A importância da orientação médica
Interação medicamentosa em pacientes que consideram o uso dos derivados da cannabis
Publicado em 07/04/2024As palavras “Interação Farmacêutica” e “Interação Medicamentosa” são frequentemente utilizadas de forma intercambiável, mas podem ter nuances ligeiramente diferentes em alguns contextos. Vamos explorar as diferenças.
Interação Farmacêutica: Refere-se a qualquer interação que envolve produtos farmacêuticos ou substâncias que têm efeitos no corpo humano, incluindo medicamentos, suplementos, fitoterápicos e outros produtos relacionados à saúde.
- Interação Medicamentosa: Uma interação medicamentosa é uma subcategoria específica de interação farmacêutica que se concentra principalmente em interações entre medicamentos, ou seja, como dois ou mais medicamentos interagem quando tomados simultaneamente. Gira em torno da forma como os medicamentos interagem entre si no corpo, afetando a eficácia, segurança ou efeitos colaterais uns dos outros. Essas interações podem ocorrer entre medicamentos prescritos, medicamentos sem receita médica (como os de venda livre) e até mesmo entre medicamentos e substâncias como alimentos ou bebidas alcoólicas.
Ambos os termos são importantes em saúde, pois compreender como diferentes produtos farmacêuticos interagem é crucial para garantir a segurança e eficácia dos tratamentos.
Interações farmacodinâmicas: Ocorrem quando dois medicamentos com mecanismos de ação semelhantes ou opostas são tomadas juntos, resultando em um efeito aditivo, sinérgico ou antagonista.
- Interações farmacocinéticas: Envolvem alterações nos processos de absorção, distribuição, metabolismo ou eliminação de um medicamento, influenciando na concentração no organismo bem como sua eficácia.
O aumento do consumo de cannabis e as recentes aprovações do número de produtos no mercado nacional, colocam novos desafios para evitar interações medicamentosas entre produtos de cannabis e medicamentos convencionais, alimentos, suplementos e plantas medicinais.
A interação entre medicamentos e canabinoides, como os encontrados na cannabis, é um campo que ainda está sendo amplamente pesquisado e compreendido. Os canabinoides podem afetar as enzimas envolvidas no metabolismo de várias substâncias.
As enzimas do sistema CYP450 (isoformas 3A4, 2C19, 2C9, 2C8/9), UGT (1A9, 2B7), BCRP, BSEP e CES1 desempenham um papel crítico no metabolismo de uma ampla variedade de medicamentos, suplementos, plantas medicinais e alimentos. Isso significa que, se os canabinoides alteram a atividade dessas enzimas, isso pode ter um impacto significativo na eficácia e segurança dos medicamentos, por exemplo, que uma pessoa está utilizando.
No entanto, é importante ressaltar que, devido à complexidade do sistema de enzimas do corpo e às diversas substâncias encontradas na cannabis, os efeitos específicos das interações medicamentosas podem variar dependendo do tipo de canabinoide, a dose, a forma de administração e a genética individual. Aí está a importância do Acompanhamento Farmacoterapêutico, para que o tratamento tenha sucesso.
Como sempre, qualquer pessoa que esteja considerando o uso de canabinoides em conjunto com outros medicamentos deve consultar um profissional de saúde. Eles podem fornecer orientações específicas com base na situação individual do paciente e na condição de saúde. Além disso, a supervisão médica é especialmente importante para garantir a segurança e a eficácia do tratamento.
Referências:
Balachandran, P., Elsohly, M. & Hill, K.P. Cannabidiol Interactions with Medications, Illicit Substances, and Alcohol: a Comprehensive Review. J GEN INTERN MED 36, 2074–2084 (2021). https://doi.org/10.1007/s11606-020-06504-8
Brown JD. Potential Adverse Drug Events and Drug – Drug Interactions with Medical and Consumer Cannabidiol (CBD) Use. J Clin Med. 2019;
Brown JD. Potential Adverse Drug Events with Tetrahydrocannabinol (THC ) Due to Drug – Drug Interactions. J Clin Med. 2020; 9.
Professora, Pesquisadora Mestre em Psicossomática, Farmacêutica, Professora e pesquisadora na área de Cannabis Medicinal e Fitoterapia. Atuação: Curso de Farmácia e Psicologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie; do Instituto Homeopático e das Práticas Integrativas - IHPI; da Escola de Educação Permanente – Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP; da LINCS Desenvolvimento Humano.