Cannabis Medicinal: A Seleção Natural do Mercado Brasileiro

Cannabis Medicinal: A Seleção Natural do Mercado Brasileiro

Para Grecco, mercado de cannabis entra em fase de sobrevivência | CanavPro

Publicado em 21/09/2025

 

Vou ser direto: o mercado brasileiro de cannabis medicinal está entrando na sua fase mais darwiniana. A gente tem mais de 500 empresas brigando pelos mesmos pacientes, ticket médio caindo 7% mesmo com o mercado crescendo 22%, e uma pressão por preço que já virou corrida para o fundo. Não adianta ficar se iludindo — não é sobre crescer mais, é sobre sobreviver até a regulamentação se acertar de vez.

A real é que a maioria dessas empresas não vai passar dos próximos dois anos. É mais ou menos como aquela situação do futebol — todo mundo quer jogar, mas nem todo mundo tem estrutura para aguentar uma temporada inteira. A diferença é que aqui não tem rebaixamento, tem fechamento mesmo.


O Cenário Atual: Mar Vermelho Temporário

 

 

Olha, já passei por mercado desregulamentado antes, e posso garantir: esse "mar vermelho" que a gente vive hoje é temporário. A RDC 660 criou um modelo que funcionou para democratizar o acesso, mas virou uma guerra de preço insustentável. Quando você tem 500 players fazendo a mesma coisa — facilitar importação — o único diferencial que sobra é o preço. E competir só por preço é suicídio empresarial.

A proposta de revisão da RDC 327 vai acelerar esse processo. Receita branca para produtos com menos de 0,2% de THC significa que 80% dos pacientes da RDC 660 podem migrar para farmácias. É como tirar o tapete de quem está em cima dele.

 

A Seleção Natural em Ação

 

 

A gente já está vendo os sinais. Empresas que entraram achando que ia ser fácil estão saindo. Quem apostou só em volume está quebrando. E as que estão focadas apenas em preço vão ser as próximas, porque sempre vai aparecer alguém disposto a operar no zero a zero.

Vou contar uma coisa: nos últimos seis meses, recebi pelo menos 15 ligações de empresários querendo vender o negócio ou buscando fusão. O pessoal está percebendo que não dá para sustentar margens negativas esperando que o volume compense.

Quem Vai Sobreviver: Os Critérios Darwin

 

As empresas que vão passar dessa fase têm algumas características específicas:


Compliance Impecável: Não adianta improvisar com regulamentação. Quem não tem compliance estruturado vai ser eliminado na primeira fiscalização mais rigorosa. É como construir uma casa sem alicerce — aguenta um tempo, mas quando vem a chuva forte, desaba.

Nicho Real: Falar que vai focar em "atendimento diferenciado" não é nicho. Nicho é quando você atende pacientes pediátricos com epilepsia refratária e nenhuma outra empresa consegue replicar seu protocolo. É especialização que vira barreira de entrada natural.

Reserva de Guerra: A fase darwiniana não perdoa quem está no limite do fluxo de caixa. Empresas que conseguiram guardar recursos nos últimos dois anos têm munição para aguentar a consolidação e ainda fazer aquisições estratégicas.

Relacionamento Médico: Não é sobre ter uma lista de médicos parceiros. É sobre ser a primeira ligação que o neurologista faz quando tem um caso complexo. Isso se constrói com anos de trabalho sério.

 

O Oceano Azul Pós-Regulamentação

 

A questão não é se a regulamentação vai se consolidar, mas quando. E quando isso acontecer — seja com o cultivo nacional aprovado, seja com a RDC 327 simplificada — o mercado vai se reconfigurar completamente.


As empresas que sobreviverem à fase darwiniana vão encontrar um oceano azul pela frente. Menos competidores, regras mais claras, pacientes mais educados e prescritores mais confiantes. É como sair de uma guerra e entrar numa economia de paz — quem tem estrutura aproveita muito melhor.

Por exemplo, quando o cultivo nacional for aprovado, quem já tem relacionamento consolidado com médicos e pacientes vai conseguir fazer a transição para produtos nacionais sem perder base. Quem compete só por preço vai descobrir que os produtos nacionais vão ser ainda mais baratos, e aí não vai ter para onde correr.

 

A Estratégia de Sobrevivência

 

A real é que a estratégia agora é defensiva. Cortar custos desnecessários, focar no que dá resultado, parar de queimar dinheiro em marketing que não converte.

A gente tem que entender que crescimento acelerado neste momento pode ser mais perigoso que crescimento controlado. É melhor ter uma empresa menor mas sustentável do que uma operação grande que quebra na primeira turbulência.

E principalmente: parar de acreditar em milagre. A regulamentação não vai resolver todos os problemas da noite para o dia. Quem está esperando isso sem se preparar vai ser mais uma baixa no processo de seleção natural.

 

Próximos Movimentos

 

Nos próximos 18 meses, vamos ver uma consolidação acelerada. Fusões, aquisições e fechamentos vão ser rotina. As empresas que conseguirem se posicionar estrategicamente — seja comprando concorrentes em dificuldade, seja desenvolvendo capacidades únicas — vão sair fortalecidas.

É mais ou menos como o que aconteceu com o mercado de e-commerce depois da bolha de 2001. Quem aguentou a crise e se adaptou virou gigante. Quem não tinha fundamento desapareceu.

O mercado de cannabis medicinal brasileiro vai ser imenso — R$ 1 bilhão é só o começo. Mas vai ser dominado por poucas empresas bem estruturadas, não por centenas de facilitadores fazendo a mesma coisa.
A pergunta que cada empresário do setor precisa se fazer é simples: quando a música parar, você vai ter uma cadeira para sentar?

 

O Próximo Capítulo

 

Mas vou contar uma coisa: quem enxergar isso como oportunidade, e não só como ameaça, vai sair na frente. A gente está vivendo o momento de definição de quem vai liderar o próximo capítulo da cannabis medicinal no Brasil.

Imagina o que vai acontecer quando tivermos 2 milhões de pacientes, cultivo nacional regulamentado e médicos prescrevendo sem medo. As empresas que se prepararem hoje — com compliance sólido, relacionamento médico verdadeiro e operação sustentável — vão estar na primeira fila dessa transformação.

A real é que a seleção natural não é só sobre eliminar os mais fracos. É sobre fortalecer quem tem visão de longo prazo. E no mercado brasileiro de cannabis, ainda estamos escrevendo as primeiras páginas da história.

Os que entenderem que este momento de pressão é preparação para liderança futura vão ser exatamente os que vão definir como esse setor vai operar pelos próximos 20 anos.


 

 Biografia do Autor Marcelo de Vita Grecco
Marcelo de Vita Grecco

Marcelo De Vita Grecco é consultor, mentor, advisor e cofundador da The Green Hub.