Portugal como Espelho e Ponte: O Brasil pode ser potência, mas só se entender o jogo das conexões

Portugal como Espelho e Ponte: O Brasil pode ser potência, mas só se entender o jogo das conexões

Portugal inspira o Brasil a acelerar sua entrada na bioeconomia da cannabis e do cânhamo, destacando-se como ponte estratégica para inovação, sustentabilidade e expansão global

Publicado em 02/06/2025

Há duas semanas estive em Portugal e vivi, com os próprios olhos, o que considero um vislumbre do futuro que o Brasil pode — e deve — construir com a cannabis e o cânhamo.


Enquanto ainda engatinhamos na regulamentação, nossos parceiros lusitanos já estão anos à frente em cultivo, extração e inovação. Não falo isso com frustração, mas com estratégia: o timing do Brasil é agora. E o atalho é claro — conexões inteligentes com quem já percorreu o caminho.


Portugal está investindo pesado em eficiência e sustentabilidade. Um exemplo disso é o projeto CannValue, que integra universidades, centros de pesquisa e empresas como a PortoCanna para desenvolver novas tecnologias de extração e aproveitamento integral da planta. O foco é total: desde a redução de resíduos até o uso da biomassa para aquacultura e nutrição animal.


Outro exemplo inspirador é a Canhamor, empresa de materiais sustentáveis que produz concreto de cânhamo (hempcrete) e já recebeu mais de 22 milhões de euros em investimento. Tive a oportunidade de visitar a estrutura deles — e posso afirmar: o nível de sofisticação industrial e compromisso com a bioeconomia é algo que precisamos aprender e trazer para o nosso território.


Além da tecnologia, o que chama atenção é o ecossistema colaborativo que vem sendo construído por lá. Há sinergia real entre iniciativa privada, universidades, centros de P&D e governo. Isso acelera inovação, reduz riscos e atrai capital. O Brasil, com seu histórico de excelência em agro e ciência, tem potencial para criar algo tão ou mais robusto — desde que a mentalidade de construção coletiva seja priorizada.


Também é hora de repensar nosso modelo de internacionalização. Parcerias não são apenas para abrir portas comerciais — são para acelerar aprendizado, ganhar musculatura regulatória, desenvolver produtos com padrão global e atrair investidores com segurança. Portugal pode ser nosso laboratório de inovação e, ao mesmo tempo, nosso trampolim para a Europa.

Enquanto debatemos no Brasil o que pode ou não ser feito com a cannabis e o cânhamo, o mundo avança. E não só avança: ele está disposto a colaborar — desde que tenhamos clareza, seriedade e visão de longo prazo.


O Brasil tem todos os ativos para se tornar uma potência global: clima, solo, diversidade genética, força agrícola e mercado interno em plena expansão. O que nos falta? Estratégia internacional. Aproximação. Curadoria de parcerias. Ambição com responsabilidade.


Essa ponte entre Brasil e Europa — especialmente com Portugal — não é apenas conveniente pela língua ou história em comum. É estratégica. Temos ali um ecossistema regulado, com empresas maduras e tecnologia testada. Não precisamos cometer os mesmos erros. Podemos avançar mais rápido, com mais impacto e menos ruído.


É hora de parar de olhar só para dentro. O que estamos construindo no Brasil pode — e deve — dialogar com o que já existe lá fora. Mas isso exige articulação. E é nesse papel que vejo minha missão: atuar como um arquiteto de mercado, conectando pontas, traduzindo visões, alinhando interesses e construindo pontes reais.
Quem estiver atento, já sabe por onde começar.
 

Imagem do colunista Marcelo de Vita Grecco
Marcelo de Vita Grecco

Marcelo De Vita Grecco é consultor, mentor, advisor e cofundador da The Green Hub.