Piauhy, empresa de cannabis nascida no Brasil, planeja investir US$ 5 milhões em Portugal

Publicada em 12/07/2019

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A Piauhy é uma empresa de cannabis medicinal que tem origem em São Paulo, um CEO natural de Brasília e foi batizada com a grafia antiga de um estado nordestino. No entanto, ela não gera nenhum centavo no Brasil. A companhia cresceu mesmo no Uruguai, onde foi pioneira na instalação de um laboratório farmacêutico certificado para produção de remédios com base de maconha. No país vizinho, são mais de 40 funcionários diretos. Agora, o grupo prepara um plano de investimentos na ordem de US$ 5 milhões nas cidades de Évora e Aveiro, em Portugal.

"Hoje, você pode montar uma empresa de cannabis medicinal no Brasil? A resposta é não!", questiona Eduardo Sampaio, o presidente do grupo (foto). "Essa é uma indústria regulada, então no dia que Anvisa permitir que se instale uma indústria aqui, nós iremos. Seremos o primeiro da fila", garante o empresário, que ficou nada animado com proposta da Anvisa apresentada no dia 11 de junho e lamentou que não possa investir esses recursos no seu próprio país.

O consumo da maconha terapêutica se tornou legal em Portugal no mês de fevereiro. E segundo Sampaio, a captação de recursos para o investimento no país europeu está acontecendo num ambiente muito mais favorável do que 5 anos atrás, quando ele começou nesse ramo pela América do Sul. Há mais entendimento e menos ceticismo por parte dos investidores, observa. Ele diz que há empresários criando fundos de investimentos e outros aplicando diretamente em projetos específicos, como é o caso da operação portuguesa.

"Do ponto de vista do empresário, e não da família que necessita disso, o fulano já foi para Miami, para a Califórnia. Já leu no New York Times, no Wall Street Journal e na Forbes que isso está dando certo. Que tem empresas prosperando".

Processamento de cânhamo e rota biossintética

A Piauhy pretende construir três unidades de negócio em Portugal, sendo a principal delas a produção de medicamentos com cannabis a partir do laboratório em Évora. O foco serão remédios no controle de epilepsia refratária. A segunda unidade, na cidade de Aveiro, irá se concentrar no processamento do cânhamo, variedade de cannabis com alto teor de canabidiol (CBD) e quase nada de tetrahidrocanabinol (THC, princípio psicoativo da planta). O objetivo, segundo Sampaio, é produzir sementes ricas em em CBD, de 10% a 15%, e baixíssima concentração de THC, algo menor do que 0,5%. 

"Cresceu muito a demanda por CBD para fazer cosméticos, bebidas, sorvetes, cappuccinos. E consequentemente foram desenvolvidas sementes de cânhamo que tem alta concentração de CBD. Até 20 anos atrás, quem você encontrasse plantando cânhamo era basicamente para a indústria têxtil, para fibra".

Por fim, o último braço do grupo é a produção artificial de canabinóides, a chamada "rota biossintética". Conforme explicou Eduardo Sampaio, é a biotecnologia similar a que desenvolveu quimicamente a insulina, substância antes extraída do porco.  

"É você fabricar canabinóide, não da planta, mas a partir de bactérias, algas, etc. (...) Existem algumas moléculas sintéticas que foram criadas nos últimos 10 anos que são parecidas com os canabinóides e que têm um efeito parecido nos nossos neuroreceptores. De uma forma que não é original da planta, eu vou produzir os mesmos fitocanabinóides, THC, CBD, CBN, CBG".

Piauhy é um grupo brasileiro?

O presidente é brasileiro, mas o grupo conta com sócios de diversas nacionalidades: da Itália, Argentina, Portugal, França, Uruguai e, futuramente dos Estados Unidos. Os profissionais vão desde empresários a engenheiros e neurocientistas.

"É brasileiro, mas também é internacional. A gente não tem só sócios brasileiros e não está investindo no Brasil. Talvez faça mais sentido dizer que é um grupo internacional de origem brasileira", explica Sampaio.

O CEO da Piauhy também revela a origem do nome que batizou a empresa. "O Piauí virou uma coisa 'cool'. Você tem a Revista Piauí, com toda sua tradição. O estado do Piauí também está dando certo, tem aquela coisa do estado menos favorecido mas que está captando uma projeção maior do que seu próprio tamanho. E finalmente: a minha mãe é piauiense. Então juntou tudo!".

Crédito da foto: Piauhy/divulgação

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