
Cannabis medicinal: o que falta ensinar para quem cuida?
Cannabis medicinal: você sabia que muitos profissionais de saúde ainda não têm formação adequada para orientar pacientes sobre o uso de CBD? Educação é o primeiro passo para garantir cuidado seguro e baseado em evidências
Publicado em 26/10/2025Também participam deste artigo: Prof. Dr. Marcelo Polacow Bisson, Faculdade de Ciências Farmacêuticas da UNICAMP, @lafatecs.unicamp
A realidade já chegou às farmácias e consultórios
A presença de produtos à base de Cannabis sativa nas mãos da população é uma realidade. Mas será que nossos profissionais de saúde estão realmente preparados para orientar o paciente que chega com uma prescrição de óleo de CBD? A resposta, infelizmente, ainda é “não”.
Um currículo ainda defasado
Embora o uso medicinal da cannabis avance em diferentes frentes, a formação dos profissionais que estarão na linha de frente desse cuidado segue defasada. As Diretrizes Curriculares Nacionais dos cursos da área da saúde mencionam “fitoterápicos” e “plantas medicinais”, mas raramente citam a Cannabis sativa de forma explícita. O tema aparece de forma pontual e sem conexão com a prática clínica na maioria dos cursos de graduação.
Quando o aprendizado vem tarde demais
O resultado é conhecido: farmacêuticos, médicos, enfermeiros e outros profissionais acabam aprendendo sobre o tema na hora do “vamos ver”, quando o paciente já está diante deles. Esse descompasso entre a regulamentação e a educação pode significar uma ameaça à segurança do paciente.
Lições de outros países
Em países como Canadá, Israel e Austrália, o ensino sobre cannabis medicinal é parte da grade curricular obrigatória. Um estudo publicado nos Estados Unidos reportou que mais de 60% das faculdades de farmácia incluem módulos formais sobre cannabis, e outras tantas planejam fazê-lo em breve. A ênfase é sempre a mesma: farmacovigilância, raciocínio clínico e uso baseado em evidências. O maior interesse sobre o tema aparece nos estados onde há políticas para o uso medicinal da cannabis [1].
O Brasil ainda caminha lentamente
No Brasil, ainda dependemos de cursos de extensão e de iniciativas isoladas de conselhos e associações. No entanto, a demanda por formação é evidente, tanto entre estudantes quanto entre profissionais já atuantes.
Formação é o primeiro passo para o uso seguro
Se queremos garantir um uso seguro, racional e fundamentado da cannabis medicinal, precisamos começar pelo ensino. Formar profissionais preparados é o primeiro passo para assegurar que cada paciente receba orientação adequada.
Mais que tendência, uma nova fronteira
Cannabis medicinal não é moda. É uma nova fronteira do cuidado em saúde.
[1] Smithburger PL, Zemaitis MA, Meyer SM. Evaluation of medical marijuana topics in the PharmD curriculum: A national survey of schools and colleges of pharmacy. Curr Pharm Teach Learn. 2019 Jan;11(1):1-9. doi: 10.1016/j.cptl.2018.09.022.

Priscila Gava Mazzola*, é professora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade Estadual de Campinas (FCF/Unicamp). Formada pela USP/SP, com doutorado em tecnologia-bioquímica farmacêutica e habilidades aprimoradas no MIT. Dra. Priscila também é especialista em medicamentos tópicos e transdérmicos, utilizando em seus trabalhos ativos naturais (inclusive resíduos) e sintéticos. Atualmente explora os poderes terapêuticos da cannabis medicinal, desenvolvendo novos medicamentos para ampliar o arsenal terapêutico nacional.
