Evidências de eficácia dos canabinóides na administração sobre a pele

Evidências de eficácia dos canabinóides na administração sobre a pele

Produtos tópicos são delineados para aplicação diretamente na pele ou mucosas para obter um efeito local

Publicado em 18/08/2024

Sempre com o intuito de nortear pesquisas inovadoras, recentemente conduzimos um levantamento bibliográfico acerca das evidências de eficácia dos canabinóides CBD e THC na administração sobre a pele. O artigo está organizado por patologia ou queixa e, dentro de cada item, revisitamos resultados publicados que indicam eficácia e segurança dos canabinóides.

Produtos tópicos são delineados para aplicação diretamente na pele ou mucosas para obter um efeito local. Produtos transdérmicos também são aplicados na superfície da pele ou mucosas, com o objetivo de atravessar a barreira cutânea e atingir a circulação sistêmica, proporcionando efeito terapêutico em todo o corpo. A administração de produtos na/pela pele pode oferecer vantagens, como maior aceitação do paciente e maior biodisponibilidade, além de evitar o metabolismo hepático.

Sabemos que a Cannabis e/ou seus compostos ativos têm várias propriedades farmacológicas, incluindo anti-inflamatória, antioxidante e antinociceptiva (que modificam as sensações dolorosas), que têm potencial para ser aproveitadas em diferentes doenças, mas o uso ainda pode ser limitado em países onde há questões regulatórias e legais relacionadas à planta.

Neste levantamento, o CBD demonstrou potencial no tratamento e prevenção de várias condições, como dermatite atópica, epidermólise bolhosa e pioderma gangrenoso. O uso de CBD também mostrou eficácia em uso oftalmológico, no manejo da pressão intraocular e hiperalgesia corneana. Além dos efeitos conhecidos, como o manejo de dores relacionadas a inflamações, como osteoartrite e colite, e a atividade neuroprotetora, destaco ainda o potencial de formulações contendo CBD serem empregadas em processos de cicatrização de feridas, uma vez que podem estimular a proliferação e migração de fibroblastos, células essenciais para a reparação tecidual.

Quando buscamos informações a respeito da associação de CBD com THC em uso tópico, a literatura indica que essa combinação melhora os efeitos farmacológicos, sugerindo que a sinergia entre esses compostos pode melhorar os resultados do tratamento e minimizar eventos adversos. Essa combinação pode ser particularmente benéfica em ambientes clínicos.

O THC é conhecido por suas propriedades analgésicas e anti-inflamatórias, que podem ajudar a reduzir a dor associada às feridas, melhorando o conforto do paciente durante o processo de cicatrização.

Em modelos animais, a aplicação tópica de CBD e THC demonstrou resultados promissores na aceleração da cicatrização de feridas e na redução da inflamação. Entretanto, ainda são necessários mais ensaios clínicos para estabelecer a eficácia e segurança dos canabinoides na cicatrização de feridas em humanos, especialmente em populações vulneráveis ou com condições preexistentes.

Vale dizer que a revisão apontou a existência de um número limitado de estudos focados na administração tópica de CBD, indicando a necessidade de mais pesquisas para compreender plenamente seu potencial e otimizar seu uso na prática clínica. O planejamento de formulações inteligentes é essencial para a absorção e a eficiência do tratamento, destacando a relevância de novas abordagens, como o uso de tecnologias farmacológicas, para melhorar a atividade e a eficácia do CBD.

O artigo “Evidence of Cannabidiol Effectiveness Associated or Not with Tetrahydrocannabinol in Topical Administration: A Scope Review” pode ser lido na íntegra aqui:  https://doi.org/10.3390/ph17060748

Imagem do colunista Prof. Dra. Priscila Gava Mazzola
Prof. Dra. Priscila Gava Mazzola

Priscila Gava Mazzola*, é professora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade Estadual de Campinas (FCF/Unicamp). Formada pela USP/SP, com doutorado em tecnologia-bioquímica farmacêutica e habilidades aprimoradas no MIT. Dra. Priscila também é especialista em medicamentos tópicos e transdérmicos, utilizando em seus trabalhos ativos naturais (inclusive resíduos) e sintéticos. Atualmente explora os poderes terapêuticos da cannabis medicinal, desenvolvendo novos medicamentos para ampliar o arsenal terapêutico nacional.