Criança com autismo não verbal começa a falar após tratamento com Cannabis
Crises de automutilação e gritos deram lugar à interação e à qualidade de vida
Publicada em 15/06/2020
Por Caroline Apple
O diagnóstico não era fácil: Síndrome de Kaner, autismo severo não verbal e psicose infantil. Foi assim que a analista comportamental Kimberlyn Cavallari, de 25 anos, do Rio de Janeiro, precisou ressignificar a sua vida com a chegada da pequena Antonia Cavallari, de seis anos.
Kim, como é conhecida, conta que desconfiava que Antonia poderia ter algum problema. Como era sua segunda experiência como mãe, a comparação foi inevitável. Porém, para não ser injusta, decidiu observar o desenvolvimento da filha passo a passo.
Os médicos também diziam que não havia problemas. Era apenas o tempo da bebê que era diferente. Então, Kim entrou na dúvida e na preocupação se estava deixando de aceitar o tempo de desenvolvimento da filha diante da sensação de algo estava diferente.
E assim, Kim esperou Antonia completar dois anos para reunir todas as questões que se apresentavam e levar para um especialista. Nesse momento, a pequena apresentava diversos transtornos do espectro autista: não falava, seletividade para comer, o corpo mais molinho e, junto, crises de gritos, automutilação entre outros comportamentos. Ver sua filha batendo a própria cabeça na parede era de cortar o coração.
Alopáticos e efeitos colaterais
Foi então que o tratamento de Antonia começou com doses altas de remédios alopáticos, com efeitos colaterais catastróficos e um cenário de dependência que deixava a família desesperada. Se atrasassem em cinco minutos a medicação, a criança tinha uma crise ainda mais forte.
Diante disso, a “dança das cadeiras” dos remédios começou. Nada mudava efetivamente e Antonia ficava robótica, desconectada do mundo e com crises diárias. As doses cada vez mais altas deixavam Kim desesperada. Aquilo não era vida, nem para Antonia e nem para sua família.
Quando o Rivotril de 2,5 mg entrou em cena e mesmo assim as crises continuavam e Antonia sequer dormia, Kim percebeu que era a hora de buscar uma alternativa. Então, há dois anos os estudos começaram. Os artigos que Kim tinha acesso sobre Cannabis e autismo ainda eram todos em inglês. Porém, isso não a intimidou. Logo encontrou um médico prescritor e há um ano e meio a vida da família mudou.
Por conta das crises, a família não tinha condições de sair para jantar ou viajar. Em uma viagem à Europa, que era para ser um evento inesquecível cumpriu sua missão, mas para o lado negativo. Antonia tinha ataques o tempo todo, inclusive no avião. Mas, depois do óleo de Cannabis (que contém mais CBD do que THC), a família decidiu investir novamente nesta jornada e o resultado foi uma viagem maravilhosa onde todos aproveitaram.
Antonia começou a falar, da maneira dela, mas a comunicação passou a acontecer. A criança agora interage, faz atividades na escola, canta, reconhece objetos. Um feito inacreditável para uma pessoa tão pequena com um diagnóstico tão forte.
Kim diz que o canabidiol mudou a vida da família, mas que sente que essa chave virou quando ela passou a olhar em primeiro plano para a filha e não para o autismo. O preconceito existe, ela reconhece, mas a luta pela qualidade de vida de Antonia, que hoje vive uma outra história e tem um futuro mais promissor por causa da Cannabis.
Veja o vídeo de Kim sobre Cannabis medicinal e autismo