Glioblastoma: como a cannabis pode ajudar contra um dos cânceres mais agressivos?

Responsável por 60% de todos os cânceres cerebrais, pesquisadores apostam na terapia combinada como possível alternativa de tratamento

Publicada em 24/09/2022

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Por João R. Negromonte

Tido como um tipo de câncer cerebral devastador, que cresce rapidamente e invade os tecidos cerebrais, o glioblastoma atinge principalmente pessoas adultas e a média de sobrevida desta patologia é de 15 a 18 meses. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), apenas 5% dos pacientes resistem até 5 anos após o diagnóstico. Por conta desta análise sombria, médicos e pesquisadores concordam que há uma necessidade de uma cura, ou no mínimo, um tratamento mais eficaz para a doença.  

Atualmente, um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Birmingham, no Reino Unido, vem observando os potenciais efeitos dos canabinoides no tratamento do glioblastoma. Chamada de Aristocrat, a pesquisa reúne pacientes que possuem a doença para investigar se a combinação dos compostos da cannabis com as quimioterapias tradicionais realmente apresentam resultados positivos.

O glioblastoma começa em células gliais em forma de estrela chamadas astrócitos. Em tecidos saudáveis, os astrócitos desempenham papéis importantes na formação e regulação das sinapses entre os neurônios. No entanto, devido à sua importância, o mau funcionamento dos astrócitos pode causar grandes problemas.

Em pacientes com glioblastoma, os astrócitos cancerosos formam um tumor de crescimento rápido. O tratamento atual para o glioblastoma envolve cirurgia seguida de radioterapia e quimioterapia. Mesmo com o tratamento, o tumor volta a crescer em 95% dos pacientes.

Como a terapia tradicional combinada com canabinoides ajuda?

Uma equipe de pesquisadores liderada pela professora Susan Short da Universidade de Leeds, na Inglaterra, está investigando o potencial anticancerígeno de canabinóides como THC e CBD. Especificamente, eles querem saber se a combinação dos compostos da planta da maconha e o medicamento quimioterápico Temozolomide, é mais eficaz no tratamento do glioblastoma do que o medicamento sozinho.

Embora a Temozolomida seja uma terapia potente por si só, uma limitação atual do tratamento do glioblastoma é a resistência ao composto. Com o tempo, as células cancerosas tornam-se menos sensíveis à quimioterapia, permitindo que o tumor volte a crescer. Por isso, para melhorar os resultados dos pacientes, essa limitação deve ser superada. Experimentos anteriores mostraram que os canabinóides tinham efeitos anticancerígenos, desse modo, Susan e sua equipe buscam entender se uma terapia combinada poderia eliminar esse obstáculo.

Resultados promissores 

À medida que os médicos e cientistas aprenderam mais sobre o glioblastoma, eles observaram uma tendência interessante. Casos mais graves da doença têm sido caracterizados por um aumento da expressão do receptor CB2 em células cancerosas. Essa expressão anormal de receptores canabinóides no tecido canceroso sugeriu uma terapia potencial: os canabinóides.

As investigações iniciais, então, sugeriram que eles estavam no caminho certo. Por meio de experimentos in vitro, usando células de glioblastoma cultivadas em cultura, os cientistas descobriram que o tratamento com THC levou a uma redução no tamanho do tumor. Outras experiências revelaram que componente psicotrópico da cannabis intervém nos efeitos anticancerígenos, ativando vias em células cancerígenas, levando-as a se autodestruir.

É importante ressaltar que os mesmos experimentos foram realizados em células saudáveis e o mesmo efeito não foi observado. Isto é, o THC foi capaz de matar seletivamente as células cancerígenas sem prejudicar o tecido saudável. Outros experimentos mostraram também que THC pode retardar o crescimento de tumores, impedindo que as células cancerosas se dividam e prevenindo a formação de vasos sanguíneos que alimentam os mesmos. 

Já o CBD, embora tenha baixa afinidade, segundo os pesquisadores, pelos receptores como TRPV1, TRPV2, 5HT-1A e GPR55, funciona sinergicamente com o THC, auxiliando nesta redução do tumor.

Ainda são necessários mais testes para provar que os compostos da cannabis podem, de fato, ser um adjuvante no tratamento do glioblastoma, contudo, testes e pesquisas como esta, reforçam a importância de se observar de perto a medicina canabinoide.