A conexão entre a cannabis medicinal e as emoções humanas 

Todos os dias, a curiosidade de Caio permite que ele se abra para novas experiências. Uma história baseada em fatos reais

Publicada em 17/09/2023

capa

Por Alana Dziubate

Uma planta que libertou Caio do próprio cárcere emocional. Curioso, engenhoso e aventureiro. Esse é Caio! 

Um menino tímido, mas comunicativo, sensível, mas realista. Um jornalista analítico, observador e bom ouvinte. Sempre pensou muito antes de fazer qualquer coisa e também sempre teve um pouco de dificuldade em entender e lidar com os sentimentos alheios.

Todos os dias, a curiosidade de Caio permite que ele se abra para novas experiências, seu cérebro engenhoso procura encontrar as soluções mais criativas e efetivas, sua alma eternamente aventureira se propõe a sentir, por inteiro, a força da natureza.

Seu espírito inovador e verdadeiramente vivo, lhe presenteou com um encontro que viria para mudar toda a sua vida, algo que carrega a ternura de ser natural e o poder de transformar qualquer sensação: a cannabis (marijuana, ganja, verde, planta, flor ou tantas outras variações da palavra maconha). 

Seu grande interesse e encanto em torno da cannabis, vinha por conta de sua cultura, por meio das músicas, filmes, séries e piadas que sempre chamavam a sua atenção, muitas vezes pelo contexto implícito e até mesmo “proibido”. 

O encontro inicial entre Caio e a cannabis foi como toda primeira vez de alguém que fuma: nada. Sim, nada aconteceu! 

Sua primeira reação foi fazer aquela velha e famosa pergunta: “será que eu fumei certo? a maconha é só isso”? 

O desapontamento inicial fez com que Caio buscasse aprender e entender mais sobre a cannabis. Em uma de suas primeiras vezes, bem mais novo, ainda em uma fase onde a maconha era um grande tabu, teve uma experiência com alguns amigos, que em primeira instância foi horrível por conta da fumaça, mas que lhe proporcionou uma ótima sensação no pós. 

Essas e outras boas experiências fizeram com que Caio se encantasse e introduzisse a cannabis de uma forma bem regrada em sua vida. Nunca foi exagerado, mas ao longo do tempo, percebeu que sua tolerância estava aumentando e viu a necessidade de encontrar outra solução efetiva e criativa. Ele queria: fumar menos maconha, tratar a ansiedade, mas, não parar de fumar! Será que existe essa possibilidade?

Para chegar nessa conclusão, Caio precisou entender realmente como a cannabis se comportava em seu corpo, tanto sozinho, quanto em grupo e assim compreendeu alguns insights em torno do uso (assim como devem fazer todas as pessoas que fazem uso de qualquer substância):

● não curte fumar durante o dia;

● não trabalha sob efeito;

● muitas vezes, sentia ansiedade em determinadas situações.

Nesse processo, começou a conhecer a diferença entre sativa e ndica, para então chegar ao CBD - ideia também introduzida pelo seu amigo e médico João Vinícius, o qual acompanha seu tratamento, até hoje.

Antes de iniciar o tratamento com cannabis medicinal para tratar a ansiedade, foi necessário uma explicação breve e completa do Dr: “cannabis medicinal é o uso da maconha (em suas mais diferentes formas), no intuito de aliviar algum sofrimento do paciente - doença, sintoma, efeito colateral de medicação - ou melhorar a qualidade de vida, no geral. 

O termo “cannabis medicinal” é relativamente genérico. O tratamento é feito com moléculas próprias da planta cannabis chamadas “canabinoides”. Os dois principais canabinoides são o THC e o CBD. Mas, há mais de 120 outros, além desses e cada um tem uma característica na interação com o nosso corpo. 

O tratamento varia muito dependendo de quanto você usa de cada molécula. Então, o perfil do paciente que faz um tratamento com 20mg de THC e 10mg de CBD é muito diferente de um outro que faz um tratamento com 100mg de CBD e 2mg de THC.

Algumas outras dúvidas surgiram na mente de Caio…

C: Quem são as pessoas que procuram pela cannabis medicinal?

JV: Pessoas que buscam um tratamento com menos efeitos colaterais do que as medicações mais usadas, como ansiolíticos, antidepressivos, antipsicóticos. 

C: Pra quem é indicado? Existe alguma contraindicação?

JV: Pros meus pacientes, a cannabis medicinal está ligada a queixas de saúde mental, então, age como uma ótima medicação para casos leves ou como um adjuvante em tratamentos de casos mais moderados ou graves,eventualmente até para reduzir efeitos colaterais de outras medicações. Em geral, não há um impeditivo em fazer o uso da cannabis medicinal concomitantemente com as medicações psiquiátricas mais comuns. As contraindicações são raras, mas existem. Variam de caso a caso. Procuro evitar THC em pacientes muito ansiosos, com histórico de psicose ou risco de adicção. Em relação ao CBD, é evitado em pacientes que têm muita sonolência, pouca energia ou alguns casos de depressão.

C: Quais as diferenças que você percebe nos pacientes, após iniciar o tratamento?

JV: Variam muito. Um relato comum que escuto é do paciente conseguir se sentir mais relaxado e com menos tensão no dia a dia, com menos peso do trabalho. Não acho que seja uma medicação que vai fazer com que a pessoa consiga trabalhar 14h por dia e se sentir tranquila - acho que um possível fator é a medicação ajudar a pessoa a entender seus limites e evitar se sobrecarregar de trabalho, conseguir se desligar do trabalho, após certo horário.

C: O que você diria para quem quer iniciar um tratamento com cannabis medicinal?

JV: Acredito que deve ser encarada como qualquer outra medicação. Tem efeitos benéficos e efeitos colaterais, e como tudo na vida, precisa ser colocado na balança e considerar se realmente vale a pena. Se você está passando por um mal momento mental e acha que precisa de ajuda, não hesite em entrar em contato com um profissional para buscar a melhor maneira de sair dessa.

E foi assim que Caio iniciou seu tratamento, em 2022.

Substituiu o THC pelo CBD e começou a analisar como a medicação se comportava em seu corpo: o tratamento contou com a índica - voltada a uma efeito mais relaxante - e a sativa - ligada a um efeito mais ativo.

Com o tempo, foi colecionando alguns novos insights:

● o CBD não atinge toda a parte psicoativa da reflexão, mas ele faz repensar o uso e existência da maconha na sua vida (porque eu fumo? Quais momentos eu fumo?) - te faz entender de fato o lado medicinal da maconha, com consciência;

● promove uma reflexão interna de ter o controle sobre a planta;

● sentiu-se mais cordial, relaxado e calmo em relação aos outros;

● percebeu que para algumas situações ficava mais sensível e para outras, mais blindado, mas com essa consciência, conseguiu canalizar os sentimentos e desenvolver habilidades de comunicação.

Caio está tratando sua ansiedade regularmente, mas já percebe e sente uma melhora significativa em seu quadro.

Ultimamente tem estado bem saudável, indo a academia, participando de eventos musicais que adora, fazendo trilhas e aprimorando sua personalidade analítica, observadora, sempre sendo um bom ouvinte, mas agora também falando sobre seus sentimentos e expressando suas vontades.

Caio encontrou na cannabis medicinal muito mais que uma solução para seus problemas, encontrou compreensão interna, alívio e tratamento para questões delicadas. 

Caio é livre, curioso, engenhoso, aventureiro e como todo bom explorador reconhece os inúmeros benefícios que pode captar por meio de uma medicina natural.

Esse é um texto baseado em uma história real.