"Fumar maconha é um mau negócio para fertilidade masculina", dizia Elisaldo Carlini

Estudos recentes confirmam alertas de décadas sobre o impacto da cannabis nos espermatozoides e no DNA

Publicada em 23/11/2024

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Infertilidade | Imagem: Canva

Há mais de uma década, o professor e pesquisador brasileiro Elisaldo Carlini, pioneiro nos estudos sobre a cannabis, já alertava sobre os impactos do uso da planta na saúde reprodutiva masculina. Durante uma entrevista concedida ao médico Dráuzio Varella, em 2011, Carlini afirmou:

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Elisaldo Carlini | Foto: Eduardo Cesar/Fapesp

"Fumar maconha é um mau negócio para fertilidade masculina. Ela diminui a taxa de testosterona circulante nos homens e reduz o número de espermatozoides, embora não os faça desaparecer completamente. Não interfere na libido, mas, se o homem quiser ter filhos, fumar maconha é um mau negócio."

O que era uma constatação de especialistas experientes na época hoje ganha respaldo científico robusto. Um estudo recente da Universidade Duke, nos Estados Unidos, publicado no periódico Epigenetics, confirma os impactos negativos do uso adulto de cannabis na fertilidade masculina. A pesquisa revelou que o consumo de maconha reduz significativamente a contagem de espermatozoides e causa alterações no DNA das células reprodutivas.

Segundo o estudo, o THC (tetrahidrocanabinol), principal componente psicoativo da maconha, foi associado as mudanças genéticas importantes no DNA dos espermatozoides. Essas alterações afetam vias regulatórias fundamentais, como aquelas relacionadas ao crescimento fetal e ao desenvolvimento de órgãos, potencialmente interferindo na saúde da prole.

"Essas modificações epigenéticas são preocupantes porque podem ser transmitidas aos descendentes, mesmo que a exposição ao THC tenha ocorrido apenas nos pais", afirmou Susan Murphy, chefe da pesquisa. Ela também recomendou a interrupção do uso de cannabis por pelo menos seis meses antes de planejar uma gravidez, como medida preventiva.

Além das mudanças no DNA, o estudo constatou uma redução na motilidade e viabilidade dos espermatozoides entre os usuários de maconha, comprometendo ainda mais a fertilidade no homem.

Carlini: um alerta à frente do seu tempo

 

As descobertas científicas recentes reforçam as declarações de Carlini, que já apontava a diminuição da taxa de testosterona e a redução da contagem de espermatozoides como consequências do consumo da cannabis. Sua abordagem pioneira e didática ajudou a estabelecer uma base de conhecimento sobre os efeitos do THC no organismo humano, mesmo em um contexto onde os estudos sobre a planta ainda eram limitados.

Apesar de ainda serem necessários estudos mais amplos, as evidências atuais já apontam para um consenso pois, para quem deseja ser pai, fumar maconha não é, de fato, a melhor opção.