Cadela com doença autoimune é tratada na UFSC com óleo de cannabis

A pesquisa, conduzida por médicos veterinários da instituição de ensino público, conquista publicação em plataforma referência em saúde

Publicada em 19/02/2024

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A Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) tem se destacado novamente no campo da medicina veterinária com uma pesquisa inovadora que oferece esperança para animais que sofrem de doenças autoimunes. Liderados pelo médico veterinário e professor Erik Amazonas, juntamente com a equipe da Clínica Veterinária Escola (CVE) da instituição de ensino, um estudo publicado na revista científica Frontiers revelou resultados promissores no tratamento do Lúpus Eritematoso Discoide (LED) em cães, utilizando óleo de cannabis medicinal da Associação Alternativa. 

 

O LED é uma condição desafiadora e muitas vezes debilitante para os cães, causando lesões na pele e demandando tratamentos prolongados que podem resultar em efeitos colaterais adversos.  

 

O relato de caso apresenta Luna, uma cadela de 5 anos diagnosticada com a doença que não respondia adequadamente aos tratamentos convencionais. “Ela engordou muito, estava sempre nervosa, não brincava e ficava irritada quando o irmão ia interagir com ela. Sabíamos que não estava bem porque nesses momentos ela arrepiava o pelo e se sentia desconfortável”, lembra a tutora Clarice Elisabete Antunes.

 

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Luna e sua tutora Clarice (Foto: Arquivo pessoal)

  

 

Erik Amazonas e sua equipe, cientes das limitações dos tratamentos convencionais, decidiram explorar o potencial terapêutico dos canabinoides na esperança de encontrar uma solução mais eficaz e com menos efeitos colaterais para seus pacientes caninos. 

 

Sob a supervisão da médica-veterinária Marcy Lancia Pereira, Luna recebeu uma dose cuidadosamente ajustada de óleo de cannabis ao longo de um ano. Os resultados do tratamento foram surpreendentes. O cão experimentou uma redução drástica nas lesões cutâneas, ganho de peso saudável e uma melhoria geral em seu bem-estar emocional. 

 

A responsável por Luna procurou a CVE/UFSC em busca de uma terapia eficaz e com o menor nível de efeitos adversos possível, o que levou a médica veterinária responsável pelo acompanhamento clínico a sugerir tratamento à base de canabinoides 

 

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Imagens de Luna após alguns meses de tratamento com cannabis

 

Marcy e Erik iniciaram a terapia com óleo de cannabis em maio de 2022, com dosagem ajustada gradualmente até encontrar a dose mínima eficaz, que segue de forma contínua até hoje, visto se tratar de uma doença incurável.  

 

"É muito gratificante e reconfortante saber que temos produtos nacionais a pronta disposição para nossa rotina com flexibilidade terapêutica muitas vezes acima dos produtos importados", destaca Amazonas. 

 

Sandro Pozza, fundador e presidente da Associação Alternativa de Apoio à Cannabis Medicinal do Brasil que forneceu o óleo para o tratamento, afirma que: "O reconhecimento da publicação do relato de caso de um tratamento bem-sucedido com óleo de cannabis na conceituada revista Frontiers é um marco significativo, pois evidencia a importância e eficácia da cannabis medicinal no tratamento de diversas doenças, contribuindo para a disseminação de informações embasadas em evidências científicas e para a legitimação do seu uso terapêutico."  

 

Hoje, com quase 2 anos de tratamento, o cão permanece clinicamente estável com uma baixa dose de óleo rico em Canabidiol. Não houve evidência de recorrência do LED e suas lesões regrediram completamente.  

 

O sucesso deste estudo destaca o potencial terapêutico da cannabis medicinal na medicina veterinária e sublinha a importância de mais pesquisas nesse campo emergente. No entanto, Erik Amazonas enfatiza os desafios enfrentados no Brasil, incluindo a falta de acesso a esses compostos terapêuticos e o financiamento insuficiente para pesquisa científica. 

 

"Além da falta de domínio técnico pelos profissionais, há um imenso entrave quanto à acessibilidade destes compostos para a população brasileira. Somos profundamente gratos pelo trabalho e apoio das associações em imediatamente preencher esse abismo com as constantes doações de fitoterápicos", conclui.   

 

Apesar dos obstáculos, este estudo oferece uma luz de esperança para os proprietários de animais de estimação que lutam contra condições médicas complexas, ao mesmo tempo em que destaca a necessidade de mais investimentos e apoio na pesquisa de terapias alternativas e complementares para o tratamento de doenças em animais.