Cannabis x dieta equilibrada: como manter a rotina mesmo com a “larica”

A “larica”, termo tão popular para descrever a fome repentina e quase irresistível que bate após o uso de cannabis com THC, é real, tem explicação científica e, segundo especialistas, pode ser totalmente administrada. Mais do que isso: pode até ser usada a favor de uma alimentação mais nutritiva. 

A nutricionista clínica e esportiva Daniela Lovatel explica que entender o funcionamento do corpo é o primeiro passo para evitar excessos e transformar o apetite aumentado em um aliado da saúde.

Quando o THC aumenta o apetite e como evitar o impulso por guloseimas

A “fome de THC” não é só folclore: ela nasce da ação do composto nos hormônios que regulam o apetite. “O THC aumenta a grelina, o hormônio da fome, e reduz a ação dos hormônios de saciedade, deixando o cérebro mais sensível ao prazer de comer. Isso faz a fome parecer maior do que realmente é”, explica Daniela.

Para evitar que esse impulso leve a lanches calóricos, a nutricionista sugere uma estratégia simples e planejada:

• Tenha snacks inteligentes prontos — frutas cortadas, oleaginosas, iogurte, homus, ovos cozidos.
• Mantenha refeições completas ao longo do dia, com boas fontes de proteína e fibras, para prolongar a saciedade.
• Hidrate antes de beliscar, já que a sede pode ser confundida com fome.
• Evite deixar guloseimas à vista e prefira porções pequenas quando quiser algo mais calórico.

“Garantir proteína e fibras nas refeições é essencial para reduzir a ‘larica’ e manter o equilíbrio”, reforça.

Quando a cannabis pode ajudar e como direcionar esse apetite

Se, para muitos, o aumento do apetite é um desafio, para outros pode ser justamente o que faltava. Daniela explica que o THC pode ser uma ferramenta importante para pessoas que lutam contra a inapetência.

“Para pacientes oncológicos, pessoas soropositivas ou com certas comorbidades, o aumento de apetite provocado pelo THC pode ser positivo. Ele ajuda na ingestão calórica e proteica, favorecendo a manutenção ou recuperação do peso”, diz. 

A chave, porém, está em direcionar esse apetite para alimentos nutritivos, de maior densidade energética, em vez de se apoiar em junk food.

Como controlar a “larica”?

Entender os mecanismos internos ajuda a não perder o controle. Segundo a nutricionista, uma alimentação equilibrada ao longo do dia, sem longos períodos de jejum, já reduz muito o risco de exageros.

Daniela orienta:

• Preste atenção se é fome real ou apenas vontade de beliscar estimulada pelo THC;
• Mantenha hidratação frequente;
• Priorize refeições com carboidratos, proteínas e gorduras boas distribuídos de forma adequada;
• Evite alimentos inflamatórios e ultraprocessados, que podem interferir inclusive nos efeitos benéficos da cannabis.

Cannabis com frequência: como evitar compulsão e ganho de peso

Para quem usa cannabis com frequência, essas estratégias se tornam ainda mais importantes. Daniela recomenda não passar muitas horas sem comer, distribuir proteínas e fibras ao longo do dia, deixar porções prontas e controladas para evitar excessos e cuidar do sono, já que ele influencia diretamente os hormônios da fome e da saciedade. Criar novos rituais que não envolvam junk food e manter água por perto também faz diferença no controle do apetite.

No fim das contas, reforça a nutricionista, a “larica” não precisa ser sinônimo de perda de controle ou de uma dieta desequilibrada. "Com preparo, consciência corporal e boas escolhas, é possível usar os efeitos da cannabis de forma estratégica, respeitando o corpo e fortalecendo a saúde", finaliza.