Sem recursos para importar óleo de Cannabis, carioca corre o risco de ter outra perna amputada

Cabelereiro recorreu ao óleo de Cannabis quando passou a sentir dores que chegavam a lhe causar desmaios

Publicada em 23/01/2020

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Por Caroline Apple

A vida do cabelereiro Sérgio Jesus de Oliveira, de 60 anos, foi forjada na beleza. Talentoso e bem-sucedido, o carioca logo se aproximou da alta sociedade de Macaé (RJ). Mulheres ricas e exigentes de todos os tipos o procuravam pelo mesmo motivo: aumentar a autoestima por meio dos cortes de cabelo incríveis que Sérgio era capaz de promover. E foi nessa toada que sua vida seguiu até meados de 2019.

Mas como promover autoestimaquando você se vê, praticamente, do dia para noite, com uma perna amputada?Como estimular a beleza diante de um cenário de dores alucinantes que nem mesmoos remédios alopáticos mais fortes eram capazes de sanar?

Assim tem sido a vida do cabelereirocarioca desde que sua doença arterial se agravou em julho de 2019. Foi dando umworkshop em seu salão que Sérgio notou que seu pé estava vermelho, latejando. Oque deveria ser uma simples ida ao hospital se tornou o início de uma jornadaque está longe do fim.

No hospital, as notícias nãoeram promissoras. Logo que chegou teve que ouvir da enfermeira que seu caso erade amputação. Desesperado e com medo, Sérgio foi sendo submetido a diversosprocedimentos para salvar sua perna, que não recebia mais irrigação. Odiagnóstico era de tromboangeíte obliterante, doença associada ao tabagismo. Sérgiogarante que fumou bem pouco durante a vida, mas que foi o suficiente paraaflorar sua propensão à patologia.

Após três cirurgias e a aplicaçãointravenosa de um remédio importado da Alemanha, não teve outra saída: a pernado cabelereiro foi amputada acima do joelho. Então, sua vida começa a serresumida em dores dilacerantes. Dores que nem tramal e morfina davam conta.Dores que o fizeram quase que morrer em vida. A baixa autoestima e depressãotornaram-se suas companheiras.

Cannabis como esperança

Foi em meio a uma rotinamarcada pela dor e o processo de aceitação de não ter mais uma perna que surgiua possibilidade de Sérgio experimentar o óleo de Cannabis. Um amigo, ao ver seudesespero, ofereceu o óleo como uma possível opção para o seu caso.

Sem pestanejar, Sérgioexperimentou o óleo de Cannabis. No dia seguinte notou uma melhorasignificativa nas dores. Então, gradativamente, sua depressão foi o deixando, aalegria, a esperança e a resiliência o invadiram e os índices de ansiedadebaixaram. A aceitação da realidade passou a ficar menos dolorosa e até voltou atrabalhar, mesmo sentado.

Sérgio entrou em contato comas associações Apepi e ABRAcannabis, que passaram a assistir o caso dele deperto. Porém, o óleo que tinha conseguido acabou. Durou 45 dias. E foram osúnicos 45 dias sem dores desde que sua perna foi amputada em outubro.

Sem óleo e com toda a papeladapara fazer a importação dentro dos trâmites da lei, Sérgio agora chora ao sedar conta que não tem condições financeiras para importar o medicamente. Agora,o cabelereiro quer um Habeas Corpus para plantar, porém a doença não tem sidotão compreensiva com a falta de dinheiro de Sérgio.

As dores voltaram e a perna esquerda começa a dar sinal de que as coisas não estão indo bem. E não adianta recorrer aos óleos vendidos por aí de forma clandestina. A patologia grave e rara de Sérgio exige que o óleo seja feito com a cepa correta para o seu caso, na gradação correta, para que os vasos se dilatem, o coração bombeie mais sangue e a medicação chegue até as áreas afetadas pela doença.

E, mesmo que ele plante, um óleo de qualidade só poderia ser extraído de uma boa planta após cerca de seis meses.No páreo estão associações, advogados e amigos que se compadecem e levam pequenas doses de óleo, que ele garante fazer efeito por cerca de três dias. Mas, sem recursos, Sergio segue na luta contra o que ele chama de hipocrisia e falta de democracia de acesso aos medicamentos à base de Cannabis. Para ajudar na luta, o cabelereiro e mais dois amigos estão abrindo a Rede do Bem, uma associação em Macaé para ajudar outros pacientes que precisam tanto de ajuda quanto ele.