Cannabis: Uma inspiração Social-Democrata
Com olhares voltados para a nova inteligência artificial como assessoria e comunicação, o nível de exigência aumenta
A sociedade brasileira começa a surfar em uma onda de maior consciência coletiva e re-prazer, reconhecendo e reivindicando práticas ancestrais como medicina. A cannabis vem como protagonista na nova era de compreensão, liberdade e repatriação. Bem como os cogumelos, trazendo uma nova cor ao já conhecido verde-amarelo, combinações de roxo e outros tons inesperados dos tricomas da planta.
De fato, o consumidor está mais informado, exigente e reivindica liberdade por meio de uma medicina. Enquanto as iniciativas empresariais tentam construir conceitos e terreno, criam artimanhas e estão à espreita de decisões, em meio a ciranda de erros e acertos, cabe ao cidadão tornar-se exigente aos princípios e possibilidade de acesso, entendendo sobre valor compartilhado: é o surgimento de uma realidade diferente.
A bioinspiração (observação da natureza) pode ser um novo conscientizador para a percepção – em grande parte equivocada – já constituída. Também norteador para uma robótica próxima ao politicamente correto e comprometida com a previsão de um futuro menos caótico.
Com olhares voltados para a nova inteligência artificial como assessoria e comunicação, o nível de exigência aumenta. Se não falarmos sobre restrição econômica, a procura pelo valor compartilhado de melhores produtos e soluções estará cada vez mais real e presente, um desejo do consumidor. A questão social entra em pauta, inspirada pela música e empoderamento de uma contracultura que dá força a carência de uma sociedade corrompida.
Nacionalmente, mesas e opiniões estão sendo convocadas, com especialistas que serão responsáveis pelo que será instituído. Políticos tentam levantar-se junto com a bandeira. Já que demoramos tanto, existem questões que devem ser repensadas para criar valores em uma nova era, e nada melhor do que iniciar através da voz governamental. Uma revisão profunda e realista da maneira pela qual a cadeia de consumo afeta a saúde da população e o meio ambiente, deve ser realizada. Só é preciso tomar cuidado para que o cidadão não aceite determinadas vitórias como forma de alienar-se a outras questões.
Com consciência sobre os padrões a que o mundo se submeteu, valores universais deveriam talvez embasar as novas diretrizes com o intuito de construir e unir para um futuro melhor. E isto fazendo jus a toda forma de produção. Sem dúvida, a transparência e escuta deve ser ministrada pelos governantes como estratégia. Além de toda uma reconfiguração de estruturação social sobre a percepção e andar da criminalidade em território brasileiro.
Novos conceitos, espécies e superação de padrões
As práticas ancestrais que saíram da obscuridade do empirismo ainda são consideradas “modernas” ou “alternativas” no linguajar cultural. Reivindicam progresso comunitário e individual seguindo preceitos humanos e ambientais. Ocupando o espaço “hype” da mídia e caindo na mente do cidadão.
Afinal, quanto vale o código de barras no rosto de cada um?
Quem os está controlando?
Esta história reaviva o instinto coletivo de liberdade de expressão e de direitos dos seres vivos. A metodologia empregada pela indústria farmacêutica na revolução industrial, tomando força em períodos de guerra, traz uma referência similar à “Revolução dos Bichos”: o domínio, o controle e estímulo do consumo.
Utilizou a mesma arma com a qual hoje se fere: a publicidade e informação que circulam diversificadas e livres por meio da internet,dão intensidade ao grito democrático.
Assim como o ser humano, as plantas experimentam alterações em seu genoma por meio da epigenética. O tempo todo, dia a dia, com aquilo que se tem contato: alimentos, medicinas, agentes químicos, agrotóxicos ou simplesmente, o ar. A qualidade dos produtos utilizados como terapias de saúde deve ser, portanto, priorizada, já que são ervas que provavelmente farão parte de uma rotina do nosso organismo, em profundo contato. Já tiveram e seguem tendo alterações genéticas suficientes, em um caso de sobrevivência simbiótica com o ser humano. Melhores produtos, melhores certificações, espaço para uma nova economia que gera empregos em um lugar sustentável. Os únicos que estão enxergando isso até o momento são os outros países. Está na hora de incentivar a produção nacional de forma correta, capacitando-a a efetuar vendas ao mercado internacional.
Relativo ao plantio, que seja o mais correto possível, e por que não, através de uma bela repatriação histórica?
Se a utopia de uma sociedade melhor se mantém assim como conceitua-se, distante, por que não utilizar de um pensamento de distopia para evoluir a sociedade como um todo?
Se formos pensar em óleo medicinal, por que não priorizar os óleos full spectrum integrais ao invés de sintéticos?
Ressignificando a cadeia produtiva e o sistema de geração de empregos, incentivando a pesquisa e a obtenção de canabinoides de outras plantas que não a cannabis e quebrando a lógica. O verdadeiro progresso estará embasado muito mais nas respostas e nos benefícios, do que em certificados comprados emitidos por big players. Se agrotóxicos ou defensivos geram autismo e depressão, não podemos realizar tratamentos com óleos que tiveram sua matéria prima cultivada da mesma forma. Bandeiras verdes (e hoje custosas) em meio a uma guerra fria.
Enquanto belos e vermelhos jardins de Papoulas são proibidos, plantações militarizadas de Coca povoam países onde a máfia tem maior poder que o Estado, cafezinhos são o carinho servido por grandes escritórios de corporações e a indústria de destilados e fermentados mantém sua solidez. As culturas indígenas lutam por um espaço ideológico por meio de cactos, cipós e ervas – enquanto se submetem a maus acordos e a uma vitrine social (qual seria a outra opção, afinal?). Fungos e cogumelos crescem em caixas com temperaturas controladas e meia luz, chamando a atenção de pacientes, profissionais e estudantes da área da saúde. E de chocolatiers especializados.
Mas vê-se ainda caixas de Venvase no meio fio das ruas, e o ridiculamente nomeado Concerta devorando mentes potenciais criativas em meio a um looping – dos padrões de consumo e ditadura empresarial. Em meio a ironia do novo e do antigo, como levantar e organizar padrões antigamente derrubados e reinseri-los na sociedade? Cultura e informação reconfiguram e solidificam pilares.
É cirurgiã-dentista, formada há 31 anos pela UNITAU, pós-graduada em Periodontia, Implante e Pediatria. É dentista do CECMedic (Centro de Excelência Canabinoide) e membro da SBEC (Sociedade Brasileira de Estudos da Cannabis) e professora da Sechat Academy.