USP é a primeira em produção de artigos científicos sobre canabidiol

Estudo científico internacional aponta que quatro professores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto estão entre os dez que mais produziram estudos na área

Publicada em 14/06/2022

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Por Jacqueline Passos (com informações de Jornal da USP - Rose Talamone)

A análise “Global Trends in Cannabis and Cannabidiol Research from 1940 to 2019” feita entre os 1.167 artigos científicos publicados entre 1940 e 2019, apontou que a Universidade de São Paulo (USP) é a instituição que mais publica artigos sobre o canabidiol (CBD) no mundo. Em segundo lugar, está o King’s College London, do Reino Unido, com menos que o dobro de publicações da primeira colocada, seguido pela Universidade de Jerusalém, em Israel e, em quarto lugar, pelo Instituto Nacional de Abuso de Drogas dos Estados Unidos.

Entre os dez pesquisadores do mundo que mais publicam, quatro são da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) USP: Francisco Silveira Guimarães, Antonio Waldo Zuardi, José Alexandre Crippa e Jaime Hallak e ocuparam primeiro, segundo, quinto e sétimo lugares, respectivamente. Os 1.167 artigos avaliados, sendo 884 artigos de pesquisa e 283 de revisão, foram publicados por 62 países diferentes, com Estados Unidos, Reino Unido, Itália, Brasil e Canadá liderando as publicações.  

O estudo, publicado recentemente na revista Current Pharmaceutical Biotechnology, usou três softwares para analisar o desempenho de países, instituições, autores e periódicos e considerou as principais bases de dados de relevância científica. 

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Os critérios avaliados no estudo foram não só o número de publicações, mas também diversos parâmetros bibliométricos, em especial o número total de produção, o escore global de citação e o índice-h (indicador de desempenho que analisa de forma quantitativa a produção científica de um autor, medindo, ao mesmo tempo, a sua produtividade e o número de citações recebidas de outros pesquisadores).

Para Francisco Silveira Guimarães, “é sempre uma satisfação ter o seu trabalho reconhecido por terceiros. É preciso salientar que estou longe de ser o pesquisador mais importante, ou mesmo um dos mais importantes nesta área. Esta posição, para canabinoides em geral, pertence, na minha visão, ao professor Raphael Mechoulam [da Universidade de Jerusalém], com quem tenho o prazer de colaborar há 30 anos”, diz.

O professor também ressalta que, de acordo com o artigo, um dos grupos mais importantes nesta área é o da USP de Ribeirão Preto. Ele, inclusive, aponta novos pesquisadores que estão participando dos estudos. “Alguns mais jovens e formados neste grupo têm se associado a esta pesquisa e produzido contribuições importantes, destaco os professores Alline C. Campos, Samia R. Joca, Felipe V. Gomes, Elaine Ap. Del Bel, Sabrina Lisboa e Leonardo Resstel.”

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Essa não é a primeira vez que a USP ganha destaque internacional pelas pesquisas com o canabidiol. No ano passado, a Universidade foi tema de reportagem no jornal The New York Times e de ampla cobertura na revista Nature.

Entre as dez instituições mais produtivas, Austrália e Brasil (USP) tem somente uma cada, enquanto que Reino Unido, Israel, Estados Unidos e Itália têm duas instituições cada. Quem lidera com a maior contribuição internacional é o Reino Unido, seguido de Estados Unidos e Brasil. O King’s College London foi a instituição que mais colaborou com a USP. “Observa-se que as instituições com mais artigos publicados têm uma cooperação mais estreita entre si em comparação com aquelas com menos artigos publicados”, afirma Guimarães.

Enquanto Guimarães se destaca com trabalhos na área de ansiedade, mostrando os efeitos ansiolíticos do CBD em diversos modelos animais, o professor Crippa vem trabalhando nos efeitos farmacológicos e ensaios clínicos de CBD, tendo encontrado evidências consideráveis das ações anti-inflamatória, antioxidante e neuroprotetora do canabinoide. “Acredito que a USP em Ribeirão Preto seja singular na interação entre a pesquisa básica e clínica com o canabidiol, pois os pioneiros nesta área na nossa Universidade sempre semearam o espírito de colaboração de modo sinérgico e recíproco”, enfatiza o professor Crippa. 

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Primeiro estudo brasileiro data da década de 1970

Segundo a análise, a primeira publicação de pesquisa sobre o CBD surgiu em 1940, sendo que o pico das publicações aconteceu em 2019, com 248 artigos. Já o período de 2004 a 2012 concentrou o maior aumento de publicações. 

Em 1960, o bioquímico israelense Raphael Mechoulam desvendou as estruturas químicas de vários compostos da maconha e testou seus efeitos em seus amigos, misturando cada uma delas à massa de bolos. Nesse experimento “culinário”, ele observou que somente os que comeram bolo com o THC (tetra-hidrocanabinol) apresentaram os efeitos típicos da droga.

Já na década de 1970, a propriedade antiepiléptica do canabidiol foi desvendada pelos brasileiros Elisaldo Carlini e Isaac Karniol, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Karniol foi orientador de doutorado do professor Zuardi, que deu continuidade a essas descobertas, com seu grupo na FMRP, onde atua há mais de 40 anos. 

O grupo criado a partir de orientandos e colaboradores do professor Zuardi também faz parte do Instituto Nacional de Ciências e Tecnologia Translacional em Medicina (INCT-TM) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), que é coordenado pelos professores Jaime Hallak, também da FMRP, e Flavio Kapczinski, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).