Mercantilismo Português: A Origem da Manga Rosa
Em mais um artigo para o Sechat, o professor Paulo Jordão apresenta a história tropical da Cannabis, tendo sido o cânhamo um dos impulsionadores do mercantilismo português devido a sua importância na produção de fibras, linho e papel
Publicada em 06/04/2021
Coluna de Paulo Jordão*
Este artigo busca esclarecer quais são as possíveis origens da Manga Rosa. Esta variedade de Cannabis é conhecida no Brasil, entretanto não há trabalhos em periódicos científicos que apresentem uma taxonomia desta variedade.
A dicotomia entre plantas de Cannabis que possuem alucinógenos e plantas de Cannabis que são boas para utilização de suas fibras (Cânhamo ou hemp) é secular.
A dicotomia entre plantas de Cannabis que possuem alucinógenos e plantas de Cannabis que são boas para utilização de suas fibras (Cânhamo ou hemp) é secular. Em 1484, o Papa Inocêncio VIII baniu o uso carburado (papel ou cachimbo) da Cannabis como um indicativo de bruxaria. Isso não impediu que o Cânhamo, cultura instalada na Itália desde a idade média para a produção de fibras, de continuar a ser produzido no berço do mercantilismo na época.
As teorias mercantilistas de Thomas Mun na Inglaterra apontavam para que a nação exportasse mais do que importasse, garantindo assim riquezas com uma balança comercial favorável. O Cânhamo seria uma das matérias-primas a serem produzidas em terras Inglesas (suas colônias) para a consequente exportação.
O mercantilismo descrito por Thomas Mun era bastante agressivo, e esta agressividade foi marcante na conquista e manutenção de colônias. Depois da descoberta do Brasil em 1500 por Portugal, diversas outras nações visitaram nossas terras para saquear o monopólio português.
Franceses em especial se estabeleceram no Brasil algumas vezes entre 1504 e 1555, sempre buscando alianças com indígenas para combater os portugueses e conseguir cortar e carregar navios com Pau-Brasil. Os Franceses trocavam espelhos, facas, machados, sementes com os índios, enquanto estes garantiam que o Pau-Brasil seria entregue já próximo aos portos naturais.
O Cânhamo era matéria-prima para velas de navios, cordas, roupas, mateira prima essencial na indústria de linho e papel. Portugal já conhecia o Cânhamo e seu cultivo em regiões de clima subequatorial durante sua colonização Africana no século XVI.
O Cânhamo era matéria-prima para velas de navios, cordas, roupas, mateira prima essencial na indústria de linho e papel. Portugal já conhecia o Cânhamo e seu cultivo em regiões de clima subequatorial durante sua colonização Africana no século XVI. Depois do declínio da mineração de ouro na África, de abertura de novas rotas comerciais para as índias os portugueses embarcam para o Brasil com escravos, sendo uma mão de obra que não faria alianças com os estrangeiros.
O Cânhamo era matéria-prima para velas de navios, cordas, roupas, mateira prima essencial na indústria de linho e papel. Portugal já conhecia o Cânhamo e seu cultivo em regiões de clima subequatorial durante sua colonização Africana no século XVI.
A hipótese que aqui apresento é que a entrada em larga escala de variedades de Cannabis no Brasil se deu pela prática de consorciar o trabalho escravo com plantio de Cânhamo, pois este era uma matéria-prima muito valiosa no período do metalismo e do mercantilismo. Era comum a prática deste consorcio em colônias da Inglaterra e Portugal entre os séculos XVI e XIV.
Portugal e a Inglaterra usavam mão de obra escrava em suas colônias na produção de Cânhamo, açúcar, tabaco entre outras especiarias; e incentivavam os escravos ao uso da Cannabis forma carburada (cachimbo ou papel) para promover a docilidade da mão de obra escrava. Com certeza não seria está a versão que Portugal queria contar em seus livros.
O Cânhamo foi um dos impulsionadores do mercantilismo, pois a expansão do sistema-mundo moderno deu-se pela expansão poder naval e militar. As naus portuguesas transportavam entre 200 e 600 toneladas e sem velas ou cordas não havia navegação.
Este artigo apresenta a versão que os portugueses são os responsáveis pelo transporte, aclimatação, pesquisa, desenvolvimento de feitorias no Brasil ente 1600 e 1800. O Cânhamo foi um dos impulsionadores do mercantilismo, pois a expansão do sistema-mundo moderno deu-se pela expansão poder naval e militar. As naus portuguesas transportavam entre 200 e 600 toneladas e sem velas ou cordas não havia navegação. As frotas militares de cada país garantiam o transporte de ouro e mercadorias entre as colônias ou países fornecedores e os impérios.
