Esperando avanços significativos em 2025, o mercado de cannabis medicinal no Brasil tem o setor veterinário despontado como um dos mais promissores dentro do segmento. Sandro Nogueira, diretor de novos negócios da Memphis Courier, prevê um crescimento expressivo a médio prazo. “O mercado veterinário se tornará mais promissor e entrará em cena antes do mercado de produtos nacionais”, comenta Nogueira.

A Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 936, publicada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em 2024, permite a prescrição de produtos à base de cannabis para animais. Essa medida é vista como uma oportunidade significativa para o setor pet e para os profissionais de medicina veterinária, que poderão especificar esses produtos com mais segurança e responsabilidade.

O crescimento do setor Pet no Brasil

Segundo levantamento da Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet), em 2023 o Brasil contava com 160,9 milhões de animais de estimação. sendo os principais cães (62 milhões), aves (42 milhões) e gatos (30 milhões). O mercado pet brasileiro, que movimentou R$68,7 bilhões naquele ano, em 2024 chegou aos R$ 77 bilhões, um aumento de 12%.  

Cerca de 10% desse montante corresponde a produtos veterinários, incluindo medicamentos e terapias específicas ao bem-estar animal. Nesse cenário, os produtos à base de cannabis surgem como uma alternativa terapêutica promissora, especialmente para o tratamento de dor, ansiedade e condições neurológicas em animais. “Várias empresas aguardam apenas a regulamentação para entrar nesse mercado. Já existem produtos veterinários à base de cannabis disponíveis, e a demanda entre os veterinários já é expressiva, o que indica uma demanda reprimida específica”, continua Nogueira.

Rodrigo Montezuma, membro do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Distrito Federal (CRMV-DF), destaca o potencial da cannabis na medicina veterinária para animais de estimação, produção e silvestres. "Estudos demonstram alta eficácia em tratamentos para dor, ansiedade, distúrbios neurológicos e outras patologias. O impacto no bem-estar animal, especialmente na pecuária, é inimaginável", afirma Montezuma.

Luiz Borsato, fundador e CEO da Netseeds, também enxerga oportunidades no setor. “Em animais de competição, como equinos, a cannabis oferece benefícios emocionais, alívio de tensões e estresse, além de atuar como analgésico. Sabendo da relevância do agronegócio brasileiro, é evidente que as empresas veterinárias estão acompanhando de perto esse mercado”, comenta Borsato.

Saúde Única e uso veterinário da cannabis

A veterinária Neide Griebeler reforça outros benefícios terapêuticos da cannabis para animais. “Animais que tomam o extrato de cannabis apresentam melhorias significativas na qualidade de vida, especialmente em casos de dor e convulsões. A cannabis também tem se mostrado eficaz como medicação pré-anestésica, reduzindo a necessidade de anestésicos gerais”, explica.

Dalton Kawasaki, gerente de produtos da linha cannabis da Herbarium, aponta a relevância da decisão da Anvisa no contexto da Saúde Global Unificada, um conceito que interliga a saúde humana, animal e ambiental.

Montezuma também ressalta o conceito de Saúde Única, destacando a necessidade de regulamentação específica para o uso veterinário da cannabis. “A regulamentação trouxe segurança jurídica tanto para os veterinários quanto para os proprietários de animais. Agora, aguardamos a regulamentação para o registro e importação de produtos à base de cannabis para uso veterinário”, comenta.

Desafios e perspectivas para o mercado de cannabis veterinária

Griebeler destaca a importância de uma abordagem cuidadosa e embasada em estudos científicos. "A prescrição deve ser feita por veterinários capacitados. O uso inadequado pode comprometer o tratamento. É crucial estudar as dosagens e identificar os fitocanabinoides adequados para cada condição", alerta a veterinária.

Christiani Di Risio, gerente operacional da Quiron CBD, destaca a necessidade de regulamentação para o uso de produtos veterinários da RDC 660. “O mercado pet já é uma realidade consolidada em diversos países. No Brasil, a regulamentação da Anvisa para prescrição veterinária de produtos importados seria um avanço, ampliando as opções terapêuticas para os animais”, comenta.