O canabidiol (CBD) é um dos principais compostos da planta Cannabis sativa. Entre mais de cem fitocanabinoides presentes na planta, o CBD se diferencia do tetrahidrocanabinol (THC) por não causar alterações de percepção nem a sensação de “estar chapado”. 

O composto tem atraído atenção de cientistas e profissionais de saúde pelo seu potencial terapêutico, com estudos apontando efeitos ansiolíticos, anti-inflamatórios, anticonvulsivantes e até neuroprotetores.

Como o CBD age no corpo humano

Para entender a atuação do CBD, é essencial conhecer o Sistema Endocanabinoide (SEC), uma rede biológica presente em todos nós. Ele mantém o equilíbrio interno — chamado de homeostase — regulando funções como sono, humor, dor, imunidade, apetite, cognição, resposta ao estresse e metabolismo energético.

Dentro do SEC, dois receptores se destacam: CB₁ e CB₂. O CB₁ concentra-se principalmente no sistema nervoso central, em regiões como hipocampo, cerebelo e medula espinal. Ele modula a comunicação entre neurônios, influenciando neurotransmissores ligados à dor, humor e percepção.

O CB₂, por sua vez, está mais associado ao sistema imunológico, presente em células de defesa como linfócitos e macrófagos, e desempenha papel importante no controle de inflamações e na resposta imune.

O CBD interage com esses receptores de forma indireta. Uma de suas principais ações é a modulação alostérica negativa, que altera a forma como outras substâncias se ligam ao CB₁ e CB₂. Além disso, ele inibe a enzima FAAH, responsável por degradar a anandamida, prolongando seus efeitos benéficos. 

O CBD também reduz a migração de células inflamatórias, modula canais iônicos e exerce efeito antioxidante, ajudando a proteger as células contra danos.

Aplicações terapêuticas

Esses mecanismos explicam o crescente interesse pelo uso do CBD em diferentes condições de saúde. Um exemplo é no tratamento de epilepsias resistentes, como as síndromes de Dravet e Lennox-Gastaut, nas quais medicamentos à base de CBD, como o Epidiolex, são aprovados em países como Estados Unidos e membros da União Europeia. Pesquisas indicam também potenciais benefícios para ansiedade, depressão e transtorno de estresse pós-traumático (PTSD), embora ainda sejam necessários estudos clínicos mais robustos.

Outro campo promissor é o manejo da dor crônica e inflamações, incluindo doenças autoimunes. Apesar dos bons resultados em estudos laboratoriais e com animais, a evidência em humanos ainda é limitada. Pesquisas adicionais avaliam o potencial do CBD no combate à dependência de drogas, como cocaína e nicotina, sugerindo que ele possa reduzir sintomas de abstinência e comportamentos compulsivos.

O CBD é legal no Brasil?

Sim. Desde 2015, a Anvisa permite a importação de produtos com CBD para uso pessoal com prescrição médica. Atualmente, já existem produtos nacionais autorizados, disponíveis em farmácias mediante receita. Em 2025, a agência analisa a revisão da RDC 327.

O acesso à cannabis medicinal também pode ser feito com prescrição de médico ou cirurgião-dentista, conforme a RDC 660, que autoriza a importação de produtos à base da planta. 

Além disso, associações de pacientes autorizadas judicialmente constituem uma via legítima para obtenção de extratos artesanais, oferecendo alternativa segura e acessível para diversos tratamentos.