Por que cantoras brasileiras estão gravando músicas que enaltecem a maconha?

"Uma onda, ou melhor, uma brisa, está invadindo o Brasil: é a era da naturalização da maconha"

Publicada em 10/01/2020

capa
Compartilhe:

Por Elis Bohrer, cantora e compositora, para o portal Mais Minas. Reprodução autorizada para o Sechat.

Uma onda, ou melhor “brisa”, está invadindo o Brasil, é a era da naturalização da maconha. Após Bob Marley em “Legalize It”, e Madonna com o hit  “Devil Pray” cantarem sobre o assunto, agora abaixo da linha do equador, cantoras de renome aderiram a ideia e estão cada vez mais gravando hits sobre a erva verde que deixa as pessoas numa “onda diferente”.

Não que isso seja uma novidade em terras brasilis, pois o Marcelo D2, ex-vocalista do Planet Hemp já escrevia sobre a legalização da maconha Em “Legalize Já” e outras músicas, assim como o rapper Gabriel o Pensador, em “Cachimbo da Paz”, no entanto, as músicas alcançavam um público específico, e não era globalizada como hoje, na era da internet onde crianças, jovens e idosos, enfim todo o tipo de público alcança.

Nas mais diversas plataformas musicais que existem hoje na internet, que antes eram tidas como mídias livres, onde as pessoas escolhiam o que queriam ouvir, houve uma mudança. Hoje, assim como na antiga rádio e TV, quando nos manipulavam, nos obrigando a ouvir o que eles diziam ou recebia para dizer que era o melhor que havia no Brasil, a internet também tem nos obrigado a ouvir o que não queremos.

Através de anúncios, ou codificações realizadas por meio de algorítimos que colocam as músicas que as gravadoras querem que “bombe” no topo das plataformas.  É o que acontece por exemplo no Youtube, quando você vai no menu e escolhe a opção “em alta”, além de vídeos aleatórios, outros diversos de música estarão ali também, e como a tendência é de que o público acesse o que está sendo mais acessado na internet, o efeito “manada” contribui para que os “hits” cheguem até a maioria dos internautas.

No entanto essa não é exatamente uma regra, ainda que raro, existem artistas que surgem como fenômenos da internet único e puramente pelo talento.

O ranqueamento de redes sociais, vídeos e plataformas de músicas é uma estratégia que tem sido muito usada pelos artistas do momento, com isso, a música está se transformando cada vez mais online, o CD físico e até mesmo o pen drive ficaram no passado, e os aplicativos de música vem dominando o mercado fonográfico.

Você deve está se perguntando “o que isso tem a ver com o título dessa matéria?”, e eu te respondo que tudo, pois através desse maior número de pessoas alcançadas, e a liberdade que a internet oferece aos artistas, é possível disseminar mais rapidamente uma ideia, e parece que a pauta das gravadoras no momento é a legalização, ou regulamentação da maconha. Uma vez que um ideal cai no gosto do povo, torna-se mais fácil de ser aprovado.

Diversos fatores podem estar influenciando para que o mercado da música queira de fato legalizar a verdinha, e um deles é a descriminalização do negro que sofre e morre em decorrência do tráfico de drogas. Muitos acreditam que se houver de faro a legalização das drogas, o número de negros mortos no Brasil irá diminuir. Sim, há mais negros do que brancos nas periferias do país.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas, que realizou um levantamento em 2016, 78,5% da população POBRE  do Brasil é negra (pretos ou pardos), os outros 20,5% das pessoas que vivem em situação de pobreza são brancos.

Logo, quando uma pessoas diz que “também existem brancos nas favelas” ela não está 100% errada, há sim, mas em um número bem inferior com relação aos negros, logo devemos concluir que a favela é negra sim e por isso mais negros morrem não apenas pelo tráfico da maconha, como de outras drogas ilícitas que são comercializadas no país.

Outro ponto de vista que deve ser avaliado sobre a ascensão do ideal de liberação da maconha no Brasil é o que podemos chamar de “green money“, assim como aconteceu com as comunidades LGBTQI+´s espalhadas pelo país, onde artistas se aproveitaram da efervescência do assunto “combate a homofobia”, e o usaram como escada para subir ao sucesso sem ter a maior familiarização com a pauta (e logo as máscaras caíram), muitos que hoje estão lá, bem longe da realidade da favela podem estar usando a “legalização da maconha” como trampolim para a fama.

Há uma terceira “pessoa” que pode está fomentando essa cultura no país, ela se chama indústria. Tendo em vista que a venda da maconha pode gerar muito lucro para as empresas que já devem estar enxergando-a como o negócio do futuro, não seria leviano dizer que há grupos gananciosos que estão pensando apenas no grande capital que a liberação da cannabis pode gerar para si, sem se preocupar com demais danos que isso pode trazer para a sociedade.

Inclusive esses empresários podem caminhar de mãos dadas com o governo, que por sua vez também lucra, pois uma vez regulamentada, a venda da maconha vai gerar impostos, essa verba vai para os cofres públicos e pode voltar para a população como investimento, ou não (risos).

Enquanto isso, Anitta segue cantando “Onda Diferente”, onde ela e sua parceira Ludmilla simulam estar cultivando um plantio que tem folhas bem parecidas com a maconha, “Sai, sai, sai da minha frente, hoje eu vou dar trabalho numa onda diferente, bateu”, mesma música em que o rapper Snoop Doog diz “e eu serei o recurso, nascido e criado no LBC, tudo sobre o DBG, gim e suco, erva daninha crônica” e no final “Fume, queime, acenda, despeje”.

A polêmica canção de Ludmilla, “eu fiz um pé, lá no meu quintal, tô vendendo a grama da verdinha a  R$ 1”, tem sido debatida inclusive no Senado, pois muitos acreditam que faz apologia ao crime organizado, a música continua sem censura alguma nas redes sociais, inclusive em uma parte da música a artista canta “fiquei loucona, chapadona, só com a marola, Ruhama”.

Outra artista que parece ter aderido à “moda” é Iza, com a canção “Brisa”, música que ganhou o Brasil e tem o seguinte refrão: “vem que é da boa e tu vai gostar, eu tô na brisa, nada me abala que delícia”.

Glória Groove lançou recentemente, há cerca de dois meses, o hit ” Sedanapô”. No clip, a cantora aparece toda de verde, com uma temática bem diferente, explorando personagens fictícios como gnomos, fadas, etc. A letra da música é romântica, nela a artista canta que “Ih, alá, olha o que é que ‘cê fez, me acendeu, puxou, prendeu, passou outra vez, ih, alá, ó que situação, eu nunca aprendi a não ficar na tua mão, você quer dar uma, não quer andar a dois, você me enrola, me aperta, guarda pra depois, deixa embolada, eu já ‘to bolada”.

Nas entrelinhas da canção, a artista usa como referência o ato de enrolar um baseado, usando as mesmas gírias dos usuários da maconha para expressar que o seu “amor” a estaria enrolando, e deixando-a se sentir inferior como a sedanapô. Seda no dialeto dos usuários é o papel usado para enrolar, ou “bolar” a erva. A sedanapô é o apelido do guardanapo de papel, que para os usuários não é muito bom. Hoje existem papeis específicos com para a mesma finalidade.

Ainda que as canções possam ter duplo sentido, nós adultos sabemos sobre o que as artistas estão cantando, mesmo que elas neguem que estão falando sobre a maconha. Já a motivação que as levaram a divulgar esse tipo de som cabe a cada um tirar suas conclusões. Tire você mesmo a sua!