“Meu filho ingeriu THC, e agora?”, o que pais precisam saber
Casos de ingestão acidental de cannabis por crianças aumentam e exigem atenção rápida e cuidados específicos
Publicada em 20/06/2025

Imagem: Canva Pro
Em constante debate no Brasil — especialmente após o Superior Tribunal de Justiça (STJ) estabelecer o prazo de 30 de setembro de 2025 para a regulamentação do cultivo —, a legalização da cannabis segue dividindo opiniões. Segundo pesquisa Datafolha publicada em 2024, 67% dos entrevistados se disseram contra a descriminalização do porte da planta. No levantamento anterior, de setembro de 2023, esse número era de 61%.
Enquanto o Brasil discute a regulamentação, outros países onde a legalização do uso recreativo e medicinal da cannabis já é uma realidade observam uma consequência não intencional: o aumento da ingestão acidental de tetrahidrocanabinol (THC) por crianças, principalmente por meio de produtos comestíveis.
Casos em alta: comestíveis e o risco para o público infantil

Uma análise recente da plataforma JustAnswer — que conecta usuários a profissionais da saúde em tempo real — identificou um aumento de 218% nas perguntas sobre ingestão de comestíveis com THC por crianças entre 2022 e 2024.
Esses produtos, geralmente na forma de balas, chocolates ou gomas, são visualmente atrativos, coloridos e muitas vezes indistinguíveis de doces comuns, o que representa um risco elevado para o público infantil.
No Brasil, rótulos e normas ainda são limitados
A Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) 327/2019, que regula a comercialização de produtos com cannabis no Brasil, exige a inclusão da frase “Mantenha fora do alcance de crianças” nos rótulos, além de prever lacres invioláveis e outras advertências.
No entanto, segundo Fernando Cesar Mendes, diretor-presidente da NHG Fitofármacos & Nutracêuticos, ainda é possível avançar. “A Anvisa poderia exigir tampas com trava de segurança, especialmente para comestíveis com THC. São produtos muito atrativos visualmente para as crianças, o que aumenta o risco de ingestão acidental”, explica.
O que é o THC e como utilizar de maneira medicinal?
O THC, ou tetrahidrocanabinol, é o principal composto psicoativo encontrado na cannabis, planta popularmente conhecida como maconha. O canabinoide que atua no sistema endocanabinoide do corpo, interagindo com receptores cerebrais chamados CB1 e CB2 é responsável pelas sensações de euforia alteração do humor, da percepção, da cognição e da coordenação motora.
De acordo com o pediatra Dr. Ronaldo José de Oliveira, o uso de THC no tratamento infantil, quando prescrito corretamente, é seguro. Os derivados da cannabis, são utilizados para epilepsia refratária, transtorno do espectro autista (TEA) e Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH).
“O THC em doses elevadas raramente é indicado para crianças. Quando utilizado, é em pequenas quantidades e sempre associado a doses maiores de canabidiol (CBD)”, explica Ricardo.
O que fazer se meu filho ingerir THC?
O pediatra orienta que não se deve oferecer leite, água ou tentar induzir o vômito. A criança deve ser levada imediatamente a um serviço de emergência.
Se o atendimento ocorrer até uma hora após a ingestão e a criança estiver acordada, pode-se realizar uma lavagem gástrica. Após esse período, o tratamento geralmente consiste em observação clínica até que o organismo elimine a substância.
Como ponto crucial, Ricardo destaca a honestidade com o médico. É essencial indicar o Tipo de produto ingerido (levar a embalagem, se possível), quantidade estimada e tempo de ingestão, amém de questões como peso, doenças pré-existentes e uso de medicamentos contínuos.
De acordo com o pediatra, os sintomas mais comuns da ingestão acidental de THC por crianças incluem, náuseas, tontura, sonolência ansiedade e uma sensação de “batedeira” no peito.
A intensidade varia conforme a dose e o tamanho da criança. Os primeiros sintomas costumam surgir entre 20 e 30 minutos após o consumo, com pico entre 1h30 e 2h.
Calma e atenção redobrada
Apesar da gravidade, o médico tranquiliza: “O risco de morte é zero em crianças saudáveis. Sequelas de longo prazo também não são esperadas após uma exposição isolada, mesmo que em dose elevada”.
Para crianças com problemas cardíacos, neurológicos ou em uso de medicamentos psicotrópicos, anticonvulsivantes ou opioides, os riscos aumentam. A interação medicamentosa com o THC pode intensificar efeitos adversos ou comprometer tratamentos existentes.
Medidas preventivas para evitar acidentes
Fernando Cesar Mendes sugere que a Anvisa adote símbolos de alerta nos rótulos, como o ícone de uma criança riscada, e promova campanhas educativas. “Profissionais de saúde devem orientar os pacientes sobre boas práticas, e os produtos podem trazer guias simples com instruções claras”, afirma.
Para os pais, o especialista indica armazenar os produtos em locais altos e trancados com chave, manter os invólucros originais e sempre lacrados e educar outros adultos e cuidadores sobre o risco de deixar produtos expostos.