“Antes do remédio com THC, meu filho tinha 60 convulsões por dia”, afirma mãe de paciente com epilepsia

Ana Lúcia Oliveira, mãe do Gael, comemorou os avanços para incluir a cannabis medicinal no SUS, porém ela se preocupa com a regulamentação. Entenda

Publicada em 23/12/2022

capa
Compartilhe:

Conviver diariamente com as 60 crises convulsivas do filho era algo desesperador para Ana Lúcia de Oliveira, 51 anos. Gael, hoje com 09 anos, faz tratamento para o diagnóstico de epilepsia. Aos dois meses e meio de vida, ele teve meningite meningocócica e depois um AVC (Acidente Vascular Cerebral).  Os problemas de saúde pareciam não ter solução, até que a família entrou com o óleo de cannabis. 

"O Gael tem uma boa saúde e é realmente por conta do óleo dessa planta. Isso é fato", contou a mãe.

Como o tratamento alternativo ainda não está disponível no SUS (Sistema Único de Saúde), a família de baixa renda, moradores da periferia de Barueri - região metropolitana de São Paulo, teve dificuldade para ter acesso ao medicamento à base de THC, um dos principais canabinoides da planta.  Principalmente, pela falta de informação. 

Mesmo sem condições financeiras, Ana Lúcia chegou a pagar R$700 por uma consulta com um neurologista. Segundo a  mãe, o filho seguiu o tratamento convencional à risca. Depois das consultas com os médicos especialistas, o menino chegou a tomar os cinco principais medicamentos para controlar as convulsões. Mas os tratamentos não respondiam com os resultados esperados. As 60 convulsões por dia permaneciam, eram o tormento constante da família.  

A luta pela saúde do filho 

Para cuidar da saúde de Gael, Ana Lúcia decidiu ir em busca do tratamento alternativo à base de cannabis. Foi quando ela conheceu um jardineiro que produzia óleo artesanal de planta.

“Nós primeiros dias, a gente já viu a diferença. Eram 60 crises que baixaram para 20 e depois para 5 crises diárias”, relatou. 

Desde 2014, Gael é paciente do óleo produzido com THC. Depois de estabilizadas as crises, a família voltou a consultar um neurologista, que não  aceitou o tratamento alternativo. Os fisioterapeutas também ficaram com receio em relação ao  óleo da planta, mesmo após a melhora satisfatória do paciente.

“Ainda existe muita desinformação a respeito dessa medicina à base de cannabis nos hospitais e, principalmente, entre os  profissionais de saúde”, pontuou.

Hoje, Gael não utiliza mais os medicamentos alopáticos e, sendo adepto apenas ao óleo da planta, convulsiona uma única vez a cada semana. Ana Lúcia defende o acesso gratuito  da cannabis medicinal para a população.

É maravilhoso que esse medicamento esteja entrando no SUS. Nós moramos na periferia e visitamos muitas famílias. O Gael estuda na Zona Sul de SP, em outra periferia maior ainda de onde moramos, a gente vê a busca e a necessidade das pessoas por essa medicina, essa planta, esse medicamento ou remédio que deveria estar no SUS ou no quintal da própria casa. Um medicamento que a população deveria ter acesso.

O projeto de lei 

No dia 21 de dezembro, a Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo) aprovou a inclusão de medicamentos à base de cannabis na lista SUS. O projeto, para virar lei, ainda precisa ser sancionado pelo Governo do Estado. 

Ana Lúcia tem uma única preocupação em relação à regulação do SUS, já que o tratamento do filho depende de um produto rico em THC. 

"Quem já está usando o óleo artesanal? O SUS vai trabalhar com óleo artesanal? Como vai ser a transição?  Qual será o tipo de canabidiol oferecido pelo SUS? Será tarja preta ou alto custo?”, perguntou.

Ana Lúcia, que antes atuava na culinária japonesa, não consegue mais trabalhar fora de casa porque se dedica integralmente às funções de mãe e cuidadora do Gael.