Daniela Bittencourt, secretária executiva da comissão permanente sobre cannabis da Embrapa e debatedora confirmada Cannabis Connection 2024, compartilhou, em entrevista exclusiva ao portal Sechat, os principais avanços e desafios que o Brasil enfrenta nas pesquisas sobre a cannabis. Representando uma das principais instituições de pesquisa agropecuária do país, Daniela destacou a importância do desenvolvimento agronômico da planta e seu potencial impacto na saúde, na indústria e na agricultura.

Um dos marcos dessa jornada foi a iniciativa da Embrapa que protocolou, no dia 25 de setembro, um pedido de autorização junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para conduzir pesquisas com cannabis no Brasil. O objetivo do órgão é desenvolver um extenso programa de pesquisa, com duração de aproximadamente 12 anos, para aprofundar o conhecimento agronômico sobre a espécie, levando em consideração suas diversas aplicações nas áreas de saúde, agricultura e indústria.

Os estudos contemplam quatro vertentes principais:

- Desenvolvimento de cultivares adaptadas ao clima brasileiro;
- Práticas de manejo para o cultivo;
- Pós-colheita e aproveitamento industrial; 
- Além da análise de políticas públicas, economia e zoneamento climático.

Avanços da pesquisa e futuro promissor

Daniela enfatizou que a Embrapa já deu passos importantes, construindo uma base sólida de conhecimento agronômico sobre a cannabis, especialmente voltado para as particularidades do clima e solo brasileiros. Embora o país ainda não tenha uma regulamentação que autorize o cultivo, a pesquisadora acredita que, com uma estrutura adequada e o suporte governamental, o Brasil pode se destacar no cenário global tanto no uso medicinal quanto industrial da planta.

"Nosso foco é gerar inovações que tragam benefícios tanto para agricultura quanto para a saúde. A cannabis possui um enorme potencial para o desenvolvimento genético, especialmente na criação de variedades adaptadas ao nosso clima", afirmou Daniela.

Desafios: barreiras regulatórias e educacionais

A pesquisadora também destacou os desafios que a Embrapa e outras instituições enfrentam. A falta de uma legislação clara para o cultivo da cannabis ainda é um dos maiores obstáculos. Daniela explicou que essa ausência de regulamentação impede o avanço mais rápido das pesquisas, criando incertezas que afetam desde o financiamento até a implementação de projetos.

"Precisamos de uma legislação que acompanhe o ritmo das inovações científicas. Além disso, é fundamental promover uma educação ampla sobre a cannabis, desmistificando seu uso e mostrando seus benefícios terapêuticos e industriais", comentou.

Impactos sociais e colaborações

Outro ponto importante é o impacto social que a pesquisa com cannabis pode trazer. A Embrapa tem trabalhado para estabelecer parcerias com outras instituições e empresas, aumentando a capacidade de pesquisa e desenvolvimento da planta. Daniela ressalta que, ao avançar na pesquisa, o Brasil pode não apenas melhorar a qualidade de vida dos pacientes que utilizam cannabis medicinal, mas também gerar novas oportunidades de emprego e desenvolvimento econômico.

"As colaborações são essenciais para que possamos implementar práticas sustentáveis e gerar impacto positivo em diversas áreas da sociedade", afirmou a pesquisadora.

Educação e conscientização: um papel crucial

Daniela também ressaltou o papel da educação e da conscientização pública. Ela destacou a importância de se promover eventos, workshops e publicações que expliquem de forma clara e científica as aplicações e benefícios da cannabis.

"A desinformação é um dos principais entraves para o avanço da pesquisa no Brasil. É necessário educar o público e as autoridades sobre o potencial da planta para que possamos construir uma indústria sólida e responsável", completou.

Debate no Cannabis Connection

O Cannabis Connection, evento B2B que reunirá empresários, investidores, políticos e representantes do setor regulatório, no dia 6 de novembro, em São Paulo. Além de Daniela Bittencourt, o evento terá a presença de figuras importantes para o debate como Fábio Mitidieri, governador de Sergipe e autor do PL 399, e Daniela Arquete, especialista em regulação da Anvisa.

O encontro promete ser um marco na discussão sobre a regulamentação da cannabis no Brasil, sendo uma oportunidade única para o debate sobre o futuro do setor e o papel da pesquisa científica nesse contexto.