Como saber se o óleo contém canabinoides e evitar golpes

É necessário que um técnico analise o produto num aparelho chamado Cromatógrafo Líquido de Alta Eficiência, mas existem poucos no Brasil

Publicada em 16/09/2019

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Atualizada em 17/09

Na sexta-feira passada (13), o portal Sechat publicou uma reportagem sobre golpes que pacientes estão sofrendo ao comprar falsos óleos de cannabis na internet. Muitas vítimas relataram pagar caro para receber em casa um frasco contendo apenas óleo de soja, sem qualquer traço de cannabis nem valor terapêutico.

A orientação de médicos que receitam cannabis é nunca comprar um óleo de procedência duvidosa. No entanto, mesmo quem tem em mãos um produto sem origem conhecida, é possível descobrir a concentração de canabinoides.

Para isso, é necessário que um técnico analise o óleo em um aparelho chamado Cromatógrafo Líquido de Alta Eficiência. Essa máquina é capaz de determinar de forma precisa as concentrações de canabinoides, tais como o canabidiol e o tetrahidrocanabinol. No entanto, é uma tecnologia cara, custa cerca de 50 mil dólares, e poucas instituições possuem o equipamento.

A Associação Brasileira Cannabis Esperança (Abrace), da Paraíba, adquiriu um cromatógrafo em julho, graças a uma campanha de financiamento coletivo. Foi a primeira e é a única associação a contar com este recurso.

"Agora o paciente vai poder saber o que realmente ele está tomando. Se a patologia que ele tem responde melhor com THC, ele vai ter certeza que o medicamento que ele está tomando é rico em THC. Da mesma forma com o CBD e com o óleo balanceado”, explicou a porta-voz da associação, Endy Lacet, na ocasião.

No entanto, a Abrace ainda não começou a utilizar o aparelho. Outras universidades e empresas farmacêuticas possuem este equipamento, mas não os utilizam para esse fim.

Já o Laboratório de Análises Toxicológicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro dispõe do cromatógrafo e toca um projeto chamado Farmacannabis, que oferece suporte farmacêutico na preparação de extratos para pacientes ou responsáveis. O projeto salienta que não produz nada para associações, e esse suporte farmacêutico se dá diretamente entre universidade e paciente.

Virgínia Martins Carvalho é coordenadora do projeto Farmacannabis, da UFRJ

Segundo a UFRJ, para aderir ao Farmacannabis é preciso comprovar enfermidade grave e/ou debilitante. Só há inclusão de paciente no projeto mediante análise documental. Para tanto, é necessário preencher este protocolo.

Conforme a coordenadora da Farmacannabis, Virgínia Carvalho, o projeto está dando prioridade aos pacientes que possuem salvo-conduto para o auto-cultivo. Isso porque praticamente todos os óleos que chegam até o laboratório possuem traços ou menos de 2mg por ml, o que, segundo a cientista, não configura um produto farmacêutico.

"Para se ter um produto com teor alto, comparado ao importado, vai ter que plantar em casa. Não é fácil, mas é o único caminho em que a pessoa consegue algo mais garantido".

Reagentes apenas constatam presença

Outro caminho é comprar na internet químicos reagentes para analisar a presença de drogas. São produtos muito mais baratos do que o cromatógrafo, por exemplo. No entanto, conforme explica o médico Wilson Lessa, membro da Sociedade Brasileira de Estudos da Cannabis, esses reagentes só informam se há presença de canabidiol.

"Não vai medir a concentração do óleo. Também não diz se tem contaminantes. E nos EUA, está tendo um problema sério de metais pesados nas plantas", alerta o profissional de saúde.

https://www.sechat.com.br/pacientes-denunciam-golpes-com-falsos-oleos-de-cannabis-na-internet