Betão de cânhamo: material milenar desponta como solução para os desafios climáticos

Utilizado há mais de 1500 anos, o betão de cânhamo ganha espaço como alternativa ecológica para enfrentar os desafios ambientais na construção moderna

Publicada em 03/09/2024

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Imagem ilustrativa | Freepik

O betão de cânhamo, feito a partir de cânhamo, cal e água, está emergindo como uma alternativa sustentável ao concreto tradicional, atraindo o interesse de arquitetos e proprietários preocupados com o impacto ambiental da construção civil. Embora pareça uma inovação recente, este material tem origens que remontam a mais de 1500 anos.




O tradicional betão é uma argamassa composta de cimento, cascalho, areia e água.

 

A história do betão de cânhamo inclui seu uso no século VI, em rebocos que ainda revestem as Grutas de Ellora, na Índia. Na Europa, resquícios do material foram encontrados em pontes merovíngias na França, país que liderou, na década de 1980, a modernização do cânhamo na construção.

A UK Hempcrete, empresa britânica especializada em cimento de cânhamo, destaca que a sustentabilidade é o foco central no desenvolvimento desse material. Segundo Liam Donohoe, diretor de operações da empresa, a busca atual é por uma fórmula consistente que possa ser usada em qualquer canteiro de obras sem comprometer as baixas emissões de carbono. 

"O futuro do cimento de cânhamo será o pré-fabrico, utilizando métodos de construção modulares. Já temos casas com estrutura de madeira em grande parte montadas em fábricas, levadas para o local e construídas lá. Não há razão para que as casas de cânhamo não possam ser pré-fabricadas de forma semelhante", disse Donohoe à Euronews Culture.

 

Sustentabilidade e adaptação moderna
 

A crescente preocupação com o meio ambiente e as mudanças nas rotinas pós-Covid, que aumentaram o tempo das pessoas em casa, trouxeram novas oportunidades para o betão de cânhamo. Diferente dos isolamentos sintéticos, que aquecem e resfriam rapidamente, o betão de cânhamo retém o calor por mais tempo, adaptando-se melhor ao novo estilo de vida onde o conforto térmico é essencial.

 

A Europa lidera o setor



Na Europa, países como França, Bélgica, Alemanha e Itália utilizam o betão de cânhamo tanto para reabilitar edifícios antigos quanto em novas construções. A Isohemp, empresa belga, é uma das maiores produtoras, fabricando mais de um milhão de blocos por ano. Seus projetos já evitaram a emissão de 18 mil toneladas de CO2, segundo dados da própria empresa.

No Reino Unido, embora o uso do betão de cânhamo ainda seja menos disseminado, a UK Hempcrete já contabiliza entre 300 e 400 casas construídas com o material. Donohoe acredita que o próximo passo para expandir seu uso é a adoção de métodos de construção modular.

 

O que o futuro reserva?



Além da construção residencial, o betão de cânhamo está sendo utilizado em diversas outras áreas. A BMW, por exemplo, usa polímeros de cânhamo nos painéis das portas do seu carro elétrico i3. Em zonas sísmicas da Itália, o material é preferido por sua flexibilidade, que permite suportar melhor os movimentos da terra.

Com o avanço das pesquisas e a crescente demanda por soluções sustentáveis, o betão de cânhamo se posiciona como um material com grande potencial para transformar a construção civil, conciliando tradição e inovação em prol do meio ambiente.