O que é Redução de Danos?

A Redução de Danos (RD) é uma estratégia voltada para minimizar os impactos negativos associados ao consumo de substâncias psicoativas, sem exigir abstinência. 

Durante o Carnaval, essa abordagem se torna essencial para garantir segurança, prevenção e bem-estar aos foliões. Segundo a psicóloga e redutora de danos Annie Louise,

"A Redução de Danos é importante porque vai na contramão de práticas conservadoras e proibicionistas, que não têm mostrado resultados ao longo dos anos".

Estas são algumas formas de Redução de Danos no Carnaval:

1. Hidrate-se sempre

O calor intenso e o consumo de bebidas alcoólicas podem levar à desidratação, aumentando os riscos de tonturas, desmaios e ressacas.

"Se hidratar é básico e muito importante, principalmente nas altas temperaturas que a gente tem enfrentado aqui, então se hidratar não só antes, mas durante", reforça Annie.

2. Coma bem

Beber de estômago vazio potencializa os efeitos do álcool, podendo causar mal-estar. Aposte em refeições equilibradas, ricas em carboidratos e proteínas, como frutas, pães, massas, legumes e feijões, para garantir energia durante a festa. 

"Esse equilíbrio, de não ser nem algo muito leve nem algo muito pesado, porque se exige do corpo físico uma disposição, mas sempre se alimentar antes de ir para a festa e de consumir as substâncias", aconselha Annie.

Faça "alimentação leve e nutritiva, para manter a energia e evitar hipoglicemia", recomenda a Dra. Graziella Gobbetti, médica prescritora de cannabis.

3. Faça pausas no consumo de álcool

O exagero no consumo de bebidas alcoólicas pode levar a intoxicação, vômitos e até mesmo desmaios. Para evitar esses problemas, intercale as doses de álcool com água, isotônicos e sucos naturais.

"A Redução de Danos não é matemática, ela depende muito do que a pessoa está acostumada a beber, se ela bebe com frequência, se ela nunca bebe, então não dá para ser uma fórmula única", explica Annie. Por isso, ela enfatiza: "sempre beba líquidos não alcoólicos entre os alcoólicos" e...

4. Evite combinações perigosas

A mistura de álcool com medicamentos, energéticos ou outras substâncias, inclusive cannabis e psicodélicos, pode aumentar os riscos de efeitos adversos. A interação entre substâncias pode causar desde taquicardia e tonturas até intoxicações graves.
 

Segundo a Dra. Graziella,

em pacientes que fazem uso terapêutico de cannabis, 

"a associação da cannabis com a bebida alcoólica causa interferência no tratamento, trazendo a redução de sua eficácia e o aumento de efeitos colaterais".

"Tomar bastante cuidado com a mistura de substâncias", destacou Annie, a psicóloga, e recomendou a tabela a seguir, "que está circulando em todos os grupos de Redução de Danos":
 

5. Proteja-se do sol e do calor

A exposição prolongada ao sol pode causar insolação e desidratação. Use protetor solar, roupas leves, chapéus e procure sombra sempre que possível. Outra opção é levar um leque ou pequenos borrifadores de água para se refrescar.

"Nesse calor que está fazendo aqui, com muito sol, e ao fumar maconha também, talvez, é bom tomar cuidado com pressão baixa", lembra Annie.

6. Tenha uma rede de apoio

Evite estar sozinha em ambientes desconhecidos. Saia sempre com amigos e amigas de confiança e combinem pontos de encontro caso alguém se perca. Também é importante ter um celular carregado para emergências.

"Essa situação envolve muito questões de gênero. Entre as mulheres e pessoas trans, acho importante o cuidado de estar entre pessoas de confiança. Se estiver muito alterada devido ao uso de substâncias, evite ficar sozinha, tente sempre estar pelo menos com mais uma pessoa que consiga ter essa atenção. Isso vale também para o caso de experimentar novas drogas", sugere a redutora de danos.

7. Proteja-se ao fazer relações sexuais

O Carnaval é um período de maior interação social e, muitas vezes, encontros casuais. O uso de preservativos é essencial para evitar infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), como a sífilis, em alta no Brasil, e gestações indesejadas. Informe-se sobre métodos preventivos de HIV/AIDS, como PrEP e PEP, que são disponibilizados pelo SUS. 

