
Quando proteger a pele significa ativar sua inteligência biológica
Nano-CBD e proteção solar:: Uma nova abordagem que ativa os mecanismos internos da pele contra os danos do sol
Publicado em 10/08/2025
O canabidiol (CBD) já faz parte das prescrições dermatológicas, mas uma descoberta recente ressignifica o conceito de fotoproteção inteligente.
Um ensaio clínico publicado no Journal of the American Academy of Dermatology (JAAD, 2024) demonstrou que uma formulação tópica com CBD nanoencapsulado não apenas é segura, como protege a pele contra os danos moleculares provocados pela radiação UVA, um tipo de radiação constante, que ultrapassa vidros e nuvens, e está diretamente relacionada ao envelhecimento precoce e ao dano genético acumulativo.
O estudo foi conduzido com 19 voluntários, que aplicaram uma formulação com nano-CBD (Z-pod™) ou placebo nas nádegas por 14 dias. Em seguida, as áreas foram expostas a uma dose controlada de UVA, simulando a exposição solar crônica.
Resultados observados:
- - Redução de 21% da vermelhidão (eritema) após irradiação;
- - Menor espessamento epidérmico, um dos primeiros sinais de dano;
- - Redução de lesões no DNA nuclear e mitocondrial;
- - Menor ativação de OGG1 (enzima associada à reparação de danos oxidativos no DNA);
- Redução de deleções nos genes ND1 e ND4, que são marcadores mitocondriais relacionados ao envelhecimento e ao câncer de pele.
Diferente dos filtros que apenas bloqueiam a radiação, o CBD atuou diretamente dentro das células, modulando inflamação, controlando o estresse oxidativo e protegendo o núcleo celular. É uma atuação silenciosa e profunda, voltada à resiliência biológica da pele.
Estamos, enfim, deixando para trás a cosmética de superfície e avançando para uma dermatologia funcional.
E os fitocanabinoides, quando bem formulados, têm um papel relevante nesse novo território: o da prevenção que antecede o dano visível.
Mais do que antioxidante, o CBD mostrou ser um ativo biointeligente, capaz de interferir positivamente nos processos celulares que determinam a longevidade e integridade da pele.
Esse estudo não encerra a discussão. Pelo contrário, abre caminho para uma nova geração de dermocosméticos com ação anti-inflamatória, antimutagênica e antioxidante, atuando com profundidade, especificidade e segurança.
Cannabis na dermatologia é mudança de paradigma.
Referência científica:
McCormick E, Han H, Abdel Azim S, et al.
Topical nanoencapsulated cannabidiol cream as an innovative strategy combating ultraviolet A–induced nuclear and mitochondrial DNA injury: A pilot randomized clinical study.
J Am Acad Dermatol. 2024;91(5):855–862.
- PubMed (resumo + acesso gratuito):
“Topical nanoencapsulated cannabidiol cream as an innovative strategy combating UV-A–induced nuclear and mitochondrial DNA injury: A pilot randomized clinical study” – J Am Acad Dermatol. Novembro de 2024, vol. 91(5):855–862
jaad.org, pubmed.ncbi.nlm.nih.gov, em-consulte.com - George Washington University (acesso ao PDF via repositório institucional):
Volume e página correspondentes com o resumo completo do artigo e DOI 10.1016/j.jaad.2024.06.088
pubmed.ncbi.nlm.nih.gov, src.himmelfarb.gwu.edu, em-consulte.com
Figura 1:
As amostras tratadas com CBD nanoencapsulado (nCBD) apresentaram redução na coloração imuno-histoquímica de 8-oxoguanina glicosilase (OGG1) no citoplasma e no núcleo, em comparação com as amostras tratadas com o veículo controle (VC).
A OGG1 é uma enzima de reparo do DNA que remove a 8-hidroxi-guanina, uma lesão comum induzida por radiação UV no DNA.
Imagens representativas de imuno-histoquímica (IHQ) da epiderme exposta à radiação UV de um dos pacientes, após tratamento com nCBD, podem ser vistas aqui, em comparação com a epiderme exposta ao UV após tratamento com VC na Figura 2. Até 10 campos de grande aumento (400×) foram analisados em cada lâmina corada por três avaliadores independentes, examinando a expressão de OGG1.
A análise estatística com teste t não pareado revelou uma redução significativa no número de expressões nucleares e citoplasmáticas de OGG1 induzidas por UV nas amostras tratadas com nCBD em comparação com o controle (VC) (P = 0,009).

Figura 2
As amostras tratadas com CBD nanoencapsulado (nCBD) apresentaram redução na coloração imuno-histoquímica de 8-oxoguanina glicosilase (OGG1), tanto no citoplasma quanto no núcleo, em comparação com as amostras tratadas com o veículo controle (VC).
A OGG1 é uma enzima de reparo do DNA responsável por remover a 8-hidroxiguanina, uma lesão comum induzida pela radiação UV.
A imagem imuno-histoquímica (IHQ) representativa da epiderme exposta à radiação UV de um dos pacientes, após tratamento com VC, é mostrada aqui, enquanto a epiderme exposta ao UV após tratamento com nCBD pode ser vista na Figura 1.
Foram analisados até 10 campos de grande aumento (400×) em cada lâmina corada, por três avaliadores independentes, avaliando a expressão de OGG1.
A análise estatística, utilizando o teste t não pareado, revelou uma redução significativa na expressão de OGG1 nuclear e citoplasmática induzida por UV nas amostras tratadas com nCBD em comparação com o VC (P = 0,009).

Dra. Ludmila Militão é médica, pesquisadora e professora de Dermatologia na Pós-Graduação Afya Educação Médica. Atua na interface entre ciência, clínica e terapias integrativas e regenerativas aplicadas ao cuidado estético e ao tratamento de doenças dermatológicas, com ênfase nos avanços da cannabis medicinal.