Jesuítas, de diversas nacionalidades, plantaram Cannabis no Brasil a partir do século XVI visando a produção têxtil. A coroa portuguesa apoiou o beneficiamento de Cannabis em Santa Catarina (1747), Rio Grande de São Pedro (1762 e 1766) e Rio de Janeiro (1772) como apontado por Marcilio Brandão (2014).
A possível origem da Manga Rosa seria hibridização e subsequente aclimatação de plantas que eram usadas pelos escravos para curar suas moléstias de trabalho, citada pelos Ingleses e Portugueses como docilização (imagem 1). Esta hipótese aqui sustentada é que esta variedade foi levada e mantida em comunidades indígenas, quilombolas e ribeirinhas do Nordeste.
Hoje ainda pode ser encontrada em regiões que mantiveram a tradição de plantio sendo uma variedade dioica (plantas com flores masculinas e plantas com flores femininas). É uma planta que tem seu período vegetativo de aproximadamente 60 dias (imagem 2). A floração pode durar até 90 dias e a planta pode atingir 3 metros de altura (imagem 3).
O mercantilismo português trouxe a Cannabis para o Brasil, dentro de suas benfeitoras a Cannabis foi pesquisada e aclimatada. O mercantilismo português com suas armas foi implacável com os indígenas que colaboravam com outras nações e culpou historicamente os escravos por implantar a cultura no Brasil.
O mercantilismo português trouxe a Cannabis para o Brasil, dentro de suas benfeitoras a Cannabis foi pesquisada e aclimatada. O mercantilismo português com suas armas foi implacável com os indígenas que colaboravam com outras nações e culpou historicamente os escravos por implantar a cultura no Brasil. Hoje uma das coisas que restam desta história mal contada é a Manga Rosa, uma variedade brasileira, preservada pelos quilombolas e indígenas, que necessita ser classificada e preservada.
Usando a taxonomia histórica, que divide as variedades em Sativa, Indica e Ruderalis pode-se apresentar a versão que a Manga Rosa é uma variedade Sativa, dioica, com folhas de cinco pontas, galhos longos que nascem em diferentes padrões, resistente ao fotoperíodo equatorial que possui seu ciclo da semente até floração de até 160 dias. A preservação e o estudo de variedades crioulas Brasileiras pode ser uma alternativa para pessoas e empresas portadoras de habeas corpus.
¹ (RIBEIRO, O.; SILVA, G., 2021) – Fotografia de Plantio em Comunidades Agrícolas de Subsistência.
² Booth, M. 2003. Cannabis: A History. New York: St. Martin’s Press.
³ Oser, J. 1963. The Evolution of Economic Thought. Harcourt, Brace & World, Inc.
⁴ DIAS. R, RODRIGUES, W., Comercio Exterior: Teoria e Gestão. Editora Atlas, São Paulo 2014.
⁵ WARF, B., HIGH POINTS: AN HISTORICAL GEOGRAPHY OF CANNABIS, Geographical Review 104 (4): 414–438, October 2014
⁶ Angrosino, M. 2003. Rum and Ganja: Indenture, Drug Foods, Labor Motivation, and the Evolution of the Modern Sugar Industry in Trinidad. In Drugs, Labor, and Colonial Expansion, edited by W. Jankowiak and D. Bradburd, 101–116. Tucson: University of Arizona Press. Anthony, D. 20
⁷ WARF, B., HIGH POINTS: AN HISTORICAL GEOGRAPHY OF CANNABIS, Geographical Review 104 (4): 414–438, October 2014
⁸ Brandão, M., D., Ciclos de atenção à maconha no Brasil, Revista da Biologia (2014) 13(1):1-10 DOI: 10.7594/revbio.13.01.01
⁹ Brandão, M., D., O 2016. O ‘problema público’ da maconha no Brasil: Anotações sobre quatro ciclos de atores, interesses e controvérsias. DILEMAS: Revista de Estudos de Conflito e Controle Social - Vol. 7 - no 4 - OUT/NOV/DEZ - pp. 703-740
¹⁰ ROSA, L. Levantamento geográfico da produção de linho cânhamo na América Portuguesa (1716-1822): análise preliminar, 8 Conferência de história econômica, 2020. X Encontro de Pós-Graduação em História.
¹¹ (RIBEIRO, O.; SILVA, G., 2020) Fotografia de Plantio em terras Indígenas.
¹² (RIBEIRO, O.; SILVA, G., 2021) Plantio em Comunidades Agrícolas de Subsistência.
¹³ (RIBEIRO, O.; SILVA, G., 2020) Fotografia de Plantio em terras Indígenas.
*Paulo Jordão é doutor em Administração, professor da Universidade Federal do Piauí, sócio da Cannapi e colunista do Sechat.
As opiniões veiculadas nesse artigo são pessoais e de responsabilidade de seus autores.
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