Além disso, como lembrou a médica Débora Tavares em entrevista à Sechat em 2024, um "não" é um "não".

8. Se beber, não dirija

Se beber, escolha transportes por aplicativo, transporte público ou caronas seguras. Se precisar descansar antes de ir para casa, procure locais seguros.

9. Cuidado com bebidas e alimentos

Nunca aceite bebidas ou alimentos de desconhecidos, pois há o risco de substâncias serem adicionadas sem seu consentimento. Se estiver em bares ou festas, acompanhe a preparação das bebidas e mantenha seu copo sempre sob vigilância.

Evite ingerir alimentos ou bebidas com má higiene ou expostos há muito tempo sob calor e sol, pois há o risco de contrair a gastroenterite, como lembrou o canal de divulgação científica Olá, Ciência! Popularmente conhecida como "virose" ou "intoxicação alimentar", os casos de gastroenterite são mais frequentes no Carnaval e causam diarreia, vômito, dor de cabeça e até febre. Lave sempre as mãos com água limpa ou com álcool gel 70%.

10. Use repelente

O Olá, Ciência! também apontou que doenças causadas por mosquito se espalham mais no Carnaval. A dengue, o zikavirus, a chikungunya e a oropouche são transmitidas por mosquitos que se favorecem deste período abundante de chuvas e calor.

Para evitá-las, use repelentes autorizados pela ANVISA e não jogue lixo no chão, já que, além de poluir o meio ambiente, acumula água, servindo para as fêmeas dos mosquitos botarem seus ovos.

Vale lembrar que o Brasil é o primeiro país a ter vacina contra a dengue no sistema público de saúde. Ela está disponível no SUS para crianças e adolescentes de 10 a 14 anos.

11. Considere usar máscaras

Não apenas as máscaras de Carnaval, na folia. No transporte público, por exemplo, considere usar as máscaras que previnem infecções respiratórias, como gripe e COVID-19, pois esse tipo de infecção também aumenta muito nesta época do ano, ainda segundo os divulgadores científicos.

12. Evite compartilhar copos e garrafas

A mononucleose, a Doença do Beijo, é outra que se prolifera no Carnaval e foi lembrada pelo canal de divulgação científica. Espalhada pela saliva, ela pode ser transmitida ao compartilhar copos, garrafas, talheres, escovas e cigarros.

12. Não dê bobeira com o celular

Em locais conhecidos por terem muitos roubos de celular, evite se distrair mexendo nele na rua. Perder o celular no Carnaval, ao cair do bolso ou da bolsa, por exemplo, também é muito comum. Cuide dele com cuidado.

Em caso de roubo ou furto de celular, bloqueie o uso do aparelho por meio do programa Celular Seguro, do Governo Federal.

13. Conheça seus limites

Cada organismo reage de forma diferente ao consumo de substâncias. Se sentir qualquer efeito adverso, como tontura ou enjoo, pare imediatamente e procure um local tranquilo para descansar.

Ainda, se você estiver com sintomas de doenças contagiosas, evite aglomerações, espaços mal ventilados e compartilhamento de copos, garrafas e cigarros.

14. Se for usar psicodélicos, analise o contexto

"Os psicodélicos são potentes, poderosos, então é bom observar se realmente no meio de multidão é interessante usar", avisa Annie. Caso pretenda usar psicodélicos, considere se a fonte da substância é conhecida e confiável, pois a pureza e a potência dessas substâncias podem variar imprevisivelmente. 

Observe, ainda, se suas companhias são confiáveis e se o local soa tranquilo ou potencialmente perturbador. Por fim, a redutora de danos sugere "em todas as drogas, começar sempre com doses baixas e se atentar a como o corpo está naquele dia".

15. Saiba onde buscar ajuda

Em casos de emergência, procure serviços de saúde pública, como UPAs e hospitais. Muitos eventos de Carnaval também oferecem tendas de apoio com profissionais de saúde preparados para prestar assistência.

Seguir estratégias de Redução de Danos garante uma experiência segura, divertida e sem consequências indesejadas. Aproveite a festa com consciência, cuide de si e dos outros!