
Psilocibina, uma opção terapêutica para a depressão
Estudos revelam que a psilocibina, presente em cogumelos, pode promover alívio rápido e duradouro da depressão, especialmente quando associada à medicina integrativa e apoio terapêutico
Publicado em 03/08/2025
A substância psicodélica presente em alguns cogumelos, vem sendo estudada como uma opção terapêutica no tratamento da depressão, seja em micro ou macrodose.
Para a medicina integrativa, que combina recursos da medicina convencional com terapias complementares, a psilocibina é vista não apenas como um composto quimicamente funcional para depressão, mas como uma ponte para uma cura emocional profunda.
Estudos científicos revelam que uma ou duas sessões com macro dose de psilocibina, realizadas em ambiente terapêutico, podem gerar melhoras rápidas e duradouras nos sintomas depressivos. Em um ensaio publicado no New England Journal of Medicine, pacientes com depressão moderada a grave apresentaram melhora significativa após uma única dose, como manutenção do efeito terapêutico por semanas ou até meses.
“Resetando e reiniciando”
Quem nunca quis a chance de voltar no passado e mudar alguma ação que teve equivocadamente?
Ainda não temos uma máquina de viajar no tempo, mas temos cogumelos com psilocibina que podem nos ajudar uma experiência passada que ainda não foi bem resolvida.
A psilocibina, após ser convertida no corpo em psilocina, atua no cérebro agindo nos receptores de serotonina (5-HT2A), especialmente no córtex pré-frontal, região relacionada ao humor, cognição e percepção, resultando em alterações temporárias na atividade cerebral.
Durante o efeito psicodélico a forma como diferentes regiões se comunicam entre si é alterada. A rede de modo padrão (Default Mode Network – DMN) que é associada a ruminação, autoconsciência e pensamentos negativos repetitivos, tem sua atividade reduzida e outras áreas do cérebro começam a se comunicar de forma mais livre e fluida, criando novos padrões de conectividade. Após o efeito enteógeno, o cérebro parece se reorganizar de forma mais saudável e flexível, como um “reinício mental”.
Uma abordagem mais humana e integrativa
Para os profissionais da medicina integrativa, os efeitos da psilocibina vão além da bioquímica. A experiência com a psilocibina pode abrir portas internas de memórias, emoções e significados ocultos no subconsciente, que da mesma forma que podem revelar as origens do quadro depressivo, apresentam formas de cura e ressignificação do padrão de comportamento do indivíduo.
Sob o efeito da psilocibina há também uma amplificação da experiência emocional e do significado. Emoções intensas podem emergir com sentimentos de conexão, amor, perdão, espiritualidade e transcendência.
Experiências frequentemente classificadas como profundamente significativas, na perspectiva do paciente. Além disso há um aumento da neuroplasticidade, ou seja, a capacidade do cérebro de formar novas conexões, trazendo mudanças duradouras no humor, atitude e comportamento, mesmo com apenas uma ou duas sessões bem conduzidas.
● Estudo duplo-cego com 19 pacientes; duas semanas após dose única, o poder do theta no EEG dobrou e correlacionou-se com melhora dos sintomas depressivos (J Psychopharmacol 2023 Jul, doi: 10.1177/02698811231179800)
Além dos antidepressivos, a terapia psicológica é fundamental para o tratamento assertivo da depressão. Os psicólogos e profissionais atuantes da terapia psicodélica assistida, garantem que ritos de macro doses de psilocibina permitem ‘saltos quânticos’ na jornada terapêutica, ou seja, maior velocidade para viradas de chaves ou insights de entendimento imprescindíveis na autoconsciência do indivíduo em seu caminho para para sanar a depressão.
“Hoje a ciência está apenas redescobrindo o que as tradições ancestrais sempre souberam: que a cura emocional precisa envolver o ser humano como um todo — corpo, mente, espírito e comunidade”, diz o terapeuta transpessoal Rafael Machado.
Pessoas com depressão tendem a ficar presas em padrões de pensamento negativos repetitivos e pensamentos de ruína e a psilocibina parece interromper esses ciclos, permitindo que o indivíduo acesse novas perspectivas emocionais e cognitivas.
● Isso pode facilitar insights profundos durante a experiência, especialmente em um ambiente psicoterapêutico controlado.
É nesse ponto que a integração terapêutica se mostra fundamental: sessões são conduzidas com apoio psicológico antes, durante e depois da experiência, o que potencializa os efeitos e minimiza riscos. Técnicas como mindfulness, yoga, acupuntura e nutrição funcional podem ser associadas, promovendo uma transformação mais completa e sustentável.
A literatura aponta duas formas de tratamentos com a psilocibina: macrodose e microdose. A microdose realizada através de uma terapia assistida garante uma transformação rápida e impactante do quadro clínico, contudo exige maior entrega do paciente para os efeitos psicadélicos da psilocibina.
Já na microdose típica de psilocibina, que varia entre 0,1 mg e 0,3 mg, o que representa cerca de 1/10 a 1/20 da dose recreativa, o paciente segue suas atividades normalmente, pois a dose baixa nao provoca perturbação do sistema nervoso central com os efeitos psicodélicos, contudo ainda assim funcionam molecularmente pelas mesmas vias descritas.
Os profissionais que atuam com a terapia psicodélica com a psilocibina recomendam o uso das microdoses com pausas, exemplo 3 dias usando e 3 dias sem usar, até que se observem os resultados esperados.
A prática de microdosagem com intervalos tem como objetivo maximizar os benefícios e minimizar os riscos, como evitar o fenômeno de tolerância ou taquifilaxia, evitar sobrecarga neurológica ou emocional e prevenir riscos de dependência psicológica. Os modelos mais comuns de protocolos são o Fadiman (1 dia de microdose e 2 dias sem microdose) e o Stamets Stack (4 dias de microdose com 3 dias de pausa). Porém é possível realizar um ciclo personalizado de microdosagem.
É importante salientar que esse tipo de uso ainda não é regulamentado no Brasil, e portanto deve ser feito com acompanhamento médico ou terapêutico adequado, especialmente em pessoas com histórico de transtornos mentais.

Dra. Lina (Carolina Dantas) CRM 23322 é médica, graduada pela EBMSP BA há 12 anos. Estudiosa e pesquisadora da Cannabis Medicinal e CBD há 5 anos. Pós Graduada em Cannabis Medicinal- Unyleya, com certificação de prescrição internacional de Cannabis WeCann Academy. Supervisora do Programa Mais Médicos há 6 anos, atua no SUS, com as Práticas Integrativas Complementares. Fundadora da UNO Clinic Brasil, vem se dedicando aos modelos de assistência e saúde Integrativa.