Viver com enxaqueca é viver à espreita. Para muitas pessoas, os gatilhos são imprevisíveis: estresse, alterações hormonais, cheiros fortes, jejum prolongado. O impacto na rotina, na produtividade e nos relacionamentos é profundo, ainda mais quando os tratamentos convencionais falham ou trazem efeitos colaterais indesejados.

É nesse contexto que terapias alternativas, como a cannabis medicinal, passam a ganhar espaço. A possibilidade de uma planta trazer alívio onde tantos medicamentos falharam traz à tona um debate que envolve ciência, política e, acima de tudo, humanidade.

Vale lembrar que a enxaqueca é uma condição neurológica complexa que pode paralisar o dia de uma pessoa. Muitas vezes ela carrega consigo sintomas incapacitantes: dor pulsante, náuseas, sensibilidade à luz (fotofobia) e ao som (fonofobia), dificuldade de concentração. 

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a enxaqueca é a segunda principal causa de anos vividos com incapacidade no mundo, atrás apenas da dor lombar.

A mesma OMS diferencia dores de cabeça ocasionais, que todos nós podemos ter, daquelas frequentes, que ocorrem mais de 15 dias por mês. Já a enxaqueca afeta cerca de 1 bilhão de pessoas no planeta, com crises que podem durar de 4 horas a 3 dias, e costuma acometer mais mulheres do que homens. A realidade de quem convive com essa dor vai muito além de um simples analgésico.

A cannabis no tratamento de enxaqueca: estudo aponta benefícios reais

Na busca por novas terapias, um estudo controlado por placebo apresentado na American Headache Society trouxe um respiro de esperança: a vaporização de cannabis medicinal, em especial a combinação de THC (tetra-hidrocanabinol) com CBD (canabidiol),  demonstrou benefícios reais no alívio das crises de enxaqueca.

Saiba Mais - Saiba a diferença entre CBD e THC

Segundo os dados apresentados, 68,9% dos participantes que usaram THC e 67,2% dos que usaram a combinação THC-CBD relataram alívio significativo da dor duas horas após a administração. Em contraste, apenas 46,6% do grupo placebo sentiu melhora nesse mesmo intervalo de tempo e 34,5% dos participantes do grupo THC-CBD não apresentaram mais dor após duas horas, o dobro do índice registrado no grupo placebo.

“O que temos aqui é a primeira evidência real dos efeitos antienxaqueca da cannabis em humanos”, afirmou ao site Marijuana Moment, o neurologista e pesquisador Nathaniel Schuster, da Universidade da Califórnia em San Diego, responsável pelo estudo.

Mais do que alívio: melhora na qualidade de vida

A cannabis também demonstrou impacto positivo nos sintomas sensoriais que acompanham as crises. Entre os participantes que usaram a fórmula combinada de 6% de THC e 11% de CBD, 56,9% relataram melhora na sensibilidade à luz e 74,1% disseram sentir menos incômodo com sons altos, uma diferença significativa em comparação aos 37,9% e 51,7% do grupo placebo.

Por outro lado, o estudo não encontrou diferença quanto à redução de náuseas ou vômitos. Ainda assim, a ausência de efeitos adversos graves reforça o potencial terapêutico da cannabis, mesmo com algum grau de comprometimento cognitivo leve relatado por parte dos usuários de THC (26,2%) e THC-CBD (12,1%).

Os psicodélicos também entram no radar

O estudo apresentado na conferência americana também destaca outro ponto relevante: a ciência tem olhado com mais atenção para substâncias antes estigmatizadas, como os psicodélicos. Pesquisas recentes mostram que o uso controlado de compostos como psilocibina (encontrada nos chamados "cogumelos mágicos") e LSD pode reduzir a incidência de dores de cabeça frequentes em até 25%.

Embora ainda faltem estudos em larga escala e maior regulamentação do uso da cannabis medicinal no tratamento de enxaquecas, os primeiros dados são animadores.

A combinação THC-CBD, especialmente em forma vaporizada, mostra resultados consistentes, tanto no alívio rápido da dor, quanto na redução dos sintomas mais incapacitantes. 

Com informações de Marijuana Moment.