Revolução verde: como a cannabis pode transformar o planeta
Construindo um futuro sustentável
Publicada em 23/08/2024

Por Raquel Coutinho
A indústria da cannabis tem experimentado um crescimento notável nos últimos anos. Mas o que vale a pena destacar é não apenas sua relevância econômica, como também seu papel de mitigação ambiental, num cenário cuja transformação de um presente e futuro melhor são essenciais para resiliência de nosso planeta. Em um contexto global marcado por desafios climáticos cada vez mais urgentes e sendo vivenciados por todos nós, a cannabis surge como uma alternativa positiva, com diversas aplicações ecológicas, redução de danos e benefícios à saúde das pessoas e do planeta.
A cannabis, especialmente o cânhamo, é uma planta de crescimento rápido, que tem demonstrado alta capacidade de sequestrar carbono, podendo ser ferramenta poderosa na luta contra a crise climática. Pesquisadores americanos do centro de pesquisas Hudson Carbon demonstraram que o cânhamo pode capturar até 16 toneladas de dióxido de carbono do ar anualmente, enquanto outras espécies vegetais absorvem cerca de 6 toneladas. Ou seja, a maconha pode ajudar a controlar o aquecimento global e, consequentemente, reduzir a crise climática.
Além dessa captura de carbono, do ponto de vista industrial, essa planta pode ser utilizada para produção de bioplásticos, insumos à indústria têxtil, materiais de construção e tantas outras aplicações. Produtos derivados do cânhamo são biodegradáveis e também podem ser considerados uma alternativa sustentável ao plástico, tão presente e comumente usado, mas ainda alvo de pouca reflexão: de lenta decomposição, vale mesmo a pena usar o plástico, mesmo sabendo dos impactos em nossos ecossistemas e saúde, e que temos possibilidades para substituí-lo por alternativas mais amigáveis à natureza?
O cânhamo também demanda pouca água para seu cultivo. Para se ter ideia, cerca de 1 kg de cânhamo utiliza 2,9 mil litros de água, enquanto 1 kg de algodão necessita de cerca de 10 mil litros. Ainda, a planta apresenta uma resiliência natural, exigindo pouca ou nenhuma utilização de pesticidas, fungicidas ou herbicidas, consequentemente, reduzindo assim a carga de químicos no meio ambiente. E não para por aí, já que estudos do Journal of the International Hemp Association apontam que meio hectare de cânhamo pode produzir a mesma quantidade de papel que uma área de 1,5 a 4 hectares de árvores plantadas, tornando-o uma alternativa mais sustentável que o eucalipto, atual matéria-prima da indústria de papel e celulose.
Além disso, a cannabis ainda pode beneficiar significativamente a saúde do solo. Pesquisas da Dalhousie University sugerem que o plantio contribui para a melhoria da estrutura e fertilidade do solo, ajudando a prevenir erosão e estimulando a retenção de nutrientes. Tais propriedades tornam a cannabis uma cultura próspera para práticas agrícolas sustentáveis, ajudando a manter a produtividade e a biodiversidade do solo.
Sabemos que nem tudo são flores, mas tudo é semente para sensibilizar em prol da natureza. Há de se considerar que sempre há impacto em tudo que fazemos, alguns benéficos, outros nem tanto. Hoje, muitas vezes cultivada indoor, a cannabis pode ter um impacto no consumo energético. A alternativa do cultivo ao ar livre sofre com questões de legalização, principalmente no Brasil, e ainda poderia requerer tratamento contra as consideradas ”pragas", para não falar sobre o consumo de água. A sustentabilidade é pilar essencial na discussão de qualquer cultura.
A emergente indústria da cannabis pode se tornar uma alternativa bioeconômica, e extrapolar os limites de seu próprio setor, podendo promover uma verdadeira revolução verde em diversos setores. Para além da promessa, o olhar para o potencial de fazer algo diferente e sustentável dentro de sua própria indústria é fundamental. Além disso, investimentos e pesquisas são necessários para melhor avaliação, para que possamos melhorar a percepção pública sobre a planta em relação à saúde das pessoas e do planeta. O futuro deve ser verde, e a cannabis é uma parte importantíssima dele.
