Uso agroindustrial da cannabis pode ser uma oportunidade diante da crise

Derivados da planta, como o cânhamo, podem contribuir para a estabilidade financeira do país

Publicada em 26/08/2022

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Por Sofia Missiato

Abrir caminhos para acelerar o andamento das discussões em torno da legalização da cannabis e seus derivados é uma enorme oportunidade para que a crise econômica do país seja sanada com o fortalecimento ao setor agroindustrial para a produção e comercialização de derivados da planta como o cânhamo. Atualmente,  México, Paraguai, Colômbia e Costa Rica dão passos largos nesse sentido, servindo como exemplo a outros países latino-americanos.

Uma grande oportunidade surge se a questão avançar em termos de regulamentação legal. Embora esteja em discussão há anos, o uso do canabidiol parece ver a luz no fim do túnel, com  o Projeto de Lei 399 de 2015 para regulamentar a utilização medicinal e industrial da cannabis.

Se a produção fosse legalizada, a venda dos derivados do cânhamo industrial poderia movimentar R$ 4,9 bilhões no país e gerar R$ 330,1 milhões de impostos estaduais e ainda, caso a produção de sementes seja legalizada, o custo seria de R$ 6,82 mil por hectare. 

Os líderes mundiais nesta indústria são os Estados Unidos, Canadá e China. Estima-se que, em três anos, a produção global alcance US $42,7 bilhões, gerando centenas de milhares de empregos e lucros extraordinários para empresas e produtores do setor.

A indústria da cannabis e do cânhamo não se dedica apenas a produtos medicinais e fisioterapêuticos. Há um importante setor dedicado à pesquisa que pode trabalhar no melhoramento de plantas e sementes e ter um papel fundamental para a indústria exportadora. O desenvolvimento desta indústria, que é uma variedade específica com baixa concentração de THC não psicoativo, é a promoção de sua utilização como insumo para diversos setores produtivos, fibras têxteis, vestuário e calçados, cosméticos, materiais de construção e papel. Esse recurso implicaria em um duplo benefício. Por um lado, econômico e, por outro, ambiental, substituindo produtos com alto nível de contaminação, como derivados de petróleo, por um recurso agrícola renovável e sustentável.

(Imagem: Arquivo Pessoal/Lorenzo Rolim)

Lorenzo Rolim, colunista do Sechat e diretor da LAIHA (Associação Latino-Americana de Cânhamo), acredita que várias indústrias de base podem se beneficiar e criar processos e produtos mais sustentáveis a partir da matéria-prima de cânhamo, o que significa estarem mais alinhadas com a tendência global atual em que empresas buscam atingir os objetivos de ESG. 

O empresário também ressalta que até a existência de  uma normativa clara e bem definida no território brasileiro e internacionalmente, os avanços irão seguir por conta das legislações de cada país. "Cada uma com suas particularidades e peculiaridades que impedem a criação de uma indústria internacional integrada e forte”, destaca ele. 

Visando contribuir com uma maior harmonização das regras internacionais foi criada a FIHO (Federation of International Hemp Organizations) da qual a LAIHA é membro fundador.’ Para realizar a interlocução entre países, câmaras de comércio e organismos internacionais, a federação permite um avanço mais fluido da indústria e um maior desenvolvimento econômico dos agentes envolvidos.