ao judiciário vem muito mais potente quando a população adere e debate – com argumentos, conhecimento, sem preconceitos.

Como ampliar nosso debate? Fica o convite e sugestão. 

As opiniões veiculadas nesse artigo são pessoais e de responsabilidade de seus autores.

Sobre a autora:

Patrícia Villela é advogada, empresária, ativista, colunista Sechat e presidente do Instituto Humanitas360, organização não governamental que visa reabilitar pessoas que estão, ou foram presas.