Pioneiro no mundo no uso da Cannabis medicinal para convulsões, Carlini nos deixou nesta quarta (16)

Em nota, CEBRID manifestou profundo pesar pelo falecimento de seu fundador

Publicada em 16/09/2020

capa

Charles Vilela

O médico e pesquisador Elisaldo Carlini faleceu nesta quarta-feira (16). Ele nos deixa neste ano em que se comemora os 40 anos do seu famoso estudo sobre Cannabis medicinal. Essa pesquisa colocou o canabidiol no mapa da ciência brasileira e do mundo quando o assunto é o tratamento de convulsões.

Em nota divulgada na tarde de hoje, o Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID) manifesta profundo pesar pelo falecimento de seu fundador.

Carlini era médico, pesquisador, fundador do CEBRID e professor emérito da UNIFESP. Ele tinha 90 anos e deixa um legado de mais de 50 anos dedicados ao estudo de drogas psicotrópicas no Brasil. Em especial, seus trabalhos sobre a maconha medicinal, colocou o CBD no foco da ciência brasileira e do mundo para o tratamento de convulsões, epilepsia, esclerose múltipla e dor crônica.

A nota diz ainda que a memória do professor, hoje símbolo da pesquisa canábica no Brasil, permanecerá viva e sua herança científica norteando nossa ciência brasileira. “Infelizmente não há como dimensionar a quantidade de pessoas ajudadas por seus esforços; não só como pesquisador, mas também como amigo”, diz o texto. 

Carlini: "se o Ministério da Saúde quiser discutir esse assunto, mesmo numa maca eu irei"

Carlini é o maior nome da ciência brasileira quando se trata de pesquisas com maconha medicinal. Pioneiro na farmacologia e nos estudos sobre a cannabis para controle de epilepsia no Brasil nos anos 70, o médico tinha uma grande frustração: nunca foi ouvido com atenção pelas autoridades brasileiras. Esse desabafo aconteceu no início de novembro de 2019, durante um simpósio promovido pelo Cebrid e associação Cultive na USP, conforme foi registrado pelo Sechat. 

“Enquanto eu durar e tiver cabeça, pretendo continuar brigando pela mesma causa. É preciso que o Brasil crie vergonha e modifique o que está acontecendo no país. Não é possível! Eu me dedico aos estudos da maconha há 50 anos, nunca consegui ser ouvido, por que que isso acontece?”, questionou.

Professor emérito da Unifesp e diretor do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), Carlini foi selecionado em março do ano passado como pesquisador emérito do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Atualmente, atua como orientador de cursos mestrado e doutorado do Departamento de Medicina Preventiva da Unifesp. Já foi membro do Conselho Econômico Social das Nações Unidas e citado mais de 12 mil vezes em artigos científicos.

Entre 1995 e 1997 esteve à frente da Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária, tentou criar uma “Anvisa da cannabis”, projeto que nunca saiu do papel por desprezo da classe médica com o tema. “Publiquei mais de 700 trabalhos científicos em inglês, porque eu publicava aqui e ninguém lia. Se o Ministério da Saúde quiser discutir esse assunto, mesmo numa maca eu irei”, infelizmente esse dia não vai acontecer.

Pioneiro no mundo no uso da Cannabis medicinal para convulsões, Carlini nos deixou nesta quarta (16)