Terapias psicodélicas: saiba como a MDMA está revolucionando o cuidado com veteranos

“Esse tipo de estudo traz legitimidade ao uso terapêutico dessas substância…É uma oportunidade para desconstruir preconceitos e abrir caminho para regulamentações mais equilibradas”, afirma o especialista em psicodélicos.

Publicada em 16/12/2024

capa

Imagem Ilustrativa: IA

O Departamento de Assuntos de Veteranos dos Estados Unidos (VA) deu um passo inédito ao financiar, com US$ 1,5 milhão, o primeiro estudo em meio século sobre a eficácia da MDMA no tratamento de transtornos de estresse pós-traumático (TEPT) e por uso de álcool (TUA) em veteranos.


A iniciativa, que simboliza uma nova era para as terapias psicodélicas, pode mudar não só a vida de milhares de veteranos, mas também o panorama global das abordagens terapêuticas para transtornos mentais graves.


MDMA: empatia e confiança no centro do tratamento


Para Sergio Fadul, especialista em psicodélicos e empresário à frente da Biocase, o uso da MDMA representa uma revolução no tratamento de traumas profundos. Diferentemente dos medicamentos tradicionais, que muitas vezes apenas mascaram os sintomas, a substância cria um ambiente terapêutico único ao reduzir o medo e facilitar o enfrentamento de memórias traumáticas.


“Nos Estados Unidos, estados como o Texas já estão aplicando protocolos experimentais com MDMA para tratar veteranos de guerra. Essa abordagem não só é transformadora como também tem ajudado a romper barreiras emocionais, especialmente em pacientes resistentes aos tratamentos convencionais”, explica Fadul.
Além disso, ele destaca que a substância promove empatia e aumenta a confiança, elementos essenciais para veteranos que enfrentam dificuldades em se abrir emocionalmente. 


“Essas características tornam a MDMA uma ferramenta poderosa para criar um ambiente seguro e estruturado, onde o paciente pode revisitar e processar seus traumas com eficácia”, completa.


Um marco na aceitação e regulamentação


O financiamento público desse estudo não é apenas um avanço científico, mas também um gesto político e histórico. Segundo Fadul, esse passo significa enfrentar décadas de propaganda negativa sobre os psicodélicos, propagada principalmente pelos Estados Unidos a partir dos anos 60.


“Esse tipo de estudo traz legitimidade ao uso terapêutico dessas substâncias, mostrando seu potencial clínico com dados confiáveis. É uma oportunidade para desconstruir preconceitos e abrir caminho para regulamentações mais equilibradas, integrando as terapias psicodélicas de forma responsável ao sistema de saúde”, avalia.


Mudança na percepção pública


Uma das barreiras mais significativas para o uso de psicodélicos é a percepção pública, que ainda carrega estigmas sobre essas substâncias. No entanto, iniciativas como a do VA podem ajudar a transformar essa visão.
“Dois mitos precisam ser quebrados. Primeiro, o de que psicodélicos são apenas drogas recreativas. Segundo, o medo de que quem utiliza não volte ao normal. Quando administrados em contextos terapêuticos corretos, os pacientes têm experiências controladas e retornam à sua condição natural, mas com uma nova perspectiva sobre seus problemas”, pontua.


Ainda segundo o especialista, ao mostrar resultados concretos, o estudo pode aumentar a aceitação e o acesso às terapias psicodélicas, beneficiando tanto os pacientes quanto a sociedade como um todo.


Parcerias para acelerar inovações


Fadul também ressalta a importância da união entre governo, academia e setor privado para o avanço dessas terapias. Ele explica que cada um desempenha um papel crucial: o governo garante financiamento estável e transparência, a academia assegura o rigor científico e o setor privado traz inovação.


“Essa parceria é o caminho para acelerar o desenvolvimento de protocolos seguros e eficazes. No Brasil, já vemos iniciativas semelhantes surgindo no setor privado, o que demonstra o potencial global dessas terapias. O objetivo final é tornar essas soluções acessíveis para quem mais precisa”, conclui.


A pesquisa do VA não é apenas uma oportunidade para tratar veteranos, mas também um símbolo de esperança para milhões de pessoas que enfrentam transtornos mentais graves. Se bem-sucedida, pode abrir uma nova fronteira na medicina e transformar vidas ao redor do mundo.