Cogumelos psicodélicos podem ajudar na luta contra o vício, sugere nova revisão de estudos

Estudos mostram que psilocibina pode ajudar no tratamento da dependência de álcool, tabaco e outras substâncias

Publicada em 23/05/2025

Cogumelos psicodélicos podem ajudar na luta contra o vício, sugere nova revisão de estudos

Terapia com psilocibina oferece nova esperança para quem enfrenta dependência química | Imagem: CanvaPro

No enfrentamento silencioso e diário contra a dependência de álcool, tabaco e outras substâncias, a ciência está abrindo caminhos cada vez mais ousados, e porque não, esperançosos. Uma nova revisão científica publicada no periódico Neuroscience & Biobehavioral Reviews reforça o potencial da psilocibina, um composto psicodélico presente em cogumelos, como aliada na recuperação de pessoas com transtornos por uso de substâncias (TUS).


O estudo reuniu evidências de 16 pesquisas conduzidas ao redor do mundo, revelando que a chamada terapia assistida por psilocibina (PAP) tem produzido resultados promissores: reduções significativas no consumo de álcool, altas taxas de cessação do tabagismo e impactos positivos na saúde mental dos pacientes.


Segundo os autores, a maioria dos estudos analisados foi observacional ou de desenho aberto, o que reforça a necessidade de mais ensaios clínicos controlados e robustos. Ainda assim, os resultados já observados animam a comunidade científica.


Em participantes com transtorno por uso de álcool, a psilocibina associada à psicoterapia reduziu episódios de consumo excessivo e elevou os índices de abstinência. Exames de neuroimagem também apontaram uma possível normalização da atividade cerebral, algo que ajuda a compreender os efeitos mais profundos dessa abordagem.


No caso do tabagismo, os números também impressionam: altas taxas de cessação foram registradas, especialmente entre participantes que relataram experiências subjetivas intensas, muitas vezes descritas como “místicas”. Esses momentos, segundo os pesquisadores, parecem estar ligados à mudança de perspectiva sobre a vida, os hábitos e o próprio vício.


Apesar de os dados sobre outras substâncias, como opioides e metanfetamina, ainda serem considerados mistos, os indícios apontam para um caminho promissor. O estudo destaca que a psilocibina foi geralmente bem tolerada pelos participantes, e quando integrada à psicoterapia, mostrou impacto real na redução do uso de substâncias.


“Nosso objetivo foi oferecer uma compreensão mais clara e atualizada sobre o potencial terapêutico da psilocibina para diferentes tipos de transtornos por uso de substâncias”, explicam os autores, que representam instituições de prestígio como o Hospital St. Michael (Canadá), a Universidade de Nova York, o Imperial College London e as universidades da Austrália e Holanda.


Esse movimento científico vem acompanhado de investimentos. Somente nos Estados Unidos, os Institutos Nacionais de Saúde (NIH) anunciaram, entre 2023 e 2024, mais de US$ 3,9 milhões em financiamentos para pesquisas com psicodélicos, voltadas ao tratamento da dependência química, um reflexo direto do aumento alarmante de mortes por overdose nos últimos anos.


Em janeiro deste ano, uma prévia publicada na revista The Lancet mostrou resultados positivos com o uso da psilocibina para tratar o transtorno por uso de metanfetamina. Participantes relataram queda no desejo pela droga e melhoras significativas em qualidade de vida, depressão, ansiedade e estresse.


Outro estudo de 2022, citado pelo Centro Nacional de Saúde Complementar e Integrativa (NCCIH), vinculado ao NIH, apontou que a psilocibina pode ser útil na redução de episódios de consumo excessivo de álcool em pacientes acompanhados por 32 semanas.


Vale lembrar que, embora a psilocibina ainda seja classificada como substância controlada de Tabela I nos EUA, o que restringe seu uso legal, cresce o número de pesquisas que evidenciam seu potencial terapêutico, especialmente quando aliada à condução clínica adequada.


Além dos psicodélicos, estudos anteriores já sinalizavam o papel do canabidiol (CBD) no tratamento de dependência de substâncias como cocaína, anfetamina e opioides, ampliando o espectro de possibilidades terapêuticas dentro de uma abordagem mais integrativa e menos punitiva à saúde mental.


A ciência, mais uma vez, se mostra capaz de oferecer caminhos antes impensáveis. E para quem trava uma batalha diária contra a dependência, essas descobertas podem ser mais do que promissoras, podem ser transformadoras.
 

Com informações de Marijuana Moment.