Ora pois, a ligação de Portugal e Brasil em relação à cannabis é fixe ou é do pioriu?

Em uma verdadeira viagem no tempo, Pedro Sabaciauskis faz um paralelo entre o cânhamo do Brasil Colônia e cenário atual da cannabis

Publicada em 19/09/2021

capa
Compartilhe:

Coluna de Pedro Sabaciauskis

Caros leitores, antes de mais nada deixe-me explicar, “fixe” é legal, massa, irado demais e “do pioriu” é ruim, péssimo, não é legal em gírias lusitanas e é disso que vamos falar hoje.

Bom, todos sabem que Portugal foi responsável pela chegada da cannabis no Brasil. Quem é do mundo da cannabis, já ouviu a velha e verdadeira história sobre as velas e cordas das caravelas de Cabral que eram de cânhamo. Mas poucos sabem que, além dela estar presente como os  dois itens principais de qualquer navio da época (corda e vela), ela também estava na pochete dos desbravadores “cannabistas” como item básico de sobrevivência e nos porões dos navios negreiros,  talvez escondida dentro do dread de um escravo “maconheiro”, pois penso que era um dos itens de sobrevivência principal pro nosso Rasta Raiz para suportar as dores terríveis da escravidão

Ok, vou explicar melhor.

O ”cannabista” daquela época eram os exploradores, que chegaram em suas expedições com um kit de sobrevivência contendo sementes de cânhamo, que naquele tempo servia para quase tudo, mas, principalmente para tornar as pequenas e incipientes comunidades em verdadeiras forças motrizes de produção de cânhamo (cannabis), que era produzido a pedido das feitorias. Rapidinho, você sabe o que eram as  feitorias? Não, então bora…

- Era um dos postos avançados do império colonial português, representando ao mesmo tempo os interesses político-militares da Coroa e os interesses comerciais da nação. Muito comumente era conhecida como Feitoria da Fazenda Real.

Pois bem, lá estava o cânhamo (cannabis) servindo aos interesses "reais”, protegido por uma lei que garantia que toda plantação de cânhamo no Brasil pertencesse a Dom João VI. Isso mesmo que você leu, você plantava, mas quem era dono, era o reinado. Você podia pagar impostos com cânhamo. Interessante né!? Mas… me parece que continua muito parecido com os dias de hoje, se for pra servir o mercado e os interesses da  “realeza”, ok, tá tudo certo!

Porém, não podemos continuar jogando pra debaixo do tapete a diamba, a liamba, a makana, a maconha (cannabis) que chegou nos porões desse mesmo navio, que trouxe o progresso, mas também trouxe dor, muita dor. Dores físicas e psicológicas. Dor essa que só podia ser amenizada por uma planta sagrada: a diamba (cannabis). Planta essa que tinha que vir moqueada em bonecas de pano, nas tangas e em qualquer lugar que pudessem resguardar o conforto do analgésico, anestésico, anti-inflamatório, desestressante e antidepressivo, que aquela santa erva trazia após um dia exaustivo de trabalho e chibatadas. Pois bem, parece que isso também continua igual tanto tempo depois. Hoje, escravos  modernos, após um dia exaustivo de trabalho e de chibatadas morais, recorrem a um baseado de “maconha” (cannabis) para suportar as dores e feridas do cotidiano. E digo mais, temos muitos escravos modernos que fumam desde sempre e se escondem para garantir o seu status social. Para esses, eu  deixo um recado: deem um grito de liberdade e saiam dos armários, meus caros, pois o mundo está mudando e vocês são parte desta mudança, querendo ou não, então, estejam de peito aberto para defender essa mudança. No futuro, você terá orgulho disso.

O curioso de toda essa história é que a produção “cânhamo” (cannabis) acabou no Brasil, mas o consumo de  “maconha” (cannabis) sempre existiu e existe até hj! Graças as desobediências civis de negros, índios e traficantes. Ou seja, temos um débito moral  com essas pessoas, pois se hoje temos acesso a remédios artesanais é graças a eles,  que mantiveram viva essa Planta Sagrada em território nacional. Se dependêssemos das “realezas”, estaríamos, mais uma vez, à mercê dos interesses mercadológicos que, até hoje, insistem em nos dominar. Mas, aviso aos navegantes: vai ser difícil segurar, pois esse remédio sagrado cresce em qualquer esquina, é muito fácil de conseguir as sementes e, em um país continental, nunca conseguiram e nunca vão conseguir fiscalizar ou proibir esse avanço. Ou seja, na prática, a cannabis está liberada no país há 500 anos!

Mas vamos à pergunta do título: “A  ligação de Portugal e do Brasil em relação à cannabis é “fixe” ou é do “pioriu”? Eu diria que no passado era do “PIORIU” e no futuro vai ser “FIXE”. Sabe por quê? Porque temos ligações antropofágicas a resgatar, um débito com a história e muita experiência  para trocar! Como tenho certeza disso? Porque já existe uma ponte transatlântica estabelecida entre nós em um movimento sem volta que se materializará nos dias 20 e 21 de novembro de 2022, no prédio da alfândega na beira do Rio Douro, na cidade do Porto, a Invicta de Portugal, na CANNADOURO, onde colonizados visitarão os colonizadores para explicar a jabuticanabica brasileira e aprender a receita de bacalhau no azeite cannabico - que eles fazem muito bem -, além da lei de drogas portuguesa, que é muito melhor que a nossa!!

Ora pois, bora cruzar o Atlântico e juntar a “Galera do Zucas” com a “Malta dos Tugas”em busca da lusofania cannabica!

As opiniões veiculadas nesse artigo são pessoais e de responsabilidade de seus autores.

Veja também:

https://www.sechat.com.br/cannabis-no-sus-e-hora-de-o-brasil-recuperar-sua-capacidade-de-inovacao/
https://www.sechat.com.br/vida-com-qualidade/
https://www.sechat.com.br/a-fonte-verde-de-valor-agregado-para-a-industria/