Maconha e menstruação: uma aliança antiga que está voltando à tona
Especialista explica os benefícios da planta para quem menstrua e por que ainda enfrentamos tanto estigma.
Publicada em 30/05/2025

Cólica, TPM e sono ruim? A cannabis pode ajudar | Imagem: CanvaPro
Menstruar é natural. Sentir dor, desconforto, oscilar o humor, perder o sono e ainda seguir sorrindo como se nada estivesse acontecendo… também é a realidade de milhões de mulheres todos os meses. E quando o corpo pede pausa, mas o mundo não para, muitas delas têm encontrado na cannabis um abrigo terapêutico.
Não é de hoje que a planta é usada para lidar com sintomas menstruais. Por milênios, mulheres e pessoas que menstruam recorreram às propriedades medicinais da cannabis para suavizar cólicas, equilibrar o humor e relaxar o corpo. E embora os tempos tenham mudado, o tabu, tanto em torno da menstruação quanto da maconha, ainda resiste. Mas há vozes que desafiam esse silêncio.
Uma dessas vozes é a de Tabitha Fritz, especialista em saúde feminina e cannabis que, encerrando o Mês de Conscientização Menstrual avaliou que quanto mais a mulher entender o próprio corpo e como a planta atua nele, melhor, afinal, essa compreensão é o primeiro passo para um cuidado mais consciente e humano.
O que o útero sente, a cannabis entende
Segundo ela, o sistema reprodutor feminino é riquíssimo em receptores endocanabinoides, o que significa que responde muito bem à cannabis. "Durante o ciclo, o estrogênio oscila, e isso interfere diretamente na nossa sensibilidade aos efeitos da planta", explica Tabitha. "Quando os níveis estão baixos, como na TPM, somos menos sensíveis ao THC. Já na ovulação, com estrogênio em alta, os efeitos tendem a ser mais intensos".
É por isso que a experiência com cannabis pode, e deve, ser adaptada às diferentes fases do ciclo. Cólica, dor de cabeça, insônia, irritabilidade, inchaço, intestino preso ou solto… tudo isso pode ser suavizado com a ajuda da planta, compreendem?
E como usar?
Fumar, vaporizar, ingerir óleos, cápsulas, comestíveis... qualquer forma de uso pode trazer alívio, mas Tabitha destaca os métodos de aplicação interna como os mais eficazes para quem tem útero. “Supositórios, tampões e até lubrificantes com infusão de cannabis oferecem uma resposta local mais direta e eficiente”, diz. E quando a dor sobe para as têmporas, uma pomada de cannabis nas laterais da cabeça e pescoço também pode ajudar bastante.
Quem está começando pode optar por produtos apenas com CBD, o canabinoide não psicotrópico. “É uma maneira segura de experimentar os efeitos terapêuticos da planta sem o ‘barato’ causado pelo THC”, orienta.
Quebrando silêncios
Mas se a cannabis é tão eficaz, por que ainda é tão pouco usada nesse contexto? Tabitha é direta: estigma. “A menstruação foi silenciada por séculos. A cannabis também. As duas experiências compartilham uma história de invisibilidade e ignorância institucionalizada, inclusive por parte de profissionais de saúde, que não recebem formação adequada sobre os ciclos hormonais ou sobre os usos medicinais da planta”, avalia.
Essa falta de informação impacta profundamente a vida de mulheres, meninas e pessoas que menstruam, que muitas vezes seguem convivendo com dores e desconfortos que poderiam ser evitados.
Intuição, ancestralidade e um futuro possível
Apesar dos desafios, o cenário está mudando. Com a ampliação do acesso à informação, a legalização avançando em diversos países e o fortalecimento dos movimentos feministas, o uso da cannabis para a saúde menstrual começa a sair das sombras.
Ainda de acordo com Tabitha, há uma beleza espiritual nessa conexão. “A menstruação, quando acolhida com consciência, revela muito sobre nós mesmas. E a cannabis também pode ser um instrumento de reconexão com essa intuição ancestral”, explica.
Se o futuro chegou, é hora de fazer as pazes com o nosso corpo e com as plantas que nos acompanham desde sempre. E talvez, em meio à cólica do dia difícil, uma nova história de cuidado e acolhimento esteja apenas começando.
Com El Planteo.