Império da dor, dos opióides à cannabis

Império da dor, dos opióides à cannabis

Revolucionando a abordagem terapêutica com plantas medicinais

Publicado em 15/01/2024

Por André Skortzaru

 

A sociedade contemporânea foi programada para pensar que a maconha é a porta de entrada para outras drogas pesadas. Este mito, infelizmente popular no mundo inteiro, se tornou a “verdade” para pessoas conservadoras e leigas, através da repetição exaustiva, manipulação do sistema legal e setores da mídia, indústria e religiões. 

 

Por outro lado, temos drogas legais superpotentes que, comprovadamente, podem levar ao vício e condições de saúde e vida degradantes. Não, não estou falando do álcool ou tabaco, me refiro ao opioide oxicodona (Oxycontin), medicamento responsável pela crise de opioides, heroína e fentanil nos EUA, estrela de documentários e minisséries na Netflix e HBO.  

 

Esta semana, assisti a série “Império da Dor” (painkiller) na Netflix e resolvi contar a história de como eu consegui me livrar da oxicodona, produzindo a minha própria medicina à base de cannabis, seu composto canabidiol (CBD) e outras plantas medicinais. 

 

 

 

 

Em 2018 tive uma hérnia de disco rompida L5S1 que além de me paralisar fisicamente, me causava uma dor crônica aguda que afetava a minha mente e emoções. Havia tentado vários tipos de terapias, tratamentos e medicamentos alopáticos para a dor, sem resultados, até me consultar com um neurocirurgião de São Paulo, onde consegui uma “salvação”, o Oxycontin.  

 

O medicamento é um poderoso analgésico opioide que promete eliminar a dor crônica e, graças a uma milionária campanha de marketing e de cooptação de uma rede de médicos no fim dos anos 90, tornou-se uma das drogas mais populares nos EUA, receitada e utilizada como se fosse um “dorflex”, não apenas para doenças graves ou dores crônicas intensas, mas em praticamente qualquer situação que envolva o mínimo desconforto físico.  

 

Apesar de funcionar bem no início, o Oxycontin é altamente viciante, me deixava “chapado”, sem motivação, sem dor, sem vontade, já que tem propriedades e estrutura molecular muito próximas às da heroína.   

 

Após mais de um ano tomando a oxicodona, senti que precisava mudar este padrão quase viciante, procurar medicinas e terapias naturais, e foi assim que passei a pesquisar a cannabis.  

 

Procurei um médico fisiatra especialista em dor e sistema endocanabinóide e iniciei o tratamento com CBD. Contudo, o alto custo do óleo importado me levou a plantar a cannabis e produzir o óleo e extratos que associei ao uso de plantas medicinais ancestrais.  

 

Mudei o meu contexto, meu padrão de pensamento e com a cannabis, encontrei a cura para a dor e também um propósito de vida, o ativismo pela disseminação da medicina canábica para todos.  

 

O conhecimento e a experiência me libertaram de “falsas verdades”, e, hoje, sei que a maconha pode ser uma aliada no combate ao abuso de medicamentos e ao crescente uso de opióides. Liberte-se também. 

Imagem do colunista André Skortzaru
André Skortzaru

André Skortzaru é especialista em cannabis medicinal, advogado e presidente da CAA-Cannabis Amiga Associação.