Superar para nadar: Thiago vence crises convulsivas e cirurgias para continuar nas piscinas

O atleta paralímpico transformou desafios em conquistas e segue quebrando recordes pessoais após anos de luta pela estabilidade

Publicada em 16/10/2025

Superar para nadar: Thiago vence crises convulsivas e cirurgias para continuar nas piscinas

Thiago Coli de Aguiar, 23 anos, atleta de natação de piscina e águas abertas em Florianópolis (SC). Imagem: Reprodução do Instagram

Para Thiago Coli de Aguiar, 23 anos, atleta de natação de piscina e águas abertas em Florianópolis (SC), a água sempre representou liberdade. Nascido com mielomeningocele, uma má formação na medula, sua jornada foi marcada por superações, e o esporte, que começou como fisioterapia, virou sua paixão e profissão na natação paralímpica.

No entanto, um desafio inesperado surgiu em 2020, quando Thiago teve sua primeira crise convulsiva aos 17 anos, um problema sem diagnóstico claro e que abalou sua rotina como atleta. A solução veio em 2021, quando o tratamento com cannabis medicinal se tornou o ponto de virada para controlar os episódios e impulsionar sua carreira.

 

Um desafio fora das águas

 

A crise inaugural ocorreu, logo na primeira semana de pandemia, de forma abrupta no vestiário, após um treino. "Enquanto tomava uma ducha', percebi algo estranho. A água estava muito quente, tentei avisar meu pai que estava comigo, mas não consegui falar nada", relata. "Vi tudo ficando escuro e acordei já deitado no banco com algumas pessoas em volta de mim. Foi um choque quando entendi que era uma crise convulsiva."

Após o susto, a busca por um tratamento eficaz começou. Contudo, o primeiro remédio convencional não surtiu efeito, e as crises continuaram constantes, intensas e incontroláveis. Até que, mais de um ano depois, por indicação, Thiago iniciou um novo capítulo em sua saúde com o óleo de cannabis medicinal. O resultado, segundo ele, foi transformador e devolveu a estabilidade que precisava.

"Até acertar o óleo, a dosagem, demorou um pouco, mas, graças a Deus estabilizou. Diminuiu bastante as crises convulsivas. O resultado foi muito relevante", comenta o atleta, que há um bom tempo não sofre com os episódios.  

Os benefícios foram além do controle das convulsões. "Notei uma melhora não só na convulsão, mas também no relaxamento e na recuperação muscular pós-treino. Além claro, de dormir e me alimentar melhor", explica Thiago, que também utiliza uma pomada de cannabis para dores intensas.

A melhora de Thiago encontra respaldo em pesquisas recentes. Um estudo da USP, publicado na Acta Epileptologica, revelou que o canabidiol (CBD) reduziu em 41% as crises em pacientes com epilepsia de difícil controle. Outra análise, no Therapeutic Advances in Neurological Disorders, concluiu que o CBD reduziu significativamente a frequência das convulsões em comparação com placebo.

Acompanhe a fala do médico Laerte Rodrigues Junior sobre como a cannabis pode auxiliar pacientes que sofre com crises convulsivas: 

 

 

Resiliência é a chave para o sucesso

 

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Costas de Thiago Coli de Aguiar antes da cirurgia em 2018. Imagem: Arquivo pessoal

Muito antes das crises convulsivas, Thiago já lutava para se manter praticando o esporte que ama. Em 2018, passou por uma cirurgia invasiva. Na época, convivendo com uma escoliose de 75 graus, além de lordose e cifose, precisou colocar duas hastes e 17 pinos na coluna.

As complicações voltaram em fevereiro de 2024, quando realizou uma nova cirurgia – desta vez mais tranquila –, para colocar mais três pinos e ajustar outros três que estavam fora do lugar. Desta vez, a espera para retornar às competições não foi muita, no fim do ano estava de volta aos treinos. 

Em junho de 2025, já estava conquistando recordes pessoais. No Circuito Nacional, alcançou suas melhores marcas, terminando em 7º lugar nos 50m costas e em 6º nos 200m livre. Os resultados o mantém na elite da natação paralímpica brasileira, com o objetivo de competir no campeonato nacional.

Hoje, graduado e com pós em design gráfico, Thiago planeja o futuro sem deixar sua essência de lado. "Amo treinar, competir e viajar. Enquanto eu puder, quero continuar no meio da natação, independente de onde eu vá chegar", finaliza o atleta.