"É um processo lento" converter um médico em prescritor de Cannabis, diz CEO da CanTera

Para Marcelo Galvão, um dos principais desafios do setor é aumentar o número de profissionais que receitam produtos à base de maconha: são menos de 0,3% do total de médicos

Publicada em 13/12/2019

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Publicada a regulamentação para venda de produtos à base de Cannabis em farmácias no Brasil, os dois maiores desafios do setor agora são aprovar o plantio em solo nacional e alavancar o número de médicos prescritores. É o que entende Marcelo Galvão, CEO da CanTera, uma plataforma de educação para médicos brasileiros sobre Medicina Canabinoide.

"Demora alguns meses para que ele comece a identificar casos onde possa prescrever", explicou o executivo em entrevista ao portal Sechat.

Até hoje, a Anvisa recebeu 1.218 solicitações para prescrição de Cannabis, segundo dados de setembro da agência. Isso um universo de 466 mil médicos ativos, conforme último levantamento do Conselho Federal de Medicina. Significa que apenas 0,26% dos médicos brasileiros são prescritores de derivados da planta.

É essa lacuna que a CanTera pretende resolver. O caminho, no entanto, está só no começo. A plataforma possui atualmente 112 médicos castrados - nem todos prescritores. 

A CanTera é uma marca da healthtech brasileira OnixCann e que recebeu cerca de US$ 2 milhões recentemente. Ela se baseia em um banco de dados global com estudos científicos, referências bibliográficas e protocolos que auxiliam o médico na escolha do melhor tratamento a ser prescrito ao paciente.

O levantamento de dados na plataforma é acompanhado pelo  conselho médico da OnixCann, formado por especialistas nas áreas de Neurologia, Hematologia, Geriatria, Gastroenterologia, Onco, dor, cuidados paliativos e Reumatologia.

Entenda mais sobre a plataforma nesta entrevista com o CEO da empresa, Marcelo Galvão.

Como tem sido a recepção dos médicos ao tema, uma vez que pouco mais de mil já receitaram Cannabis num universo de 400 mil profissionais no país?

A recepção está sendo boa. A curva de envolvimento do médico com o tema não é de uma curva de conversão para se tornar prescritor rápido. Nossa experiência é de que o médico toma contato com o produto, com a plataforma, nossos cursos e, pouco a pouco, demora alguns meses para que ele comece a identificar casos onde possa prescrever ou até a se direcionar um pouco mais para essa especialidade. 

Mas é um processo lento. Não é rápido, como todo processo de instalação de uma nova mentalidade, de uma nova cultura. Como você vence isso, normalmente pela indústria farmacêutica? Você faz um monte de estudos, vai lá e convence o médico de que a partir desse estudo o produto serve para tal coisa e você começa a ter suas prescrições. No Cannabis, não é bem assim; É um senso comum, todo mundo sabe que funciona, mas muito da conversão dos médicos vem impulsionado pelos pacientes. 

Se o médico começa a ter procura de pacientes que estão querendo tratamento com Cannabis, ele tem duas opções: ou ele recomenda um colega, que é o que tem sido feito por muitos até agora, então você tem poucos médicos com uma base de até 400 pacientes, ou outra alternativa é começar, ele mesmo, a aprender e ter a coragem e a disposição para fazer essa prescrição.

O que fazia o Marcelo Galvão antes de entrar no ramo da Cannabis medicinal?

Na década de 90, eu trabalhei no banco Pactual. Saí de lá e virei um empreendedor em série com vários negócios diferentes. Montei um negócio na área de cartões de crédito, um negócio de descontos para hotéis e restaurantes, chegamos a ter uma rede com 100 restaurantes e 20 mil associados.

Voltei a trabalhar num banco para aprender mais sobre mercado exterior. De 2007 a 2014 tive uma construtora atuando no Minha Casa Minha Vida, fizemos empreendimentos no Nordeste do Brasil. De 2014 em diante comecei a atuar como pequeno investidor numa faculdade de tecnologia, a BandTec Digital School. Investi numa empresa de energia solar e fui o primeiro investidor da Entourage. Foi aí que eu entrei no Cannabis.

E sempre fui um investidor conselheiro bastante atuante nos negócios. Trabalho com algumas causas cíveis também em parceria com um escritório. Então tenho um pouco de atuação na advocacia em causas complexas e uma consultoria de investimentos no exterior.

E como foi a entrada nesse novo mercado da maconha?

No ano passado, eu decidi ficar à frente de um negócio, não só como investidor, mas montando a OnyxCann, entendendo que a experiência de Entourage me dava uma janela bastante interessante para atuar numa outra frente em negócios de Cannabis. A Entourage tem um play de fazer pesquisa, um play estritamente farmacêutico de longo prazo. E eu achei que tinham oportunidades de curto e médio prazo para serem exploradas.

A OnyxCann nasceu com essa vocação, muito focada em educação médica, em tecnologia com a plataforma CanTera, em marketing digital, em informação do público leigo para que mais rapidamente as pessoas entendam como o Cannabis medicinal pode ser benéfico em suas vidas, no caso de pacientes, e como os médicos podem beneficiar seus pacientes com uma alternativa muito boa numa série de doenças que não tem medicamento adequado.

O que faz a CanTera e o que faz a OnyCann? Qual a diferença entre as duas empresas?

A OnyxCann é a empresa e a CanTera é a marca da nossa plataforma. Hoje a gente tem a OnyxCann com toda a comunicação para o mercado exterior, para investidores, feiras e eventos. E no Brasil, como nosso principal mercado é o de médicos e pacientes, a gente está trabalhando a marca CanTera. Então a CanTera é uma plataforma que está comercializando produtos de marcas que eu represento ou de white label de produtores de alta qualidade lá fora. O meu negócio no fim do dia é venda de conteúdo, de educação e de produtos também.

Quais são os produtos que já estão no catálogo?

A gente está trabalhando com a MGC Pharma, que é uma empresa de origem israelense, das poucas plantas GMP na Europa. Por ser GMP, eles podem exportar para o mundo todo produtos de hemp, o que é um diferencial, mas principalmente produtos com THC. A nossa marca hoje é a MGC Pharma mas está migrando para Tegra MGC, com o white label. A gente tem a nossa marca própria que é a Tegra.

Até agora, eu estava trabalhando com MGC no que tem THC e na Tegra com tudo que vem de hemp. E aí no Tegra eu tenho dois fornecedores, um do Oregon e outro do Colorado. E o Tegra by Provacan, que é uma das marcas líderes no Reino Unido. E a outra marca é o Tegra by Fryherr, que deve ser credenciada GMP no primeiro semestre do ano que vem e que é um produtor com absoluta flexibilidade para fazer qualquer produto que eu queira no mercado mundial.