Por Leandro Maia

Se você ainda não conhecia os “poderes industriais” do cânhamo, com certeza irá se surpreender. A espécie é uma planta da família da Cannabis sativa. Devido as suas propriedades, pode servir de matéria-prima para a produção de diversos produtos em diferentes setores da indústria. Além disso, a industrialização da planta pode ajudar a alavancar a economia. Segundo a Kaya Mind, o setor poderia gerar até 328 mil empregos para economia brasileira após o quarto ano da sua regulamentação no Relatório Impacto Econômico da Cannabis. O faturamento estimado é de R$ 4,7 bilhões em três anos.

Para você entender melhor sobre o que estamos falando, saiba que a partir do caule e suas fibras são produzidos papel, tecidos, cordas, compostos plásticos e materiais de construção. Já as sementes são usadas para produção de medicamentos, cosméticos, alimentos e suplementos nutricionais.

“A semente da cannabis pode chegar a mais de 20% de proteína. Além disso, dentro dessa proteína, diversos aminoácidos e fibras. O óleo extraído dessa semente é riquíssimo em ômega 3 e 6, sem falar em outras indústrias periféricas”, afirma Fabrízio Postiglione, CEO da farmacêutica Remederi.

O cânhamo e o clima

Por ser de fácil adaptação climática, mesmo em condições extremas, o cânhamo não depende de defensivos agrícolas. A planta se desenvolve apenas com fertilizantes e adubagem. São vantagens exclusivas da cannabis que poderiam otimizar a produção industrial brasileira. A versatilidade do cânhamo pode impactar diretamente os setores petroquímico, têxtil, alimentício e construção civil.

O acesso aos produtos à base de cânhamo pode trazer novos avanços para o setor industrial. Por esse motivo, a farmacêutica brasileira investe em produtos, serviços e educação sobre cannabis medicinal.

A industrialização do cânhamo tem grande potencial de expansão e economicamente com maior margem de lucro já que não exige trabalhos de manutenção, assim a fabricação é otimizada com custos mais reduzidos.

O setor industrial será potencializado com a legalização, só quando isso acontecer a planta poderá fornecer matéria prima para a fabricação de biocombustíveis, óleo, resinas, têxteis, papel, cerveja, alimentos, plástico, cordas, por exemplo.

“Abrir as portas do Brasil e mostrar que essa planta não é esse bicho de sete cabeças. Quando mais a gente força na parte do proibicionismo, mais para trás nós estamos ficando e estamos deixando de criar oportunidades, estamos deixando de criar novas inovações. Estamos deixando de nos incluir no topo da cadeia ou sermos pioneiros em algumas áreas da indústria da cannabis", indagou.

Para Postiglione, a industrialização do ganho pode ajudar a fomentar a geração de emprego.

“A gente tá falando de uma indústria que promete gerar mais 300 mil empregos nos próximos 3 anos, além de gerar mais de 4.7 bilhões de reais de faturamento. Isso gera empregos, receitas, desenvolvimentos e evoluções”, comentou.

Se você ainda não sabe mensurar o potencial do cânhamo industrial, existem pelo menos sete propriedades capazes de transformar a produção industrial. A semente possui alto valor nutricional e fornece uma grande quantidade de proteína com 20 aminoácidos, ácidos graxos saudáveis, incluindo ômega-3 e ômega-6, sendo rico em fibras, ferro, fósforo, potássio, cálcio, zinco magnésio e vitamina E. 

O óleo das sementes pode ser utilizado na culinária e também pode ser utilizado para a produção de cosméticos como loções para o corpo, cremes, sabonetes e xampus.

Outra propriedade do cânhamo é a fibra que pode ser utilizada na indústria têxtil e na produção de roupas, cordas e tapetes. Mais um detalhe importante é que a fibra de cânhamo pode ser utilizada juntamente com o algodão, seda e outras fibras, mostras de versatilidade e reciclável. A sustentabilidade é outro fator positivo. O cânhamo necessita de apenas um terço da água que o plantio de algodão. 

Eficiência na indústria

A indústria do papel poderia ser mais eficiente com a introdução do cânhamo. Com a fibra, é possível produzir um papel mais resistente do que os que existem hoje no mercado. Sem contar que o cultivo utiliza um método ecologicamente mais correto. E a colheita acontece 10 vezes mais rápido do que o eucalipto e consome menos água também.

Na construção civil, a fibra do cânhamo pode ser utilizada na fabricação de tijolos e material análogo ao concreto, o que estimula a construção ecológica e sustentável. Além disso, o material é à prova de fogo, auxilia na captura de carbono, resistentes à mofo e pragas, pode ser utilizado na aplicação de resinas para produzir chapas de madeirite estilo MDF para a divisão de ambientes com a vantagem de ser isolante térmico, acústico e de umidade.

Reequilíbrio do solo

O cânhamo já foi testado e aprovado para ser utilizado na absorção da radiação e metais pesados do solo como chumbo, arsênio, zinco e cádmio.

O plástico produzido com as fibras do cânhamo permite a produção de embalagens totalmente biodegradáveis, assim podendo substituir o plástico descartável que causa danos ao meio ambiente.

“Já estão começando a desenvolver e misturar nos polímeros 100% do petróleo, estão misturando junto com o material extraído do caule da planta e fazendo polímeros onde parcialmente são feitos de cânhamo”, explicou Postiglione.

A matéria-prima extraída do caule do cânhamo poderia ajudar reduzir os impactos ambientais podendo reduzir à metade do tempo de decomposição do plástico na natureza que é de 450 anos, isso dependendo da composição do plástico.