Fundadora da Expocannabis Uruguay teme mudança nas políticas de Direitos Humanos com Lacalle Pou

Presidente eleito é favorável ao tema, mas crítico da venda em farmácias; Mercedes de León alertou ao Sechat que "eliminar essa opção seria mandar 70% dos usuários de volta ao narcotráfico"

Publicada em 02/12/2019

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A vitória do candidato de centro-direita Lacalle Pou (Partido Nacional) nas eleições uruguaias pôs fim a 14 anos de governos de esquerda da Frente Ampla. Durante esse período, algumas políticas de direitos individuais foram implementadas. Em 2013, a maconha foi legalizada no país, numa experiência pioneira no mundo. Por isso, mesmo que o político seja favorável à pauta, a mudança no poder é vista com cautela pelo setor da Cannabis.

Lacalle Pou é um jovem político de 46 anos, é liberal tanto em termos econômicos como também nos costumes. Ele é autor do primeiro projeto de lei pela regulamentação da maconha no país. Já garantiu que não haverá retrocesso nas políticas para a droga, mas pretende mudar a venda em farmácias, que hoje enfrentam um grave problema com a distribuição.

Contudo, para vencer no segundo turno, ele se aliou com outras cinco siglas, entre elas o partido mais à direita do Uruguai, chamado Cabildo Abierto, cujo líder, Manin Ríos, foi candidato à presidente e obteve 10% dos votos. É essa aproximação com uma direita mais radical que preocupa. 

“O medicinal e o cânhamo industrial, não creio que mexam, o tema medicinal tem 88% de aprovação", acredita Mercedes Ponce de León, fundadora da Expocannabis Uruguay, feita que chega a sua 6ª edição entre os dias 6 e 8 de dezembro. A ativista conversou com o portal Sechat.

Mercedes é porta voz da Organização Uruguay Siembra, organizadores daExpocannabis Uruguay, eembro do Conselho de Administraçao da Câmara de Empresas deCannabis do Uruguai

"Eliminar as farmácias é mandar 70% dos usuários de volta ao narcotráfico"

Mercedes concorda que a política de distribuição em farmácias tem falhas, mas lembra que o governo uruguaio acaba de emitir três novas licenças de produção de Cannabis, justamente para aumentar a produção e o número de drogarias que vendem o produto. Esse vácuo na oferta é um dos pontos criticados por Lacalle Pou.

"Sobre as farmácias, que é um tema mais controverso, temos 7 mil auto cultivadores registrados, uns 4 mil integrados a aproximadamente 138 clubes, o que dá 11 mil pessoas. E na farmácia, são mais de 38 mil pessoas registradas. Estamos falando de 70% de usuários registrados, que preferem acessar a cannabis pela farmácia. Então eliminar essa opção seria mandar 70% das pessoas de volta ao narcotráfico. Seria um absurdo".

Mercedes de León também teme um retrocesso nas políticas de direitos individuais.

"Há uma possibilidade que esse setor de ultra direita, militar, mexa também, não só no tema da Cannabis, mas toda a agenda de direitos, de aborto, dos trans, poderia sofrer alguns entraves. Mas é tudo especulação", pondera.

"Esperamos que esta regulação, que já está normalizada e é tendência em nível mundial, continue. Todo mundo olha para nosso país como exemplo. Não acredito num retrocesso, porque seria um retrocesso para todo o mundo, não só para o Uruguai", conclui a ativista.

Em outubro, quando Mercedes esteve no Brasil para divulgar a Expocannabis, o portal Sechat fez uma longa entrevista com a uruguaia. Na ocasião, ela pode conhecer o cenário brasileiro e fez uma projeção otimista para nosso país.

Leia a entrevista completa

https://www.sechat.com.br/fundadora-da-expocannabis-uruguai-governos-passam-mas-o-povo-fica-e-o-brasil-vai-regular-a-maconha/