Morte de bebê em Rio Preto (SP) levanta suspeitas

Segundo informações, a morte da criança de 8 meses poderia ter sido causada pela ingestão de um derivado da cannabis conhecido como “dry”, contudo, uma queda também foi relatada pelos pais da vítima. O caso segue em segredo de justiça

Publicada em 30/04/2024

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No último dia 19 de abril, São José do Rio Preto, município do interior paulista, foi palco de uma tragédia que abalou a comunidade local. Um bebê de apenas oito meses veio a óbito em circunstâncias que levantaram preocupações e debates acalorados sobre o uso de substâncias derivadas da Cannabis sativa.

Segundo informações iniciais, a criança teria ingerido um composto conhecido como "dry", um derivado da planta cannabis, antes de ser levada às pressas para uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA). Entretanto, a situação se complica com relatos dos pais sobre uma queda que a criança teria sofrido no mesmo dia e uma queimadura no braço causada por óleo.

A Guarda Civil Metropolitana (GCM) local informou que os pais, ele com 20 anos e ela com 17, foram encaminhados à central de flagrantes da cidade para prestar depoimento, mas foram liberados em seguida. O caso está sob investigação e mantido em segredo de justiça, enquanto autoridades aguardam resultados periciais para esclarecer a causa da morte.

 

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O "haxixe dry" é um dos muitos compostos proibidos da cannabis, mas que têm ganhado popularidade, especialmente devido à sua produção caseira e ao alto teor de Tetrahidrocanabinol (THC), o principal componente psicoativo da planta. Imagem: Reprodução

 

O debate sobre o uso medicinal versus o uso recreativo da maconha também foi reacendido por este trágico incidente. Enquanto o uso terapêutico da planta tem sido cada vez mais aceito e regulamentado em diversos países, é crucial diferenciar entre produtos controlados, prescritos por profissionais de saúde, e substâncias recreativas que podem representar riscos à saúde, especialmente das crianças.

“A ingestão de canabinoides (derivados da cannabis) medicinais é uma opção terapêutica reconhecida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). No entanto, é preciso entender as diferenças entre uso adulto de substâncias ilícitas, de compostos fármacos de uso médico”, destaca o neurocirurgião e diretor científico do portal Sechat, Dr. Pedro Pierro, que continua:

“Em geral, remédios à base de cannabis como óleos, cápsulas e até Gummies com maior teor de THC, devem ser produzidos em cores escuras e em figuras geométricas abstratas para não chamar atenção ou despertar interesse de crianças”.

O médico lembra ainda que é importante saber se no caso descrito dessa criança, o composto ingerido pelo bebê foi um fármaco prescrito por um médico de uma marca reconhecida para medicações, isto é, uma “bala de maconha” como foi amplamente divulgado pela mídia, ou um produto ilegal comprado no mercado informal para uso adulto, o que pode conter doses não farmacêuticas e/ou outros componentes.  

“Antes de qualquer alegação ou julgamento, a análise do material e o exame pericial serão fundamentais para o entendimento do caso. Por fim, sempre mantenha medicamentos longe do alcance das crianças”, alerta Pierro.

À medida que as investigações continuam e a comunidade de São José do Rio Preto tenta compreender essa perda, fica evidente a necessidade de políticas públicas mais eficazes para proteger as famílias, especialmente as crianças, dos potenciais perigos associados ao uso inadequado de substâncias tanto lícitas, quanto ilícitas.