Quebrando paradigmas: estudo contradiz relação negativa entre maconha e neurodesenvolvimento na gestação 

Pesquisa longitudinal da Universidade de Columbia desafia percepções anteriores

Publicada em 24/11/2023

capa

Uma pesquisa recente publicada na revista Pediatric and Perinatal Epidemiology trouxe à tona resultados surpreendentes, desafiando concepções anteriores sobre os efeitos da exposição pré-natal à cannabis no neurodesenvolvimento de crianças. Contrariando expectativas, o estudo revelou que crianças expostas à cannabis durante a gravidez não demonstraram déficits clínicos de desenvolvimento neurológico ao longo da vida. 

Realizado por pesquisadores da Universidade de Columbia, o estudo acompanhou aproximadamente 2.900 crianças nascidas entre 1989 e 1992. Os participantes foram submetidos a avaliações no final da infância e novamente no início da idade adulta. Surpreendentemente, após ajustes para fatores de confusão, as crianças expostas à cannabis durante a gestação não apresentaram resultados diferentes em comparação com aquelas não expostas. 

Os autores do estudo enfatizaram que, mesmo após análises cuidadosas, não foram encontradas disparidades significativas nos desempenhos neuropsicológicos das crianças com exposição pré-natal à maconha. "As crianças com exposição pré-natal à maconha não tiveram pior desempenho nas avaliações neuropsicológicas aos 10 anos de idade e novamente aos 19 a 20 anos", declararam os pesquisadores. No entanto, ressaltaram a importância de futuras pesquisas em coortes de nascimentos mais contemporâneas, explorando uma variedade de resultados neuropsicológicos para aprofundar a compreensão do impacto da exposição à maconha no neurodesenvolvimento. 

A ginecologista e prescritora da terapia canabinoide, Mariana Prado, compartilhou sua perspectiva sobre o tema. Ela destaca a relevância de se ter um acompanhamento médico durante a gravidez, principalmente em pacientes que utilizam cannabis.  

"Por ser uma medicina fitoterápica, isto é, que utiliza de plantas para controle de patologias, uma parte da classe médica defende e afirma que os compostos da cannabis interagem muito bem com o corpo humano, inclusive é preciso destacar que temos um Sistema Endocanabinoide responsável por fazer a homeostase de nosso organismo", comentou a Dra. Prado, que ressalta que por outra parte, ainda são necessários mais estudos para garantir a eficácia do tratamento com os derivados da planta.  

“A dica, é sempre a mulher gestante buscar um profissional de sua confiança para ter o melhor direcionamento possível”, conclui a médica.  

As conclusões deste estudo estão alinhadas com pesquisas anteriores que, em 2017, conduziram uma revisão abrangente sobre os resultados do consumo de cannabis durante a gravidez. A revisão concluiu que a evidência sobre os efeitos na saúde materna e infantil é mais robusta do que muitas outras substâncias. Esse acúmulo de evidências desafia estigmas associados à cannabis durante a gravidez, destacando a complexidade do tema e a importância de abordagens baseadas em evidências para orientar práticas médicas e políticas de saúde pública.