O futuro promissor da cannabis medicinal no Brasil: avanços necessários no PL 399
A utilização da planta tem se expandido de forma significativa em todo o mundo, trazendo alívio para pacientes com uma ampla variedade de condições médicas
No Brasil, o Projeto de Lei 399, que trata da regulamentação da cannabis medicinal, está em discussão e apresenta uma oportunidade crucial para avançarmos nesse campo, tais como:
• Regulamentação abrangente e acessível;
• Pesquisa e desenvolvimento;
• Acesso equitativo;
• Treinamento médico;
• Qualidade e segurança dos produtos;
• Ampliação da lista de condições tratáveis;
• Cultivo doméstico para uso pessoal;
• Criação de cooperativas de cultivo;
• Promoção da indústria nacional;
• Educação pública sobre cannabis medicinal.
Neste artigo, explicaremos essas propostas de melhorias e avanços que devem ser contempladas no PL 399, visando um futuro promissor para a cannabis medicinal no Brasil.
Regulamentação abrangente e acessível:
É fundamental que o projeto de lei estabeleça uma regulamentação abrangente, mas também acessível, para a cannabis medicinal. Isso inclui a definição clara das condições médicas que podem ser tratadas com cannabis, a criação de um processo simplificado para obtenção de autorização médica e o estabelecimento de critérios justos para o cultivo e produção de cannabis medicinal.
Pesquisa e desenvolvimento:
O PL 399 deve incentivar fortemente a pesquisa científica sobre a cannabis medicinal no Brasil. Isso pode ser feito por meio da criação de fundos específicos para financiar pesquisas clínicas, a concessão de incentivos fiscais para empresas e instituições de pesquisa engajadas nessa área e a facilitação do intercâmbio de conhecimentos com países que já possuem experiência consolidada.
Acesso equitativo:
Para que a cannabis medicinal seja verdadeiramente benéfica, é imprescindível garantir o acesso equitativo a todos os pacientes que dela necessitam. O PL 399 deve prever mecanismos para reduzir os custos do tratamento, como a possibilidade de reembolso pelo Sistema Único de Saúde (SUS), especialmente para pacientes de baixa renda.
Treinamento médico:
É essencial oferecer treinamento adequado aos profissionais de saúde sobre o uso da cannabis medicinal. O projeto de lei pode incluir a criação de programas de capacitação, cursos e workshops para médicos, enfermeiros e farmacêuticos, visando fornecer-lhes conhecimento atualizado e embasados em evidências científicas.
Qualidade e segurança dos produtos:
Para garantir a eficácia e a segurança dos produtos à base de cannabis medicinal, o PL 399 deve estabelecer padrões rígidos de qualidade, tanto para os produtos importados quanto para os nacionais. Isso inclui a criação de uma agência reguladora específica, a definição de requisitos de boas práticas de fabricação e a implementação de testes laboratoriais rigorosos.
Ampliação da lista de condições tratáveis:
O PL 399 deve ser abrangente ao incluir uma lista ampliada de condições médicas que podem ser tratadas com cannabis medicinal. É necessário considerar evidências científicas atualizadas e ouvir especialistas para garantir que pacientes com diferentes enfermidades, como epilepsia, dor crônica, esclerose múltipla, câncer e transtornos neuropsiquiátricos, possam se beneficiar do uso da cannabis medicinal.
Cultivo doméstico para uso pessoal:
O projeto pode contemplar o cultivo doméstico da cannabis medicinal para uso pessoal, desde que sejam estabelecidas diretrizes claras e rigorosas para garantir a segurança, a qualidade e a quantidade permitida. A medida pode contribuir para a autonomia dos pacientes e reduzir custos, além de evitar a dependência excessiva de importações.
Criação de cooperativas de cultivo:
Outra proposta interessante é a criação de cooperativas de cultivo, em que pacientes autorizados cultivem cannabis medicinal de forma coletiva e organizada. Essa abordagem pode estimular o compartilhamento de conhecimentos, recursos e melhores práticas, promovendo um ambiente colaborativo entre os usuários medicinais.
Promoção da indústria nacional:
O PL 399 deve incentivar o desenvolvimento da indústria nacional de cannabis medicinal, proporcionando oportunidades para produtores locais e fomentando a criação de empregos e o crescimento econômico. Isso pode ser alcançado por meio de incentivos fiscais, linhas de financiamento específicas e a simplificação dos processos regulatórios para empresas nacionais.
Educação pública sobre cannabis medicinal:
Um dos desafios enfrentados atualmente é a desinformação. O projeto pode prever campanhas educativas abrangentes para desmistificar conceitos equivocados, fornecer informações precisas sobre os benefícios e riscos da cannabis medicinal e combater o estigma associado ao seu uso terapêutico.
O PL 399 é uma oportunidade única para promover avanços significativos na regulamentação da cannabis medicinal no Brasil. Com base nas conquistas em outros países, é essencial contemplar propostas que garantam o acesso equitativo, a qualidade e a segurança dos produtos, além de incentivar a pesquisa, a educação e o desenvolvimento da indústria nacional.
O futuro da cannabis medicinal no Brasil depende de uma abordagem abrangente e comprometida, que leve em consideração o bem-estar dos pacientes e o potencial transformador dessa terapia. No entanto, é importante ressaltar que os deputados e senadores devem adotar uma postura responsável e baseada em evidências científicas ao analisar o projeto de lei.
É fundamental que se mantenham atualizados e ouçam especialistas, pesquisadores e a sociedade civil para embasar suas escolhas.Tomar decisões baseadas em preconceitos e desinformação pode prejudicar a saúde e o bem-estar de milhares de pacientes que poderiam se beneficiar dessa terapia, além de impedir o desenvolvimento de uma indústria nacional promissora. Além disso, é crucial que os legisladores sejam sensíveis às necessidades dos pacientes e às demandas da sociedade. O PL não deve ser tratado como uma questão partidária, mas sim como um assunto de saúde pública e bem-estar dos cidadãos brasileiros.
Os deputados e senadores devem deixar de lado interesses políticos e ideológicos e concentrar seus esforços na construção de um marco regulatório que garanta o acesso seguro, equitativo e legal à cannabis medicinal. A atuação dos legisladores deve ser pautada pela empatia e compaixão, buscando promover uma legislação que reflita os anseios e necessidades daqueles que dependem dessa terapia como uma opção viável de tratamento.
As opiniões veiculadas nesse artigo são pessoais e de responsabilidade de seus autores.
Norberto Fischer é pai de Anny Fischer, primeira brasileira autorizada legalmente a importar o extrato da maconha para uso medicinal. Tornou-se articulador político no Brasil, com repercussão internacional, destacando-se no ativismo pelo direito ao acesso, distribuição pelo SUS, custeio dos tratamentos pelos planos de saúde, plantio e produção nacional por empresas, ONGs e autocultivo.
Norberto Fischer é pai de Anny Fischer, primeira brasileira autorizada legalmente a importar o extrato da maconha para uso medicinal. Tornou-se articulador político no Brasil, com repercussão internacional, destacando-se no ativismo pelo direito ao acesso, distribuição pelo SUS, custeio dos tratamentos pelos planos de saúde, plantio e produção nacional por empresas, ONGs e autocultivo.