<strong>O cenário da América Latina na indústria da cannabis</strong>

Hoje, mais de 100 mil pacientes são atendidos pelas cerca de 100 associações que existem em território nacional

Publicada em 11/05/2023

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Por Thaís Castilho

A grandeza da cadeia produtiva da cannabis é proporcional à quantidade de produtos que se pode derivar dela. Da semente ao produto final, são milhares de negócios que precisam de organização, estratégia, regulamentação e certificação para cumprir as regras que a indústria exige.

A LAIHA - Latin America Industry Hemp Association (Associação Latino Americana de Indústria do Cânhamo) que reúne 12 países da América Latina, constatou que cada país tem uma relação diferente com a cadeia produtiva da cannabis. 

“A regulamentação se molda ao objetivo de cada nação em participar da indústria. A lei da Colômbia, por exemplo, foca na saúde, a lei do Paraguai na luta contra o crime organizado. Posso ver no Brasil que há muito interesse no segmento medicinal, mas não vejo insumos para alimentar esse mercado. Por isso, quando uma motivação para o desenvolvimento se apresenta, deve-se pensar na formatação do mercado desde o início do processo”, pontua Karen Coronado, empresária e economista estratégica com experiência na indústria da Cannabis na América Latina.

O associativismo já é parte da indústria

“Eu como farmacêutica do terceiro, pois atuo dentro de uma associação, posso dizer que as associações vieram pra ficar, fazemos parte desse mercado há muito tempo”, defende Claudete Oliveira, farmacêutica da Apepi (Associação de apoio à pesquisa e a pacientes de cannabis medicinal). 

Atuando no cenário da cannabis medicinal do Brasil desde 2014, as associações de cannabis terapêutica compõem o ecossistema canábico desde que essa pauta começou a circular pelo Brasil.

Hoje, mais de 100 mil pacientes são atendidos pelas cerca de 100 associações que existem em território nacional. Deste total, cerca de dez delas têm proteção judicial, os chamados habeas corpus, para poder cultivar e produzir os remédios à base de cannabis. A maior parte continua praticando a desobediência civil para oferecer o tratamento completo, incluindo o fornecimento dos produtos.

Vale um olhar atento por parte dos órgãos regulatórios, como a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e, principalmente, da esfera legislativa na forma como o terceiro setor opera, para que sejam criadas condições condizentes com a realidade desses coletivos, que são sem fins lucrativos e que atendem uma demanda considerável da sociedade de forma gratuita.

O terceiro setor gera renda, emprego e apresenta uma cadeia produtiva já estruturada, pois perpassa pelo cultivo, desenvolvimento de produtos, atendimento e cuidado ao paciente. Além de incentivar e promover a pesquisa junto às universidades em todas etapas da indústria, como: melhoramento genético, técnicas de cultivo, criação de produtos, possibilidades de aplicação terapêutica, além de serem um banco de dados muito rico dos resultados clínicos dos pacientes.

“As associações devem receber atenção como um patrimônio do país, pois sua atuação é absolutamente relevante. Estamos aqui, neste Congresso, debatendo uma única planta e suas possibilidades. Está na hora de o governo encarar essa realidade e apoiar projetos de pesquisa para ampliarmos os resultados, temos ideias, pessoas interessadas e uma indústria gigante para ser explorada”, reforça Claudete.

Uma vez que o país priorize o desenvolvimento da indústria da cannabis, que vai muito além do medicinal, é preciso criar condições de proteger e fortalecer essa economia.

“O governo da Colômbia criou possibilidades para o desenvolvimento do país controlando e protegendo os agentes que compõem a indústria como uma medida institucional. As empresas e associações se inscrevem em programas e geram a demanda, o governo entende essa demanda e oferece recursos para que a gente desenvolva nossos projetos, seja com linhas de empréstimos a baixo juros ou outras medidas de fomento”, conta Karen Coronado.