Cannabis, criatividade e empreendedorismo
Em sua coluna de estreia no Sechat, o cientista Stevens Rehen propõe um tema instigante para a discussão: explorar a relação entre o uso de cannabis e sua compatibilidade no aguçamento de capacidades como inovação e criatividade no ambiente profissio
Publicada em 12/03/2021
Coluna de Stevens Rehen*, com a colaboração de Luiz Hendrix
A criatividade, ou falta dela, está em pauta nos ambientes corporativos, pois caminha lado a lado com a inovação. Num mundo em crescente transformação e com várias tecnologias disponíveis, a capacidade de inovar e criar, é cada vez mais requisitada.
Criatividade pode ser definida como a capacidade de produzir ideias originais e incomuns, ou de fazer algo novo ou imaginativo. Em outras palavras, combinar e apresentar informações de uma maneira disruptiva.
Criatividade pode ser definida como a capacidade de produzir ideias originais e incomuns, ou de fazer algo novo ou imaginativo. Em outras palavras, combinar e apresentar informações de uma maneira disruptiva. O processo criativo depende da atividade de células cerebrais, neurônios e astrócitos, que estão envolvidas na formação dos pensamentos, seus aspectos cognitivos, motivacionais e emocionais. Também depende de um ambiente que favoreça a geração dos insights. A criatividade é o grande operador do progresso humano, não apenas uma construção cultural ou social, mas também dos processos psicológico e cognitivo essenciais.
Neurotransmissores como a dopamina, noradrenalina, serotonina, além dos endocanabinoides, estão envolvidos com os aspectos motivacionais do processo criativo. Esse “portfolio neuroquímico” também influencia a produção de um fator de crescimento de neurônios conhecido pelo acrônimo BDNF (do inglês, brain derived neurotrophic factor), um dos responsáveis pela plasticidade cerebral, indispensável à consolidação das memórias, aprendizado e consequentemente à criatividade.
Há relatos de empreendedores que recorrem à cannabis, presumindo que haveria benefícios diretos de seu consumo na geração de ideias criativas. Maconha seria centelha de um bom insight? Um artigo publicado no periódico Journal of Business Venturing testou essa hipótese.
Há relatos de empreendedores que recorrem à cannabis, presumindo que haveria benefícios diretos de seu consumo na geração de ideias criativas. Maconha seria centelha de um bom insight? Um artigo publicado no periódico Journal of Business Venturing testou essa hipótese.
Pesquisadores da Universidade de Washington nos Estados Unidos dividiram 254 empreendedores em grupos de usuários e não-usuários de cannabis. Os participantes considerados usuários consumiam a planta, em média, 20 vezes a cada mês, mas nenhum deles estava sob o efeito durante o experimento.
Para avaliar o impacto da cannabis no processo criativo, os voluntários foram desafiados a gerar, em três minutos, o máximo de ideias sobre produtos e serviços relacionados à tecnologia de realidade virtual (RV). Após o término do experimento, cada participante escolheu o que considerou como sua melhor ideia.
Os avaliadores concluíram que os usuários de cannabis foram especialmente diferenciados na fase divergente do processo criativo, gerando ideias originais para novos negócios, porém menos viáveis, em comparação àqueles que não usavam a erva.
O processo criativo pode ser subdividido em duas etapas: a geração de ideias, ou fase divergente, e a avaliação dessas ideias, também conhecida como fase convergente. Um painel de especialistas assumiu a responsabilidade de avaliar a originalidade e viabilidade do que foi apresentado. Os avaliadores concluíram que os usuários de cannabis foram especialmente diferenciados na fase divergente do processo criativo, gerando ideias originais para novos negócios, porém menos viáveis, em comparação àqueles que não usavam a erva. Como exemplo, um dos usuários sugeriu um negócio extraordinário baseado na experiência de RV, mas que dependia de um ambiente sem gravidade. Em conclusão, embora o consumo de cannabis possa contribuir na concepção de ideias mais originais, a aplicabilidade e viabilidade destas podem ser limitadas (Figura 1).
Figura 1. (A) Interação entre não-usuários/usuários de cannabis e a experiência empreendedora com base na originalidade de ideias. (B) Interação entre não-usuários/usuários de cannabis e a experiência empreendedora com base na viabilidade de ideias (Adaptado de Warnick, Benjamin J., et al., 2021)
Há décadas sabemos que a diversidade social e de gênero favorece a inovação nos ambientes corporativos. Podemos especular que a diversidade de ideias gerada por empreendedores novatos, usuários de cannabis, também poderia ser benéfica à criatividade corporativa, desde que combinada à contribuição de empreendedores não usuários.
Apesar do ineditismo do estudo na investigação do impacto do uso de substâncias psicoativas sobre empreendedores, novas pesquisas são necessárias para determinar se as correlações observadas são resultado do consumo da cannabis ou de outros fatores associados.
Apesar do ineditismo do estudo na investigação do impacto do uso de substâncias psicoativas sobre empreendedores, novas pesquisas são necessárias para determinar se as correlações observadas são resultado do consumo da cannabis ou de outros fatores associados. Nesse sentido, a simples interação entre indivíduos diferentes é força motriz para o equilíbrio entre originalidade e viabilidade, essenciais para o surgimento que novas ideias se transformem em produtos.
*Stevens Rehen é cientista e colunista do Sechat.
As opiniões veiculadas nesse artigo são pessoais e não correspondem, necessariamente, à posição do Sechat.
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