Um voto em favor da cannabis é o compromisso de todos nós

Em ano eleitoral, como saber se o seu candidato(a) apoia, ou não, a causa da cannabis?

Publicada em 27/05/2022

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Por Marcelo De Vita Grecco

Todo mundo sabe que teremos eleições gerais no Brasil no próximo dia 2 de outubro. O pleito já está aí, e esses meses restantes deste ano serão particularmente intensos. Tudo vai ser movido a política daqui para frente. Penso que devemos refletir sobre a importância deste momento especial para o nosso setor.

Raríssimas vezes falo de política neste espaço. Porém, neste ano, e particularmente, de agora em diante, será difícil não pensar em política, ou ficar à margem das movimentações em torno das eleições e o quanto elas são cruciais para a saúde da nossa democracia.

Não estou aqui para fazer política partidária em favor de ninguém, nem para procurar influenciar alguém a votar em A ou B. Mas quero, sim, lançar questões que acredito serem estratégicas, especialmente, neste ano eleitoral.

Uma delas, é por que não procurar saber a posição no tocante à cannabis de cada um dos postulantes a nos representar no Executivo e no Legislativo? O que eles pensam e conhecem até agora a respeito do emprego medicinal da cannabis e do cânhamo industrial?

Posicionamento 

É fundamental que saibamos de nossos candidatos, claramente, o seu posicionamento a respeito desse tema. Se têm o mínimo de conhecimento, ou interesse em aprender, acerca do potencial em termos econômicos, sociais e de bem-estar que o mercado legal da cannabis medicinal e do cânhamo industrial pode proporcionar às pessoas e à economia do país.

Se pretendemos avançar na discussão do futuro da cannabis no Brasil, não devemos menosprezar o poder que temos por intermédio do voto. Lembro que é o Congresso renovado que definirá a velocidade com a qual será construído o marco regulatório do mercado da cannabis neste país. O resultado das urnas vai ter influência na velocidade do andamento do Projeto de Lei 399/15, travado por parlamentares que representam parcela conservadora da sociedade.

Um político eleito em outubro para o Executivo que governe para toda a sociedade, certamente, terá sensibilidade para ouvir com atenção o que diz a ciência sobre os benefícios da cannabis. E uma resolução da Anvisa obedecerá a critérios puramente técnicos e científicos, quanto à questão do cânhamo industrial e suas diferenças psicoativas em relação a outras variedades de cannabis. 

O poder do voto

O desenvolvimento do mercado legal da cannabis no Brasil é um caminho árduo e difícil, mas sem volta. E o voto, certamente, é um dos instrumentos mais legítimos nessa nossa luta pelo avanço em prol do arcabouço legal que vai destravar e contribuir para o desenvolvimento de fato desse mercado.

Político não nasce sabendo. Por isso, reforço o nosso papel e compromisso de fazer chegar aos nossos congressistas informação de qualidade para que consigam enxergar com mais clareza o nosso propósito. E quanto mais elegermos políticos sensíveis à nossa causa, elevaremos a qualidade da nossa representação no Congresso e das discussões democráticas em torno da matéria.

Deputados e senadores precisam conhecer de perto seus eleitores, muitos deles pacientes, ou parentes próximos de quem se beneficia do uso terapêutico da cannabis e do cânhamo. A maioria das vezes, isso após duras batalhas judiciais para garantir seu direito de viver com melhor qualidade de vida. Isso somente no campo medicinal da planta.

Sem indiferença

Em outra frente, a do cânhamo, os parlamentares precisam entender que o Brasil não pode ficar alheio diante do enorme potencial dessa planta que serve de matéria-prima para milhares de aplicações industriais. Nossos políticos não podem permanecer indiferentes a esse novo mercado, pujante já em diversos países, alguns bem próximos da gente, por desconhecimento ou por puro preconceito. 

Será que nossos políticos têm conhecimento das propriedades nutricionais do cânhamo? Deputados e senadores sabem que o cânhamo seria uma alternativa à escassez de alimentos que o mundo enfrenta, sobretudo diante de crises como a da pandemia, e agora aquela provocada pelo conflito no leste europeu? As mesmas indagações valem para quem for eleito o presidente da República Federativa do Brasil.

Esse trabalho de formiguinha deve ser realizado por todos nós neste período pré-eleitoral. Coincidência ou não, é a partir desse momento que antecede as eleições que boa parte dos políticos, interessados em se eleger ou se reeleger, fica mais atenta às demandas do seu eleitorado.

Sem tabu

O assunto cannabis já não é mais um tabu. É tema levado com frequência ao debate com a sociedade, por intermédio até mesmo de políticos de todos os escalões. 

Exemplos não faltam, como o “Primeiro Seminário sobre Cannabis Medicinal e Cânhamo Industrial", realizado recentemente pela Câmara Distrital de Brasília. Aplaudimos de pé a iniciativa do deputado distrital Leandro Grass (PV).

O assunto é tema também na Assembleia Legislativa de São Paulo, com a “Frente Parlamentar em Defesa do Cânhamo Industrial”, liderada pelo deputado Sérgio Victor (Partido Novo). 

Voto

A discussão sobre cannabis está até mesmo em câmaras municipais, como a de São Paulo e de Porto Alegre, a exemplo das iniciativas da vereadora paulistana Janaína Lima (Partido Novo) e do vereador porto-alegrense Leonel Radde (PT). Queremos ver o tema cada vez mais presente por todo o país, mas, principalmente, em Brasília, no Congresso Nacional.

Hoje, convivemos com um Congresso e um Executivo conservadores. Faz parte do jogo democrático abrigar todos os segmentos da sociedade, concordemos ou não com seus pensamentos. Mas, a partir de 2023, isso pode e deve mudar. Ou melhorar, nem que seja para proporcionar o ambiente ideal para o debate democrático e em bom nível sobre cannabis. Só depende de cada um de nós, do nosso voto.

As opiniões veiculadas nesse artigo são pessoais e de responsabilidade de seus autores.

Sobre o autor: Marcelo Grecco diretor de Marketing da The Green Hub, consultoria e aceleradora de startups com foco exclusivo no mercado legal da cannabis.