Médico prescritor de Cannabis atende na linha de frente no combate ao Covid-19

Geriatra se voluntariou no Hospital das Clínicas e dá dois plantões por semana na enfermaria

Publicada em 25/05/2020

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Por Caroline Apple

A pequena Sofia fará quatro anos neste próxima sexta-feira (29), mas o aniversário, neste ano, será longe da vovó e do vovô, afinal, o casal faz parte do grupo de risco e, no momento de isolamento, a família está seguindo as orientações para que se preserve a saúde, principalmente, de quem faz parte do grupo de risco.

Essa é a história poderia ser a de qualquer criança que completa anos em meio a quarentena, porém, esta tem um diferencial: o pai de Sofia é o geriatra ésquisador da Cannabis medicinal Paulo Camiz, que atende em hospitais como Sírio Libanês, Albert Einstein, 9 de Julho e Hospital das Clínicas. No momento, Camiz é voluntário na enfermaria do HC que trata pacientes com coronavírus.

Antes de viver uma experiência pandêmica, o médico seguia sua carreira aprimorando seus atendimentos por meio do estudo de alternativas no tratamento de transtornos emocionais, dores e doenças. Foi assim que há um ano e meio, Camiz passou a utilizar a maconha medicinal como um ativo importante para o tratamento de transtornos como ansiedade e depressão, dores de cabeça, fibromialgia, Mal de Parkinson e transtornos comportamentais causados pelo Alzheimer.

Porém, as coisas mudaram. Como médico, o profissional da saúde sentiu esse chamado de realmente honrar com a proposta da sua profissão. Mesmo com mulher e duas filhas, Camiz se inscreveu como plantonista voluntário duas vezes por semana no hospital para ajudar no combate ao Convid-19.

E a situação não é fácil. Apesar da organização do HC, a qual o médico tece elogios, não é possível escapar muitas vezes de momentos de tensão. Na enfermaria estão pacientes considerados mais estáveis, mas nada impede que a doença não evolua e ele precise ser entubado ali mesmo, fora de uma UTI (Unidade de Terapia Intensiva), até ser transferido. Quem mostra melhora é enviado para um hospital de campanha.

Além do desafio de lidar com os pacientes, Camiz também tem a responsabilidade de ensinar os residentes e discutir caso a caso com informações que precisam ser atualizadas periodicamente, devido a complexidade do momento de incertezas.

Para se manter longe de fake news, o médico participa de grupos com outros profissionais, onde as discussões passam longe das polarizações políticas e a ciência ganha voz ativa.

Quanto ao uso da Cannabis em relação ao tratamento do cornonavírus, Camiz é cauteloso, mas segue de olho nos estudos que estão sendo feitos pelo mundo e reconhece que os efeitos da maconha medicinal, como as propriedades anti-inflamatórias, podem ser promissores diante dos sintomas do Covid-19, porém, se considera ainda “não convencido” e prefere aguardar antes de se posicionar.

Mesmo atendendo desde abril, o médico não se contaminou com o coronavirus. Camiz atribui boa parte dos cuidados a sua esposa que cuida da higiene e da organização da roupa suja usada pelo médico durante os atendimentos. Quando ele chega em casa, a roupa de trabalho é deixada num espaço específico e lavada separadamente. Assim, seguem os cuidados do médico com a sua família, com seus colegas de trabalho, com seus pacientes, toda a comunidade e assim por diante…