Uso de Cannabis no início da gravidez não está associado a atrasos no desenvolvimento infantil

A pesquisa incluiu uma coorte de 119.976 crianças, provenientes de 106.240 mães, acompanhadas através de registros eletrônicos de saúde entre janeiro de 2015 e dezembro de 2019

Publicada em 08/11/2024

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Imagem ilustrativa | Canva Pro

Estudo aponta que o uso de Cannabis nas primeiras semanas de gravidez não afeta o desenvolvimento infantil até os 5,5 anos, mas especialistas recomendam cautela e orientações preventivas para gestantes.

Um estudo de coorte realizado com 119.976 crianças, nascidas entre 2015 e 2019, indicou que o uso de Cannabis no início da gravidez não foi associado a um risco aumentado de atrasos no desenvolvimento infantil, como distúrbios de fala, atraso motor e atraso global. A pesquisa, conduzida pelo Kaiser Permanente Northern California e publicada no JAMA Network Open, acompanhou as crianças até os 5,5 anos, destacando uma ausência de efeitos significativos da exposição à substância no início da gestação.

Em entrevista ao Sechat, a ginecologista e adapta à terapia canabinoide, Mariana Prado, compartilhou sua visão sobre o uso de Cannabis durante a gravidez, enfatizando a importância do acompanhamento médico, especialmente para pacientes que fazem uso dessa substância.

"Por se tratar de uma medicina fitoterápica, ou seja, que utiliza plantas para o controle de patologias, uma parte da classe médica defende e acredita que os compostos da cannabis interagem de forma positiva com o corpo humano. Vale lembrar que temos um Sistema Endocanabinoide, que contribui para a homeostase do nosso organismo", afirmou Prado. 

 A médica destacou que, por outro lado, ainda são necessários mais estudos para confirmar os efeitos dos tratamentos à base da planta. "A recomendação é que toda gestante procure um profissional de confiança para receber o melhor direcionamento possível". 

Metodologia

A pesquisa, publicada na Medscape, incluiu uma coorte de 119.976 crianças, provenientes de 106.240 mães, acompanhadas através de registros eletrônicos de saúde entre janeiro de 2015 e dezembro de 2019. O uso materno de Cannabis foi avaliado entre 8 e 10 semanas de gestação, por autodeclaração e testes de toxicologia urinária. As análises ajustaram fatores como idade materna, escolaridade, raça/etnia, tipo de seguro, e uso de outras substâncias durante a gravidez, como álcool e nicotina. Modelos de regressão de Cox foram utilizados para definir os desfechos, observando atraso motor, atraso global, e distúrbios de fala e linguagem, conforme critérios da CID-9 e CID-10.

Principais achados

  • Ausência de associação significativa: O uso de Cannabis no início da gravidez não foi associado a um aumento no risco de atrasos no desenvolvimento infantil, segundo os diagnósticos baseados em critérios específicos.
  • Coorte robusta e análise ajustada: A amostra, composta por mães e crianças de um sistema de saúde integrado, proporcionou uma avaliação abrangente do desenvolvimento até os 5,5 anos, com consistência nas análises ajustadas.
  • Sensibilidade na metodologia: Análises de sensibilidade mostraram resultados semelhantes ao considerar apenas autodeclarações ou toxicologia para Cannabis, sugerindo que o método de avaliação não alterou os principais achados.
  • Recomendações: Os autores reforçam que, apesar da ausência de associação com atrasos no desenvolvimento, a orientação de saúde pública deve desincentivar o uso de Cannabis entre gestantes devido aos potenciais riscos neonatais observados em estudos pré-clínicos.

Limitações e Considerações

O estudo foi limitado a um único ponto de coleta, o que pode não refletir o consumo contínuo de Cannabis ao longo da gravidez. Também não foram consideradas variáveis como potência e método de uso da substância, que podem influenciar o desenvolvimento infantil. A utilização de registros de saúde para identificar atrasos pode ter subestimado os diagnósticos em crianças de mães com menor frequência de consultas pediátricas. Além disso, a população do estudo, concentrada na Califórnia, pode limitar a generalização para outras regiões.